Archive for the 'leveza do ser' Category

Medo?

O suor escorre mesmo nessa baixa temperatura. Como se a febre consumisse tudo o que vai em mim. As drogas consentidas que rolam no meu sangue. Sangue inócuo, apagado, frágil. A mulher atravessa a rua e eu observo apesar da neve. Bela e fugidia. A neve não me incomoda mais. A mulher segue em frente num passo apressado de quem não quer se molhar, de quem tem frio, de quem tem medo. Medo. Medo. Minha gente tem medo, minha gente corre com medo mesmo sem saber exatamente de quê ou exatamente porque acredita saber em quê.

K.rocodilo

Mítiga noite. Eu e você e a história misteriosa da parada no tempo. Não sei bem como acabou por acontecer, mas aconteceu. Duas paredes. Dois quadros iguais em duas paredes diferentes de localidades diferentes. Como pode? Claro que não sei. Os calendários até mudam, mas nós estamos no mesmo lugar, no mesmo ponto de um nada tão profundo e tão cheio de “tudos” e, ainda assim, eu não me espanto.

Verdade que minha caverna ficou mais escura ou mais profunda (questão de ponto de vista), mas a xícara está ali. Meu liquidificador ficou mais silencioso, mas continua “liquidificando“. A vida vai passando como esse rio magro, com essa água ora barrenta, ora límpida. Como o crocodilo, posso estar submerso, com olhos na tona. Olhos sempre voltados para dentro porque é em mim que tudo está guardado. Como um caracol de Java. Um caracol marcado à ferro e fogo pelas noites de sedução dessa menina. Esse cativar infindo, essa certeza absoluta. Olha que me dar certeza absoluta não é mole não.

Pensando bem, não são dois quadros iguais. São dois quadros que se completam porque assim foi e assim será. E ainda assim é a Incompletude***, esse estado pleno, que transborda, que chove, que perdura para nos esvairmos como uma veia da américa latina.

Porque o tempo passa e nada muda. Jamais.

Pensando alto

O conhecido me pergunta porque deixei o blog de lado. Por um momento pensei em contar-lhe a verdade, mas deu para me conter à tempo e fazer cara de árvore. Finalmente (nessa terceira idade) aprendi a me conter, controlar minha língua em muitas situações (o que me dá uma sobrevida (linda palavra) menos conturbada). Angústia é o que me passa, o que se passa e os motivos são igualmente variados e únicos. De brincadeira fala-se de uma certa excentricidade, mas é só mesmo brincadeira. Muitas vezes percebo que a coisa é muito mais séria (outro problema se apresenta: não tenho mais nenhuma paciência com problemas, com situações difíceis, etc, etc).

Os livros estão ali, naquela quina de parede vermelha. É uma pilha razoável de autores interessantes. Falta tempo, falta o hoje, falta a capacidade desses olhos cansados buscarem luz e lentes para decifrar letras, umas colocadas atrás das outras, nessa esperança de recriar o universo, de recriar você, de recriar-me, por fim.  Ou somos a criação do que está ali, naquela pilha? Sei que tudo pode ou tudo “dá”, mas falta algo, alguma coisa parecida com a ânima universal ou coisa parecida. Tem a necessidade de produzir alguma coisa rapidamente já que o tempo entrou em desabalada correria no enfraquecimento da emoção. E me desfaço, me assusto e me refaço outro, diferente, incomparável com o ontem… com os sonhos e as letras desse mistério,  principalmente esse ‘ontem mais distante’…

Tempo, tempo, tempo, tempo…

Não. Que eu saiba não morri ainda. Ando mesmo enrolado com determinados estudos que resolvi fazer mais à fundo. Diante disso, deixei muitas e muitas coisas de lado e uma dessas coisas mais caras a mim é esse convívio aqui com meus três leitores. Mas é a tal coisa: eu até me acho o Super Homem, mas a verdade é que não sou (e nem de longe). Ou seja, me viro para um lado e fico, momentaneamente, de costas para o outro. Onde estou enfiado? Ainda é cedo para dizer (aliás acho mesmo que não direi nunca). Afinal, todos nós temos nossas particularidades e para isso existem os cadernos e blocos manuscritos, não é? Mas não sumi, não morri, não evaporei nem caí em desgraça (imagino eu rsrs). É o tal do bendito tempo, tempo esse que me irrita e eu o irrito questionando-o sempre. Me lembra uma noveleta que escrevi para a televisão em 1985 sobre um determinado homem que, ao entrar numa cidade causava o estrago (ou a virtude!): TODOS OS RELÓGIOS  deixavam de funcionar. Não sei como terminei essa trama. Talvez Flávio Migliaccio ainda se lembre – se é que ainda se lembra de mim. Vou em frente.

Eternamente abril

Entre idas e vindas e o ar fino iniando a esfriar abril começo a me debater entre isso e aquilo, possibilidade X ou Y, vontade e volúpia entre folhas secas e amarelas que já começam a cair para gáudio dos garis. Alegria também dos velhos, dos muito jovens, dos apaixonados… de todos. A percepção de ar fino, aprendi com Vinícius. Estar vivo é continuar a ter sensações, impressões, sentimentos e náusea, mas também de alegria, felicidade…. é, acredito, ser e estar pleno. E claro que nem sempre estamos assim. O que resta é caminhar à tardinha pela Lapa ou o Leblon, mesmo com uma chuvinha fraca, mesmo com a ignara à espreita, dentes negros e vampirescos, com seus eternos golpelhos à sorrelfa. Enquanto isso…

As Cores De Abril

Composição: Vinicius de Moraes / Toquinho

As cores de abril
Os ares de anil
O mundo se abriu em flor
E pássaros mil
Nas flores de abril
Voando e fazendo amor

O canto gentil
De quem bem te viu
Num pranto desolador
Não chora, me ouviu
Que as cores de abril
Não querem saber de dor

Olha quanta beleza
Tudo é pura visão
E a natureza transforma a vida em canção

Sou eu, o poeta, quem diz
Vai e canta, meu irmão
Ser feliz é viver morto de paixão

As coisas que escrevemos para nós – Virgínia Wolf

Não sei se Paul Auster escreve seus romances à mão, manuscritos. Creio que sim. Josué Montello faziea igual para não acordar a esposa de madrugada (Josué não dormia e por isso tem mais de 150 romances). Também não sei se li essa história do Paul Auster contada por um dos seus personagens ( que escrevia em papel quadriculado) – Afinal, Paul Auster é a maior mistério dos séculos XX e XXI.

