Archive for the 'viver não é preciso' Category

retalho

Não ouso com uma barata. Não quero pessoas-baratas nem baratas-pessoas. “A Metamorfose” me causa engulhos, a possibiliade de…

O banheiro é o lugar onde o sangue mais mais aparece. Cinema. Menstruação nunca se inicia no banheiro. Somente tiros e facadas, somente personagens escondidos embaixo da banheira antiga ou ainda imagens que aparecem no espelho enquanto ela se observa. Grito. Fade com trasição de 20 frames. Tudo fica óbvio porque mulheres muito brancas tem visíveis veias roxas – como uma flor que nunca lembro o nome – (acho que uma é hortência). Me parece que suspense no cinema prega mais sustos do que na literatura. E concluímos cedo que o cinema usa planos fechados das ‘vítimas’ exatamente para não percebermos quem está escondido, de tocaia. E  na hora: susto. Claro que a trilha sonora é fundamental (e livros não têm trilhas sonoras). Mas não adianta: o livro é sempre melhor.

O livro mexe com nosso consciente e com o inconsciente, com a dor e a necessidade premente como se ‘fora do tempo’: o livro está ali.  Os escrevinhadores são seres desalmados que não se penalizam de nada nem ninguém e colocam para fora, no papel, todos os surtos, todos os estados catatônicos, toda a sujeira da mente exposta à crianças de quarenta anos.

O escrevinhador é um deus que joga dados conosco o tempo todo e jamais deixa de vencer, jamais se abala (com todos os seus dentes cariados e feios, seu mau hálito, suas badalhocas). Galopo no cavalo negro em busca de albergues, de pousadas vagabundas de beira de estrada e o céu pode ser vermelho.

As tardes….

Esse título: “A Insustentável Leveza do Ser” criado por Milan Kundera encerra nele próprio uma quantidade tamanha de verdades e emoções que nem sei se o próprio autor se deu conta quando o criou. Porque toda a filosofia, toda a psicologia, toda a teologia nos levam a esse mesmo ponto, a essa mesma frase. Como é insustentável viver com leveza. O que acontece é que muita, mas muita gente mesmo, percebendo que é impossível viver assim, muda, tem a capacidade de mudar e ajustar-se a um certo padrão.. digamos “menos leve”… Pessoas que se adaptam à situação de risco, de estresse, de limite. Quem não tem essa capacidade fica penando os pecados do mundo, vai sofrendo isso e aquilo, ora mais fragilizado, ora menos… dependendo dos atores à sua volta. Porque essa é a questão essencial da vida (ou isso que assim chamamos). Hoje mesmo uma grande amiga veio me visitar e acabamos falando de vida e morte, de tranquilidade ou medo da morte. Na verdade, acredito, são faces da mesma moeda, viver ou morrer é absolutamente irrelevante do ponto de vista espacial e temporal. Afinal, o que é um metro, o que é uma hora? Pior: o que é a metafísica? Não, não estou falando no sentido prático da palavra, isso qualquer filólogo explica… eu falo de uma outra coisa, falo de certas comparações especiais que, para fazê-las é necessário um distanciamento tão grande, como pular num reino abissal, que prefere-se continuar levando a vidinha. Assim se passa uma tarde… discutindo o tempo de vida…. E, se entendermos que o tempo não existe, falta muito pouco para pensarmos que a vida não existe (ou talvez não dessa forma espacial, temporal) , ou melhor, existe, mas é absolutamente irrelevante. (continua)

Vida Breve sim!…Pra ela… Uma vez é Muito Pouco

image0201Eu canto pra você…. acho é minha catarse, faz parte do meu show..rs

A Longa Noite de Cristal ou O grande retorno

Cai uma chuva fina. Saio de casa na madrugada e caminho por ruelas. Um homem também caminha, a noite dos mortos-vivos, a noite dos rituais de passagem. Uma noite sem fim, infinita mesmo. A primeira noite infinita. Quando determinadas ações forem colocadas em prática acontecerá o momento místico, surreal, mágico e metafísico. Mas o momento custa igualmente uma eternidade a chegar. As ruas são, cada vez mais, tomadas pelo silêncio, pelo negror. E a chuva fina persiste como persiste o homem (agarrado a um volume) a caminhar. Seguimos juntos por algum tempo. Eventualmente ele troca de calçada, mas me é impossível perdê-lo de vista. Ele não quer desaparecer da minha visão.

Pessoas dormem no chão, alguns cobertos de papelão molhado e outros, nem isso. Não parecem mais se dar conta da chuva. Embora ninguém se acostume com a desgraça, essas pessoas são obrigadas a aceitá-la – talvez, dando muita sorte, com o alívio que uma pinga pode proporcionar. Nada mais. Passo por essa gente, esse resto de gente e penso na viabilidade de deus. Quem é o filho de deus? Eu ou essa multidão que rasteja?

Percebo o homem, do outra lado da calçada, caminhando vagarosamente como que me esperando ou aguardando que eu abandone o pensamento sobre os miseráveis. Sigo, então, em frente. Calço sandálias, meus pés estão molhados e esse homem andarilho igualmente calça sandálias. Sim, estou curioso, preciso saber o que é aquele volume que ele carrega com cuidado extremo. De repente, ele entra num beco e o perco de vista. Fico parado, olhando na escuridão molhada. Do beco vejo luzes, quase fogos de artifício. Percebo então uma luz extrema e compreendo que estou na grande noite eterna, noite das noites. Noite do fim absoluto.

