Archive for the 'O pânico' Category

… do Olimpo

Cavernas existem para serem exploradas. Morcegos existem para serem enfrentados. Não agimos assim na vida. Deixamos os buracos escuros em pedra para os mais valentes – que não aparecem nunca. E daí a imortalidade milenar das cavernas. Pois dessas cavernas existe muito em nós, bem naquele cantinho que fingimos desconhecer, aquela reentrância quase secreta (nada é secreto) que carregamos como se, de fato, não existisse. O atavismo da caverna remonta ao atavismo do homem bruto que existe em cada um de nós. Esse universo pré-histórico que temos mais ou menos visível. Como um plácido camponês aproxima-se de nós uma besta fera – que muitas vezes nos devora e só tomamos conhecimento quando já fazemos parte das suas entranhas. Nos debatemos então num mar de suco gástrico que corroi nosso discernimento, nossa visão mais romântica da vida. Habitamos então o gigante verde de um só olho e não nos debatemos diante da carnificina que virá em seguida. O humanismo é deixado de lado pelo próprio humano (ou ilusão do humano que temos). Às vezes penso que somente Dom Quixote foi realmente plenamente humano. Mas tudo não passa de sonhos, bem sei. O sonho é a realidade que tenho em mim, o sonho me livra do inferno, da danação. Assim consigo me manter junto aos meus “iguais” porque eles também sabem o que são e, igualmente, se utilizam dos sonhos, se utilizam das artes para amortecer o que queima tanto por dentro. E temendo a autofagia que mora em nós, distraio-me com plantas e flores, automóveis ou metralhadoras, qualquer coisa que tire a mira que tenho em mim mesmo, solerte que sou. Acabamos alçando vôo e aí aparecem nossas asas negras de fuligem, nossas  verdades não aceitas e o desejo de todos de chegar ao Olimpo.

Como era de esperar, as caminhadas não estão me fazendo nenhum bem. Talvez do ponto de vista teórico de uma medicina fracassada seja excelente, mas a prática…. putz. Aliás, como não ligo para orientações médicas, a caminhada aqui citada é resultado de uma ansiedade renitente, de um desconforto (que esfria a barriga e nos joga como se fôssemos um feto na cama) que nada aplaca. Verdade que doses cavalares de soporíferos talvez melhorassem bastante a coisa, mas, igualmente, não estaria resolvendo nada. Quando penetramos no universo escuro e denso do estupor, muito poucas atitudes nos permitem passar “para o lado de cá”. Aliás, essa é a questão que se coloca: o que é exatamente o lado de cá e o lado de lá…

Bem, por motivos que não devo revelar nesse instante, continuarei esse assunto no meu caderno azul n° B- 9

Do que eu ia dizer, mas desisti

“Eu preciso dizer que eu te amo….. te amar ou perder”… Esses fragmentos de músicas, de poesias passam pelo cérebro, na maioria das vezes muito velozes, dessa maneira estranha de ver coisas, de vivenciar aquilo que não é exatamente meu, mas que também não consigo desprezar, como um cúmplice por acaso, do acaso absoluto, sem culpa como o gato emparedado de Poe que termina colocando tudo a perder. Mas ou menos isso, o cúmplice idiota, que entrou num jogo sem saber e acaba sempre estragando os planos arquitetados pelos outros, uma espécie de “inconveniência do acaso”. Somos todos estranhos no ninho, somos todos esperanças vãs, relicários desses onde guardamos uns restinhos das cinzas (que afanamos durante as cerimonias com a natureza).  Contraditório é alguma coisa maior do que parece, alguma coisa mais sofrida e, ao mesmo tempo, incompreendida pelas maiorias, essas hordas ignaras que se arrastam num mundo de trevas e faíscas.