Isso é apenas mais ou menos uma explicação da minha passagem breve por esse sítio. Ao longo da História, homens e mulheres fizeram suas narrativas manuscritas (em forma de diários e etc,) Conheci os blogs em 2000 ou 2001, apresentado por uma grande amiga. E resolvi fazer. Evidente que o conteúdo de cada post é igualmente manuscrito com um texto mais “politicamente incorreto” e MAIS VERDADEIRO colocando as coisas em seus devidos lugares. E criou-se o hábito de me responderem por e.mails e não na parte destinada a comentários. Por que? Porque há poucos anos descobri uma mulher baderneira que fez horrores (até mesmo espalhando na net que ela havia morrido). Não pretendo de maneira nenhuma ser crítico, agressivo ou mentiroso. Simplesmente quero deixar “a vida me levar”

Flores ou Asfalto

Vez ou outra acabo esbarrando com alguém na rua que se apressa em me perguntar o que estou fazendo. Essas perguntas trazem, misturadas, curiosidade e, eventualmente, um tico de saudade (ou de prazer em me ver longe). Isso não importa muito nessa altura dos acontecimentos. Pessoas, tais como baterias pouco recarregáveis, têm um tempo para cada coisa (mesmo que em alguns momentos fiquem sem tempo para dar conta de tudo). Certo ou errado, acredito que chega uma hora em que a gente tem que parar, ver o que acontece em volta, que rumo as coisas estão tomando, como estamos de saúde, como estão os nossos, assim como lembrar dos que se foram.

Ao final de dezenas e dezenas de anos dedicados quase que  exclusivamente ao trabalho, é o momento de nos perguntarmos se queremos isso indefinidamente, se como bons atores, desejamos morrer num palco ou se não é oportuno cuidar das feridas, ler uma coisa ou outra, velejar em mares diferentes, etc. Acho que sim, que é isso. Claro, o mais importante é tratarmos as feridas, as doenças, os achaques da velhice e depois permitirmos-nos um pouco de paz e de apreciação do belo. Eis a chave de tudo: a alma em paz com as missões cumpridas e dar oportunidade ao belo. Quem morre sem conhecer a beleza da vida, não viveu. Quem, no final das contas, guarda ódio se afogará na bílis (ou bile, se preferir). Eu prefiro caminhar à beira mar, perceber as flores, as corujas… prefiro que me esqueçam.

 

Conversa fiada

Dia desses me perguntaram se eu tinha hábitos diurnos ou noturnos. Não consegui responder. Como vou saber uma coisa dessas. Existem momentos noturnos e períodos diurnos. Se eu for a um cinema, por exemplo, prefiro a tarde do que a noite. Se for brindar alguma coisa com amigos, prefiro a noite. Para escrever e ler, prefiro a manhã. Enfim, não sei mesmo se sou da noite ou do dia, mas acho que sou muito mais “diurno”. Durante o dia as coisas me parecem mais palpáveis – não exactamente pela iluminação do sol, mas por questões mais  ou menos psicológicas (essas “coisas psicológicas” são tactéis, não se iludam).

Tudo se desintegra no ar, todas as coisas são tão efêmeras que estão contidas, encapsuladas no “ACIDENTE VIDA”. Se aconteceu com você, quem ri por último é o espermatozóide que perdeu a corrida.

Durante a conversa (tolinha, reconheço) falei que durmo de dia e durmo pouco à noite. à noite também como mais, fumo muito mais, faço quase tudo demais!

Porque ser vivo é tornar-se imediatamente Sísifo para a eternidade. A diferença com o passar desse tal tempo é que as pedras vão tornando-se mais e mais pesadas.

E, como não poderia faltar, ele me pergunta sobre o suicídio. Qualquer conversa um pouquinho diferente termina sempre no bendito suicídio.  Ele me pergunta se eu tenho vontade de me suicidar. CLARO QUE NÃO! O suicídio é um cartucho final numa guerra onde todas as batalhas foram perdidas. Me despeço desse conhecido e vou para casa ler “Figuras e Coisas do Carnaval Carioca” dessa pessoa deliciosa que foi Jota Efegê.

As tardes….

Esse título: “A Insustentável Leveza do Ser” criado por Milan Kundera encerra nele próprio uma quantidade tamanha de verdades e emoções que nem sei se o próprio autor se deu conta quando o criou. Porque toda a filosofia, toda a psicologia, toda a teologia nos levam a esse mesmo ponto, a essa mesma frase. Como é insustentável viver com leveza. O que acontece é que muita, mas muita gente mesmo, percebendo que é impossível viver assim, muda, tem a capacidade de mudar e ajustar-se a um certo padrão.. digamos “menos leve”… Pessoas que se adaptam à situação de risco, de estresse, de limite. Quem não tem essa capacidade fica penando os pecados do mundo, vai sofrendo isso e aquilo, ora mais fragilizado, ora menos… dependendo dos atores à sua volta. Porque essa é a questão essencial da vida (ou isso que assim chamamos). Hoje mesmo uma grande amiga veio me visitar e acabamos falando de vida e morte, de tranquilidade ou medo da morte. Na verdade, acredito, são faces da mesma moeda, viver ou morrer é absolutamente irrelevante do ponto de vista espacial e temporal. Afinal, o que é um metro, o que é uma hora? Pior: o que é a metafísica? Não, não estou falando no sentido prático da palavra, isso qualquer filólogo explica… eu falo de uma outra coisa, falo de certas comparações especiais que, para fazê-las é necessário um distanciamento tão grande, como pular num reino abissal, que prefere-se continuar levando a vidinha. Assim se passa uma tarde… discutindo o tempo de vida…. E, se entendermos que o tempo não existe, falta muito pouco para pensarmos que a vida não existe (ou talvez não dessa forma espacial, temporal) , ou melhor, existe, mas é absolutamente irrelevante. (continua)