Tempo

Nesse momento, minha única preocupação é o tempo. O tempo para chegar a crise final. Olho seus olhos opacos, sua tez acinzentada, seus cabelos muito ralos e de uma cor indescritível. Olho as coisas ao seu redor e me pergunto como resolverei tudo. Não, não serei eu, serão os outros que vão ter que dar um jeito nas coisas. Seu olhar demonstra insegurança, medo e, ao mesmo tempo, resignação. Fala de um futuro em que não acredita. De uma vida que sabe distante. Procuro aparentar naturalidade e sei que não consigo. Está preocupada com os papéis para a cremação e contraponho que é momento para pensarmos em vida, em cura, jamais em morte. Mas sei que ela está certa e eu, falso. Fica me olhando e rindo por dentro de todas as esperanças mentirosas que escapam pela minha boca envergonhada. Língua envergonhada. Vergonha da minha impotência, da impotência de tudo e todos, inclusive de um deus que desejaram me fazer crer sem nenhum sucesso. Agora mais ainda. Os minutos se arrastam, não tenho o que dizer. Sinto a necessidade de estar dopado de alguma coisa, qualquer coisa porque acho a realidade dura demais. A realidade que todos passam, uns com mais firmeza, outros com menos. A realidade estúpida por deixar de ser. Como reconhecer com estoicismo a realidade do “não ser”? Imprecisão. Tempo. Quanto? Como será? Lenta ou breve? Suave ou doída? Se doída, por que? Já não bastam as dores de uma vida? Vou lá fora fumar um cigarro. Depois outro. E outro. Coca Cola (a cachaça fica para outra hora). Olhamos um para o outro e sorrimos internamente das nossas tristes mentiras. Da nossa incapacidade de falar. De nos abraçarmos. De chorarmos. Não. Falamos sobre bobagens, sobre eleições, sobre o calor que faz lá fora. Falamos do que não é. Do irrelevante. Os minutos se arrastam e três horas depois preciso sair, não suporto mais, preciso da minha sovina e covarde solidão. O tempo.

Sobre mim

não a revolução como era de se esperar ou seria mais palatável, mas cerca-me uma impressão de morte, de podre, de fim. morte de plantas, de pedras, de areias, de prédios, de pessoas, de mim… vou e volto, de poltrona em poltrona, de livro em livro, de pensamento em pensamento como quem busca alguma coisa mais etérea, alguma coisa que ri, que sorri, que acalanta, talvez menos vívida e real… as realidades cansam como as lutas armadas, como os protestos, como a esperança num mundo mais justo ou demasiadamente justo… essa maneira angelical de perceber a vida, fechando os olhos para as cicatrizes que trazemos no rosto e no fundo do cérebro. toda essa coisa cansa, é tediosa como o dia chuvoso, como nuvens que predispõem ao suicídio. jamais existiu ou existirá um suicida que tenha a impressão putrefata da morte. esta é para os viventes, para os que têm planos, para os que amam ou odeiam, para os que olham trens que partem e sentem inveja dos viajantes

O viajante é aquela pessoa feliz que não tem consciência da sua alegria nem da felicidade que irradia.

por isso sempre senti mal cheiro nos relógios, nos marcadores de tempo mais variados, nos contadores de frames* que determinam se uma imagem na televisão pisca ou não*. esse realismo exacerbado que pretendem de nós como se de fato pudéssemos ser realistas diante da filosofia barata que herdamos de todos os filósofos que já ousaram… filósofos ousam, filósofos cometem filosofias e inventam palavras de forma a nos impedir de responder imediatamente, de destruir suas teses.

Perceber o mundo com o olhar da filosofia ou da psicologia é tão idiota quanto entrar nos templos de seitas e acreditar sequer numa palavra.

invadir o mundo com palavras e atitudes é o caminho para sobreviver. não palavras novas nem atitudes “revolucionárias” porque essa premissa revolucionária terminou, esgotou-se por si mesma, os homens entenderam, por fim, que existe apenas a revolução interior, a mudança, a aceitação do podre, do escatológico, do que parece, mas não é, nunca foi ou será. necessário é entender a velha que, vestida de negro, xale na cabeça, entra na igreja com uma vela acesa na mão com pedidos impossíveis para um ser superior que, igualmente, não se encontra naquele templo nem em lugar nenhum…

Verdadeiro será aperceber-se que o mundo é o mesmo e que sendo o mesmo ainda assim o desejamos e adoramos e não queremos que nossos entes queridos partam.

claro que não acontece assim porque nunca aconteceu, porque a explosão que fez o universo surgir como tal não bastou para um entendimento mínimo da ”imutabilidade” de todas as coisas no céu e na terra. existe uma razão neurológica para que sonhemos dormindo e acordados, para que possamos ter uma oportunidade de pedir, de orar, de nos ajoelharmos (porque não suportaríamos uma vida inteira estando permanentemente de pé), porque jamais a raça deveria estar de pé, deveria locomover-se como os gorilas – que, de fato – continuamos sendo. não sei exatamente da fragilidade humana porque sabê-la implicaria numa condição superior de analisá-la, numa cátedra que não existe verdadeiramente, que é ilusão do homem, de todos nós, para conseguirmos nos olhar, para acreditarmos numa (falsa) compreensão do outro – e de tudo (continua)


Ela…

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"A descoberta do Prozac criou um universo de eunucos felizes"

"É-nos impossível saber com segurança se Deus existe ou não existe. Por isso, só nos resta apostar. Se apostarmos que Deus não existe e ele existir, adeus vida eterna, Alô, danação! Se apostarmos que Deus existe e ele não existir, não faz a menor diferença, ficamos num zero a zero metafísico" Albert Camus

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""Deve-se ler pouco e reler muito. Há uns poucos livros totais, três ou quatro, que nos salvam ou que nos perdem. É preciso relê-los, sempre e sempre, com obtusa pertinácia. E, no entanto, o leitor se desgasta, se esvai, em milhares de livros mais áridos do que três desertos."
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