If

Engraçado…. tava aqui lendo…. como tudo começou? Onde? Por que? Não sei mais… Depois vieram as intermináveis conversas…. depois uma certa “atração”… é esse o nome? Não tenho certeza…. Depois a paixão em comum:a literatura…. Mas é só isso? Não… o que é? Eu sei exatamente o que é (além de muitos gostos em comum), mas não sei descrever… não sei falar… Paquera? Não. Ciúme? Não. Aposta de quem desiste primeiro? Tenho primazia porque sou infinitamente mais velho, poderia ser seu pai (com certeza um libidinoso pai)… Mas também não é nada disso… Quanto mais escrevo, mais confundo e mais afasto a verdade. E qual é? Já disse, não sei dizer. Ontem? Não. Amanhã? Possivelmente não também. Um dia? Pode ser, mas não creio muito…

Por fim, o que é? E, novamente, por fim, me convenço de que tudo é examente porque não é…. é um delírio febril e inocente, uma expectativa em torno do sim e do não,de viver ou morrer…

Do tudo ou nada…. De acreditar, sentir e ter sem que nada disso, de fato, aconteça… de ser gêmeo siamês no descontrole, no desequilíbrio sutil de uma estranha leveza de não ser…

E as redes de proteção? 2009 e o tempo

Ok, parece que a vida venceu, o tempo passou e termina 2008. Não creio que tenha sido um ano muito bom para mim (se é que devo insistir em considerar o ano, essa medida de tempo tão idiota quanto o relógio). Primeiro pensei em fazer uma pequena retrospectiva, falando de bons e maus momentos, mas parece besteira, não deve interessar a ninguém – e nem a mim mesmo! Passagem de ano é parecido com data de aniversário, um momento irrelevante, uma festa tolinha, jeka e inútil. Não posso me furtar a voltar ao assunto: minha mãe fez aniversário no dia 10 e morreu no dia 17… sete dias após. E qual a diferença em falar que ela morreu com a idade (que vivenciou sete dias) ou com a anterior? nenhuma. Se eu morresse em 2008 ou em 2009, igualmente será irrelevante.

Meus três leitores sabem muito bem a implicância que eu tenho com o tempo, com as marcações do tempo e tudo o mais. Acho tudo isso uma babaquice ímpar. Nunca fiquei bebendo qualquer coisa à zero hora. Nunca dei pulinhos nas ondas nem acendi velas nem joguei flores no mar. O custo dessas flores, por exemplo, paga um prato de comida para um pobre esfomeado… Fé é um nome esnobe para crendices populares. Por que deve-se adorar mais a deus do que a um duende? Alguém já viu qualquer um dos dois? Bom, se viu não se trata de milagre e sim um claro sinal que a dose de Haldol ainda está muito baixa.

Mas não quero agredir ninguém, respeito a crendice das pessoas. Se elas necessitam, ótimo, façam bom proveito. Igualmente para quem estuda o alinhamentos dos astros, os búzios, etc. etc. A única diferença clara que percebo é que terei de grafar 2009 ao invés de 2008 no preenchimento de cheques. Só isso já é uma chatice, porque estamos acostumados com um número de ano e trocá-lo sempre faz confusão e, invariavelmente, erramos. E perdemos dinheiro já que cada folha de cheque é paga.

Por outro lado, acontece o nascimento de várias crianças e a morte de outras tantas (crianças, jovens e idosos). Mais ou menos como se a vida fosse um elevador num prédio de 40 andares. À cada parada saltam uns e entram outros. Simples assim. E quando esse elevador chega ao último andar “muda o ano” para continuar tudo mais ou menos igual. Muito mais interessante seria comer um acarajé preparado por ela. Ou uma moqueca, quem sabe…. Ou oferecer uma pinga a um mendigo que precise porque dessa vida não se leva nada (muito menos o fígado). E, se leva, eu serei exceção e não levarei nada.

Contam-se os dias das férias e quando acabam retorna-se a um trabalho chato, inútil… E fazemos isso em troca de um dinheiro ‘meia boca’ que nos garante uns pacotinhos de miojo, uma eventual cerveja e tranquilizantes que nos mantém “normais”. Ser normal, independente da data e do tempo é estar sempre dizendo sim ou um não ameno, estar entrando e saindo de lugares, batendo cartão de ponto, sempre vestido razoavelmente e de banho tomado. É isso que o mundo exige de nós. Mais nada. O mundo, a vida e o tal do tempo não sabem nada de nós, de verdade, como, igualmente, não sabemos nada de ninguém. É um espetáculo, um show (brega, verdade)… somos os palhaços de um cirquinho mambembe, de lona furada e sem redes de proteção.

Roberto Carlos… Muitas Emoções

Olha, sem querer ser agressivo, eu queria fazer um depoimento…. Não existe coisa mais bela, mais terna do que assistir Roberto Carlos. Acho que esse apelido de “Rei” é pouco, surgiu numa época em que se escolhiam reis…. Desde a mais tenra juventude, cresci ouvindo Roberto Carlos e agora, velho e cansado, continuo me emocionando igualmente. Sim, precisamos de ícones, de mitos, de ídolos. E ele é um marco inqüestionável.

Hoje eu escuto aqui e ali pessoas falando mal dele, comparando a Paulo Coelho em vendagens e tal. Roberto Carlos é um marco. O que existe é antes e depois dele. E falar mal, bicho…. é resultado da ratataia, da gentalha, da ignara reinante. Tô fora. Eu e meus contemporâneos aprendemos a amar Roberto Carlos. E continuamos amando. O resto… bom, é o resto…

Muitas Emoções……

Vida Breve sim!…Pra ela… Uma vez é Muito Pouco

image0201Eu canto pra você…. acho é minha catarse, faz parte do meu show..rs

Possibilidades

Existe o romancista de um livro só. Todos se perguntam porquê aquela pessoa escreveu um único livro, porquê não deu continuidade à sua carreira literária (ainda mais quando se mostra promissora). Escrever não deixa de ser um ato de angústia, aquilo que chamamos de “angústia boa”. Muitos passam para o papel essa angústia uma vez e depois se calam, ninguém fica sabendo o que aconteceu, o que está ocorrendo, onde anda aquela pessoa, o que faz, se morreu ou não. Porque é assim: pessoas aparecem e desaparecem eventualmente, misteriosamente. Como num espelho que se parte logo após refletir apenas uma imagem. Não são sete anos de azar. Até porque não existe propriamente “azar” nem propriamente a contagem dos “anos”. Ocorrem outras coisas, outras situações, outros caminhos que nem sempre são definidos pelos homens. O conceito de “show da vida” propõe alguma coisa de magnânimo – que, novamente, não quer dizer a verdade, não pode haver certeza. A própria “verdade” é apenas de ‘um’ e não coletiva.

Talvez a proposta de Camus do “zero à zero metafísico” seja algo mais próximo do possível. Claro que pode-se também acreditar na idéia do filme Matrix (não creio). Por fim, termina-se numa espécie de limbo (não esse católico romano que remete às portas do inferno), mas num meio de caminho, numa caminhada de certa forma abstrata, uma visão de horizonte sem cores definidas, sem placas de indicação. Um enorme deserto com pequenos oásis ou um oásis com pequenos desertos. É a relatividade do ser, do espírito, do olhar, do impulso, da (possível) explosão. É a pedra, o rio, a lama. Simplesmente admitir que tudo é possível e impossível na mesma proporção.

Amiga humanista

Parece que existem vários tipos de sonos. Alguns são necessários, dão descanso ao corpo, à mente… outros, nada necessários, servem muito mais como fuga de coisas que o espírito não suporta – diz-me uma amiga. Creio que esteja correta, que muita gente dorme muito mais do que necessita, dorme como hiatos de morte numa vida mal vivida. Essa “vida mal vivida” deve ser aquela à que as coisas não correspondem, que a adversidades não são coerentes – ou não completamente aceitas. E não poucas pessoas têm essas experiências com muita freqüência. Ela me fala que existem pessoas mais resistentes e menos resistentes, (que os imbecis chamam fracos), pessoas caem ao terceiro round embora existam as que cairiam somente no milésimo round (se existisse). E, parece, o mundo está cheio desses fracos, que existem mesmo muito mais fracos do que fortes na Humanidade ou a própria Humanidade não existiria mais (todos os fortes se trucidariam). Se os fortes vencerão? Creio que sim, sem dúvida. Uma parábola? Até poderia ser, mas não é. Ao contrário: uma análise fria das relações humanas. Uma análise, na verdade, do que poderia ser a existência, mas não é. Uma utopia, por fim. O que interessa, o que se guarda, são as conversas com pessoas mais sensíveis ao mundo, pessoas que, conversando e pensando, equilibram as matanças silenciosas.

Criticar para quê?

A necessidade de escrever, de uma maneira geral, deve vir de dois fatores: toda a aventura humana não cabe em um só espírito, numa única mente. O segundo é que o escrevinhador normalmente é leitor e lendo percebe a possibilidade, o alívio do autor. Claro que nem todos escrevem bem, cada um tem sua carga de cultura e criatividade (uns muito mais, outros muito menos).

Quando eu leio as coisas por essa ‘blogosfera’ (palavrinha imbecil!) em momento nenhum faço julgamento de valor, fico avaliando quem escreve bem e quem escreve mal. Não. Esse julgamento eu faço com os livros. Aqui eu leio sem nenhuma crítica. Fico apenas feliz ao perceber que as pessoas estão dividindo seus pensamentos, suas críticas. suas tristezas e alegrias, firmezas e fraquezas…. que, enfim, ao final de cada post ficaram mais aliviadas, saíram mais felizes.

Do que não aconteceu

buscar as possibilidades da longevidade (e esse conceito de longevidade é tão fugaz…) ===> falamos com pessoas, procuramos entender todas as coisas disponíveis e as indisponíveis. faço-me entender mais pelo não dito do que pelo explicado minuciosamente. a chuva cai eternamente, não parando um segundo. imagino então a chuva caindo no meio do mar, durante a noite. água sobre água, nenhuma visão, apenas uma sensação de desconforto do próprio planeta, alguma coisa indistinta para os que não optaram por serem marujos. o marujo é um ser mítico, meio homem meio peixe, meio valente, meio suicida.

olho o mar aberto quando olho para dentro de mim, quando estou nesse estado de contemplação não do que é a vida e sim do que sou eu na vida, nas possibilidades que criei e nas que afastei, na explosão do momento cego, na virtude que não é, na percepção fragilmente humana, na dor da saudade antes da hora, saudade de antemão. e surpreendo-me ao ver que essa saudade não é exclusivamente minha, que é uma saudade de um todo humano, que a humanidade já sente falta do que ainda não deixou de acontecer, de estar presente. alguma coisa como a angústia não por despertar, mas pelo que poderia ter sido um sonho.

está em tudo e em todos uma percepção das coisas que poderiam ter sido – e não foram, impressão que seria igualmente percebida ainda que tudo fosse o contrário do que é/foi. os ônibus avançam bravamente sobre as poças d’água e fico admirando o tamanho das rodas dos veículos coletivos, como se elas fossem capazes de explicar um pouco a questão do paradoxo da supremacia.

Maracatú atômico

Ontem encontrei um espaço fantástico e uma pessoa mais ainda. E ainda me surpreendo quando acontecem as explosões dos encontros. São coisas que ultrapassam o previsto e destroem o conceito de destino. São situações de BIG BANG, flores que despontam no jardim (e já aparecem abertas e com néctar). E eu tenho muito a falar sobre essa história (que já me surpreende – sim, eu me surpreendo sempre!). Mas é nada disso o mais importante. Como sempre digo sou um amador muito sujeito à explosões de paixão por coisas e pessoas. Essas coisas nos mantém vivos, não fosse isso, haveria um suicídio coletivo. E também vivo das coisas que descubro e mantenho segredo, coisas que, por um período de maturação, são exclusivamente minhas. Se sou possessivo? De certa forma sim… e quem não é? Até Sartre era! Portanto, permito-me silenciar de certa forma. Porque o prazer do encontro, da descoberta e da “descoberta do encontro” merece um pouco de gozo do segredo (na minha opinião). Pessoas, pessoas, pessoas… quantas pessoas existem para cada pessoa? Uma, duas, dez, mil?

Mas é claro que se existem comentários nada é escondido… o ato de esconder é um exercício meu – por mais que esteja divulgado… coisas de um neurótico existencial..rs… Há muito há dizer, muito a sentir, muito o que explicar (para mim mesmo), muito o que exercitar no encontro de átomos… não se deve invadir os domínios da natureza, li em algum lugar

Almanaque de farmácia

Hoje que é o dia por excelência para a leitura, perco-me escrevinhando coisas aqui e ali, em belos cadernos e blocos sem pauta que descobri (mas à preço de ouro). Escrevo, escrevo e escrevo como quem tem a necessidade premente de mostrar-se… não… de olhar-se num espelho pouco confiável, mas ainda assim um espelho. Não posso me guardar para sempre, não posso me afastar de tudo porque não consigo coisas magnânimas, porque não sou. Engano pessoas e me engano a mim mesmo com a mesma leveza na alma. Sem pena, sem dor, sem remorso. Trilho caminhos que já trilhei milhares de vezes e outros novos, virgens para mim… onde não sei onde apoiar a bota. Vou em frente como que puxado por um jegue (ou sendo eu o jegue), como quem tem prazo de validade (ainda mais após o susto dessa madrugada quando acordei num acesso de tosse em que, dopado por tantos medicamentos, não cheguei a acordar direito, mas tive a impressão que as tripas me sairiam todas). De manhã busquei a garrafa de conhaque, certo de que me esquentaria e, para minha surpresa, estava absolutamente vazia. O fracasso do conhaque! O dia prenuncia borrascas, ventos, um frio inimaginável para nossos tristes trópicos e, ao mesmo tempo, tudo parece cenográfico, tudo me parece ilusão, que nada disso vai acontecer, que mais uma vez busco histórias no fundo da minha cabeça.

Para chegar a essas conclusões não chego a delirar nem fazer força, elas partem bem de dentro de mim, irresponsáveis como tudo na vida.

Penso em correr até a padaria, mas não tenho tanta coragem. Eu que olhasse tudo antes já sabendo que hoje seria um dia “de não fazer nada”, de azucrinar quem se encosta nesse espaço, de silenciar antes, de contar coisas tão íntimas, profundas e não pensadas que mais parecem mentiras, mais parecem dessas pessoas que escrevem qualquer coisa, apenas para bater no teclado, para fingir ocupação, para imitar seriedade. As mulheres por exemplo. As amigas. Uma está há 40 km, outra a 500 e outra a mais de 3.000 km. Os amigos: todos estão circunscritos num raio muito menor. Não vem ao caso quando a contestação única é de que nada altera nada, de que o centro – que, nesse caso, sou eu – continua jogando inúteis garrafas ao mar de Lost. Vou ficando convencido de que a irresponsabilidade não é toda minha, a irresponsabilidade é um ponto de vista da responsabilidade e o mundo – redondo – não transborda porque eu não presto atenção ao fenômeno. Nada mais. Os fenômenos estão todos aí, com a mesma intensidade e, se não me espanto, é pura distração do meu espírito.

Fuga

Fiquei me questionando se eu escrevo tanto sobre a doença da minha mãe para angariar peninha dos outros, pra levar tapinhas nos ombros e ouvir palavras doces e carinhosas. Por um tempo achei que, mesmo inconscientemente, era isso. E acredito até que isso não é de todo condenável, que as pessoas se fragilizam mesmo em alguns momentos e precisam de um ou vários ombros. Eu mesmo sei que vou precisar do ombro do meu gato, quando a coisa estiver consumada e eu estiver deitado na cama olhando o teto e sem coragem para mexer um músculo.

Mas existem coisas e coisas e a cabeça da gente não pára

Então fiquei pensando que pode não ser exatamente isso, pode ser que quanto mais eu fale nesse assunto, quando mais eu comente a dor (minha e dela), quanto mais isso estiver exposto, cru… nu… na veia… enfim que essa coisa vá exorcizando uma parte do medo, uma parte da saudade antecipada, uma parte do sofrimento incontido e, principalmente, do pânico. porque essa é a palavra correta para definir a morte anunciada: PÂNICO. Então, sim, é verdade que ando em pânico – que bebidas e calmantes praticamente não fazem efeito algum, – que eu me distraio ora vendo TV, ora trabalhando, ora lendo ou escrevendo, mas meu pensamento escorrega, escapa da prisão que eu pretendo mantê-lo e tudo volta desesperadamente e esqueço o que estou fazendo, o que decidi, o que li, o que trabalhei. Tudo passa a uma condição muito inferior, passa a uma condição de ‘SUB’, como se nada das coisas da vida vivida pudesse estar no centro do pensamento, na angústia desesperada (como se o desespero resolvesse alguma coisa). Então eu digo. Não. Não a nenhuma opção, a nenhuma explicação mais psicógica ou filosófica. Trata-se exclusivamente do bom e velho pânico. PÂNICO por tudo o que virá, por todas as lágrimas, dores físicas, falta de ar… incapacidade generalizada que é o que acontece. De verdade. A verdade, irmão, é dura, muito dura. É claro que todos nós na vida, num momento ou em outro, passamos pelas mesmas coisas e que, o que para nós parece o mais terrível, terrivelmente diferenciado, não é. Não. Todos passam pela mesma situação e todos acham que sua dor pode ser a maior.

É isso: exercício para conviver com o pânico mais absoluto.

Sendo assim, já sei que escreverei dezenas de cadernos, milhares de posts, e.mails, cartas manuscritas e, possivelmente, não enviadas e tudo para nada. Tudo para meu consumo próprio que é o alívio do sentimento que trago – de certa forma egoísta – o pânico. É quando você não consegue mais racionalizar nada, tudo está de ponta cabeça no seu espírito e você confunde essa inversão com o mundo e acha que o mundo anda plantando bananeira, acha que as pessoas te apontam o dedo acusador. Melhor: as pessoas, não. Deus. Um deus em que você não acredita, nunca acreditou e jamais vai acreditar… pois esse deus se materializa unicamente para acusar e depois volta à sua condição de nada.

Enfim, nada é nada. Na fuga, busco exorcizar tudo o que vai em mim. E sem nenhuma garantia de sucesso.

O terrível espelho da alma

Ele deita para ver um pouco de televisão. Sabe que dormirá, mas finge não saber, como finge não querer dormir mesmo sabendo que será por muito pouco tempo. Acorda duas horas depois e se convence que dormiu pouco, embora desejasse dormir menos para, mais tarde, dormir de vez. São terríveis todos esses momentos em que descontrolamos o sono mesmo com a ajuda de soníferos. Porque a madrugada e seu negror vão chegar e aí vem a maior solidão do mundo. Alguns dizem que a solidão é das pessoas, varia de pessoa para pessoa. Ainda não tenho certeza dessa afirmativa (e, certamente, não terei mais até o fim). Lembro a mim mesmo que não tenho certeza de nada, mas não adianta. Acho que esse meu temor – desde criança – não é exatamente de não dormir, mas de ter que passar horas e horas comigo, no escuro. Por outro lado – veja que curioso! – não quero estar com ninguém, acho que nunca vai dar certo e sofro por não ter passado o dia com quem está carente de mim. Invento (para mim mesmo) que assim é melhor, que não se deve tossir em cima de uma pessoa doente. Tem gente mal informada que acha que eu minto, mas é um desvio de percepção porque minto muito, mas sempre para mim mesmo. Busco as respostas nos livros – uma vez que eles trazem todas as opções existentes – mas não encontro respostas satisfatórias e leio outro e mais um… Uma espécie de agonia. Cada livro concluído (a leitura) é um prazer – por tê-lo conhecido – e uma decepção por não ter me aliviado. é isso, acho que é. Ainda não descobri onde se encontram esses alívios já que não rolam com psiquiatras, com párocos, em casamentos e nem em amizades sinceras. Por todas essas coisas, ele vai tentando compreender finalmente o que pretende quando fala em sentir alívio. Eu sei o que é sentir alívio (é algo que nunca senti), mas não sei qual o significado disso tudo para ele. No espelho a imagem é cansada, de corpo drogado. O que vai por dentro, igualmente não é bom, é alguma coisa que geme, que às vezes urra (mas sempre para dentro, silenciosamente). Uma das coisas mais curiosas é ver que as pessoas não estão entendendo nada, só entendem o que é dito explicitamente e esse “dito” é nada, é ponta de estoque. Não há muito o que fazer com todas essas coisas e talvez daí venha um certo pavor das madrugadas insones. Apenas talvez. Talvez fossem necessárias respostas, respostas convincentes – para si e para os outros – de todos os porquês do mundo. Seria como encontrar dentre milhares de livros, qual deles marquei um dia com um pétala de rosa seca. Impossível. De certo, só a perda. A perda iminente, dia a dia mais próxima, que deixará por fim a marca definitiva. O dia em que a ampulheta será virada pela última vez.

Eu observando o fim

Apesar de ter aplicado a dose mais fraca possível, em função da idade avançada da minha mãe, hoje, dia segunda aplicação o oncologista não pôde fazer o procedimento porque minha mãe está completamente debilitada e não suportaria, nesse momento, uma segunda dose. Fico me perguntando o que se faz numa situação dessas: a doença está lá, mais do que diagnosticada, o tratamento, ainda que mais fraco do que o necessário não é suportado pelo corpo debilitado. Tá, e agora? Morre da doença sem tentativas de melhora ou morre pela violência do tratamento? Deve ficar em casa ou ter o conforto (técnico) de um hospital? Com a evolução rápida, como será o fim? Rápido? Lento e doloroso? O que se diz para uma pessoa nesse estado? O que se faz? Sim, a vida é uma possibilidade independente dos nossos desejos. Disso já sabemos. Diante desse paradoxo, apenas observamos como tudo vai acontecendo até o fim.

Dilemas

Otto Lara dizia que mineiro só é solidário no câncer (ou foi Nelson R. que disse e atribuiu a frase à Otto?). Camus, por sua vez, disse “que só existe um dilema realmente sério na filosofia: o suicídio”. Fico pensando nisso e, muitas vezes acho que Camus se enganou, que o câncer é um dilema mais sério que o suicídio porque o suicídio mão é um dilema exatamente, mas uma escolha, opção. Já, mesmo quem fuma escapamento de ônibus, não está, necessariamente optando pelo câncer e se o suicídio é consequência da consciência do câncer este suicídio não é um dilema, é uma opção bastante plausível – quase justa – ou totalmente justa e óbvia. Câncer e suicídio são mortais. E suicídio para aplacar o sofrimento do câncer, não é dilema, é escolha sobre a forma de morrer uma morte anunciada (com data e tudo). Então… de maneira nenhuma somente o mineiro é solidário no câncer. O solidário com o câncer é um covarde, é aquele que percebe ali, na cabeceira do canceroso, uma provável forma da sua própria morte. Expia-se então no outro, como a querer algum crédito com Deus.

“A gente mal nasce, começa a morrer”

escrever e reescrever a vida….é o que tenho feito… diante da morte me encolho exatamente por não ser a minha morte. minha morte não me assusta, mas tenho pavor da morte alheia, principalmente de quem eu amo. não tenho um deus para pedir nem implorar (não, eu não seria tão calhorda assim)… portanto, sinto-me frágil e sem opção. busco algumas alternativas me que me relaxem, mas todas mostram-se frágeis. tudo é frágil no espaço vida. vida vivida, vida que não é essa nem aquela, não é a do filme nem da literatura clássica. a vida é mais dura, mais comezinha, mais simplezinha, mais nojenta. a vida é insuportável não exatamente por sua insuportabilidade, mas pelo paradoxo do descontrole. adoro a vida e, ao mesmo tempo desprezo-a pela sua insustentabilidade. ao contrário do que imaginava o tolo freud, quem se mata não está matando toda a existência que o incomoda… não… quem se mata simplesmente diz não a uma incoerência… diz não a uma opção que não foi a sua, a uma proposta equivocada desde a fecundação. o suicida nem é herói nem covarde – é, simplesmente, quem toma uma atitude coerente com sua visão de si e da vida… não, em tese não sou um suicida. sou apenas quem questiona as regras da vida. que não aceita barato. e muita gente não aceita barato. verdadeiro suicídio é calar-se, é não avaliar, não pensar sobre, aceitar ser simplesmente mais um.

Ninguém em nenhum lugar e em qualquer tempo teve a clareza de Vinícius: “A gente mal nasce, começa a morrer”

Do que não há com explicar

Todas as anotações se dissolvem, as expectativas tornam-se sonhos risíveis, desses que sabemos que não teremos tempo de vivenciar. o plano é observar mais as pessoas que passam caminhando na rua, a maioria apressada por conta de seus horários de trabalho e a outra parte suspeita, parece que os bandidos estão todos soltos no rio de janeiro. se abate sobre mim constatar que realizei um péssimo produto áudiovisual digno das mais veementes críticas. e me critico por isso. não me critico por ter realizado uma coisa pífia, mas, antes, por aceitar um trabalho de escravo, com metas, com datas e horários, um trabalho que, mesmo eu desconfiando ser ruim, não poso voltar atrás e refazer. as televisões, as produtoras, todos esses lugares estão completamente distanciados da arte, não têm a menor preocupação nesse sentido artístico mesmo. e as pessoas que participam desse processo também esquecem de tudo e correm e correm e se estressam, mas não passa disso. ninguém pára e reflete. fico imaginando o que eu estou fazendo metido nesses buracos, porquê encaminhei minha vida para isso se já sabia há muito tempo que só ia me gerar frustração. pronto, foi um programa ao ar, breve irá mais um e mais um. corra, lola, corra! sou um estrangeiro num ambiente que insisto em permanecer há trinta e cinco anos. somente quando ando pelas ruas, carregando minha agorafobia, ou quando estou na segurança de casa é que os pensamentos me invadem, que a crítica toma conta de mim e, olhando para trás, percebo que o único responsável sou eu mesmo.

o que se começa aos 53 anos de idade? como se buscam outros caminhos quando não há dinheiro, saúde, paciência e, principalmente, inspiração? jogar uma bomba atômica sobre esse avatar e partir em busca de outro, de outra vida, outra história, outro caminho, outro, outro e sempre outro? as deficiências físicas, a falta de ar, a pressão alta, a pressão que não é a arterial também me consumindo…. olho novamente de soslaio as pessoas na rua e me pergunto se essa pessoas sofrem esse tipo de angústia, se poderiam entender mesmo que eu escrevesse tudo numa parede enorme e branca… não creio. mesmo entre os poucos amigos e conhecidos… quem está percebendo o quê? quem me olha quando sorrio e vê além, percebe que por trás desses olhos aparentemente sinceros, existe toda a solidão, dúvida e amargura do mundo? não de forma crítica, mas como um outro espírito que está aqui ao lado, que encarnou numa pessoa errada e em vida, não temos como desfazer esse engano metafísico? falo em fazer encontros para tentar amparar coisas desamparadas, mas sei, igualmente, que todos estarão discutindo coisas superficiais e, com certeza, não perceberão do que estou falando, já que não têm a mesma angústia, fazem parte de um outro grupo, de uma outra proposta, esta sim, bem sedimentada… se, por acaso, sou prisioneiro de alguma coisa, é de mim mesmo e não posso transferir isso para quem nem imagina do que estou falando… por isso, melhor andar pelas ruas e observar estranhos, formigas trabalhadoras que não têm consciência da morte que as espreita.

Sobre deus e a vida (nossa)

A outra pessoa é aquela que perdemos nos confins da Criação. não temos contra o que lutar porque as situações foram criadas de uma forma meio inocente… fazemos escolhas sem conhecer tudo… um drible de Deus nessa história toda… como posso casar com uma mulher perfeita para mim – e eu para ela – que nasceu e vive no Nepal e – se eu não encontrá-la… – ela não saberá de mim? mais ou menos por isso eu desdenho deus e creio no escritor que cria seus personagens dando chances iguais a todos… um mundo, uma vida em que, de certa maneira, não temos muitas opções… não pode ser exatamente chamada de vida (nem boa nem ruim)… Afinal… que oportunidades temos realmente? E, sendo a vida, à priori, uma falta de oportunidade generalizada, deixa de ter o conceito literal de vida, mas sim de uma vivência deslocada dentro de uma grande confusão que não entendemos, não participamos. Sim… deus não sabe jogar dados… e se, de fato, somos à sua imagem e semelhança, não sabemos nós igualmente…. quer dizer? a quem pertence a vida que, tolinhos, acreditamos viver? onde termina o quebra-cabeças? Se me incomodo? não exatamente, pelo menos nesse aspecto mais popularesco… busco a alternativa de uma vida de certa maneira metafísica que me proporcione – não nada de fácil -mas a oportunidade de ser minimamente responsável pelo que me acontece, pelo que se me apresenta… enfim, por tudo… já que houve a corrida de espermatozóides em direção ao útero – que é uma outra história…

(retirado de Geraldo Iglesias*)

Ainda sobre ela

K. é a mulher da minha vida. Não nesse sentido bundinha que vocês estão pensando, de um chopinho aqui ou uma trepadinha ali. Nada disso. K. é ancestral. Nasceu antes de mim embora eu tenha vinte e quatro anos a mais do que ela. É quase pedofilia. Hoje mesmo, enquanto conversávamos ao telefone (ISSO…MORRAM DE INVEJA, NOS FALAMOS AO TELEFONE), eu falava disso. K….. sou um pedófilo de você. As pessoas que não nos conhecem e não imaginam o que conversarmos por e.mail e por MSN, não têm idéia do quanto nos amamos e do quanto brigamos. Realmente as pessoas fantasiam, mas não fazem idéia do que fazemos ou, por outro lado lado, deixamos de fazer. Teve até uma proposta de me delatar a uma Delegacia de Mulheres mas, como sou uma pessoa muito bem relacionada, (sou amigo até do Ricardo.)…fiquei amigo do comandante-em chefe- das delegacias de mulheres de São Paulo. Ou seja, K. ficou absolutamente minha refém…. a polícia jamais dará ouvidos às chorumelas dela contra meus ataques (quase fatais). O que eu ganho com isso? O que sempre quis, o controle absoluto sobre K. O que perco? Nada porque sou uma pessoa que, nessa altura, não tem mais nada a perder. Vejo no blog dessa menina (que é a menina dos meus olhos (?)) umas senhoras que se preocupam com ela sem saberem exatamente o que ela gosta de fazer comigo  (De quantas barbaridades ela é capaz!). Essa menina faz, senhoras e senhores, barbaridades comigo, muitas vezes sem fazer algo real, palpável. Sou um escravo, um sem-razão. Não me queixo de maneira nenhuma. Temos um pacto abençoado pelo demônio, vermelho como ele só! O que faço daqui pra frente? Nada. Perguntem a ela se tiverem coragem. Como realmente não têm, ignorem, comodamente, esse post e deixem a pedófila K. abusar desse menino que eu sou. À propósito…. você conhece a teoria do duplo? (Leiam Operação Shylok do Philip Roth) Se a teoria for correta, alguém existe em algum canto do mundo exatamente como nós. Se for incorreta, existe uma divisão mental em nós mesmos que faz com que criemos outro eu… Ou seja: quem é quem?

A Leveza

 
(imitando ela e pra facilitar a leitura)

a gente não nasce exatamente para sofrer e não me parece justo fazer com que todos os acontecimentos sejam um sofrimento. não são. muitas vezes, ainda que sem querer ser dramáticos, apresentamos situações como um sofrimento. deve fazer parte da vida, deve fazer parte de um desconhecimento nosso, de uma fragilidade atávica que nos deixa mais sensíveis, mais incapacitados de aceitar coisas da vida, talvez de não aceitarmos a nós mesmos ou não aceitarmos a vida. assim imagino que seja, mas sem nenhuma certeza porque em momento nenhum temos certeza de nada – achamos que temos, mas não temos. é como a família, esse conceito tão estranho de pessoas que estão ligadas a nós. são como grupos, muitas vezes numerosos e outras vezes nem tanto. e quando esse grupo nos incomoda dizemos que família não se escolhe, família nos é imposta. o que é uma verdade… sempre tive uma família pequena: minha mãe e duas tias igualmente muito queridas que já morreram e foram grande perda para mim. tenho meus filhos, é claro, mas que estão grandes, levam lá a vidinha deles. tenho um irmão que, igualmente, leva a vida dele e fico anos e anos sem encontrar. minha família é minha mãe, uma velhinha de 80 anos, dessas pessoas que, pela idade, a gente sabe que estão para morrer, mas (que procuramos) não pensar muito nisso, como se fosse uma hipótese remota, uma fatalidade – tem gente que morre com dez anos e gente que morre com cem anos. de uma forma ou de outra e, sempre inventando argumentos para mim mesmo, como falta de tempo e todas essas mentiras, sempre fui um pai ausente e um filho ausente.

as coisas mudam, sempre mudam, não tenho dúvida disso e agora foi minha hora de que as coisas mudassem. minha mãe vem fazendo exames há quase seis meses, tentando descobrir a origem de uma tosse incômoda (que, veja que engraçado: venho tenho essa mesma tosse há meses sem que esteja com nenhuma gripe…. rs). há um mês ela descobriu (e aguardou um mês para me falar, para me poupar). bobagem, porque as pessoas nunca podem ser poupadas, as pessoas são o que são, recebem o que têm para receber por que na vida… “a gente mal nasce, começa a morrer…”

assim são todas as coisas independentemente do que achamos, desejamos ou idealizamos. não há o que idealizar sobre a existência porque existir já é em, si mesmo, um jogo, uma ‘pegadinha’, um enorme momento de reflexão – que não nos damos conta. minha mãe, com muito cuidado, falando da maneira mais tranqüila possível, me contou ontem (porque não havia mais como não contar) – que está com câncer. no pulmão! dentro de dois dias começam as malditas sessões de quimioterapia com sua patética queda dos cabelos. sim, não haveria como eu não saber. sei que ela está desesperada – porque nem aos oitenta anos estamos ainda preparados para saber o tempo que nos resta de vida e muito menos com sofrimento da morte causado por câncer no pulmão. puxa…

como eu dizia… é claro que uma pessoa que tem mãe muito idosa, “sabe” que ela, mais dia menos dia, vai morrer. óbvio. mas, igualmente ao idoso, o parente “apaga” essa certeza… acha que pode durar mais um mês ou mais dez anos. e, muito pior, poderá ser uma morte sem sofrimento. o câncer no pulmão não apenas reafirma a morte breve, como anuncia grandes sofrimentos. e, quem diria, não sinto vontade de chorar, não sinto vontade de blasfemar, não deixo de ser ateu… nada. não muda nada. muda tudo. muda a relação com a vida, a relação com as coisas, os momentos que deixamos de estar juntos (e que agora soariam falsos a nós dois). não é hora de fazer drama, não é hora de nada. relutei em narrar essa história aqui porque não desejo receber mensagens estimulantes dessas que falam que “às vezes as coisas acabam bem” ou “existem milagres” ou “devemos ter força”. por isso, fechei os comentários. no fundo é tudo e não é nada. são as verdades verdadeiras de uma vida que nem é tão verdade assim…


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"É-nos impossível saber com segurança se Deus existe ou não existe. Por isso, só nos resta apostar. Se apostarmos que Deus não existe e ele existir, adeus vida eterna, Alô, danação! Se apostarmos que Deus existe e ele não existir, não faz a menor diferença, ficamos num zero a zero metafísico" Albert Camus

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""Deve-se ler pouco e reler muito. Há uns poucos livros totais, três ou quatro, que nos salvam ou que nos perdem. É preciso relê-los, sempre e sempre, com obtusa pertinácia. E, no entanto, o leitor se desgasta, se esvai, em milhares de livros mais áridos do que três desertos."
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