A favor de Israel

Definitivamente eu não entendo essa comoção, essa “peninha” dos palestinos, pena que se espalha pelo mundo. Ora, se eles estão constantemente jogando foguetes destruidores contra Israel, o que se poderia esperar??? Óbvio que Israel deve responder com uma ataque dobrado, como esse de agora e não importa a morte de civis. Guerra é guerra! Os palestinos deveriam pensar nisso antes. Tenho dito.

GEAP – UM PERIGO À VISTA – PREVINA-SE

Transcrevo meu último e.mail à GEAP – PLANO DE SAÚDE:

Apesar dos meus inúmeros e.mails, inúmeras ligações solicitando suporte DIGNO para mim mãe com câncer pulmonar, contra todas as orientações de TODOS MÉDICOS da GEAP em relação à paciente Alair Nazareth Cantanheda (n° 657 942 1006 )  aconteceu o irreversível óbito da minha mãe em meio a um sofrimento indigno de qualquer ser humano, com dores lancinantes porque:
– A GEAP negou-se dar qualquer tipo de suporte em casa, não para salvar a vida da paciente, mas para proporcionar o óbvio, um falecimento sem sofrimento.
 
– Durante esse período, quando houveram pequenas crises, solicitei o serviço de emergência desse “plano de saúde” e os médicos que compareceram (CREIO QUE TERCEIRIZADOS), mostraram-se profissionais competentes e humanos. Vieram e prescreveram medicação adequada concordando TODOS com os pneumologistas e oncologistas que atenderam a paciente em consultório: MANTER A PACIENTE EM CASA, junto ao carinho da família cuidando sempre para que não houvesse dor.
 
– Por volta de 23, 25 h. do fatídico dia 17 de dezembro de 2008 novamente a emergência da GEAP foi chamada e a família e, principalmente, a paciente tiveram a profunda infelicidade, o profundo azar de ser atendida por uma equipe do DOUTOR ELY VELOSO – COM CRM N° 3209O76 – 0 – QUE, AO ENTRAR EM MINHA CASA, ME INFORMOU QUE ELE TINHA MUITA PRÁTICA COM A GEAP E QUE, DIFÍCILMENTE CONSEGUIRIA UMA INTERNAÇÃO NESSE HORÁRIO – SIM, PORQUE ATÉ PARA UM LEIGO ESTAVA CLARO QUE ESSA CRISE MERECIA INTERNAÇÃO ! O DOUTOR ELY VELOSO PROCEDEU AO EXAME DE ROTINA NA PACIENTE ME INFORMOU TEXTUALMENTE O SEGUINTE: “… SOMOS UM SERVIÇOS DE EMERGÊNCIA, REMOVEMOS PACIENTES QUANDO EXISTEM SINAIS CLAROS DE EMERGÊNCIA E, NESSE CASO, A PACIENTE ENCONTRA-SE COM TODOS OS SINAIS VITAIS PRESERVADOS. NÃO HÁ EMERGÊNCIA. NÃO EXISTE EXPECTATIVA DE MORTE IMINENTE…”
 
– DURANTE TODO ESSE TEMPO A PACIENTE GEMIA, DELIRAVA, GEMIA DE UMA FORMA COMO EU NUNCA VI.
 
– EM SEGUIDA, O DOUTOR SENTOU-SE NUM  SOFÁ E A ENFERMEIRA SENTOU-SE AO LADO DELE E DORMIU TRANQÜILA.
 
– O DOUTOR “PARA COLABORAR COMIGO” PASSOU UM RÁDIO PARA A COORDENAÇÃO MÉDICA E SOLICITOU AVERIGUAREM SE HAVIA ALGUMA VAGA EM ALGUM HOSPITAL CONVENIADO.
 
– EU PEDI E INSISTI, QUASE IMPLOREI QUE ELE APLICASSE UMA MEDICAÇÃO NA PACIENTE (MINHA MÃE) NÃO PARA SALVAR SUA VIDA, MAS PARA AMENIZAR A DOR, PARA DAR DIGNIDADE AO DOENTE.
 
– ELE ME EXPLICOU QUE ERA UM DOUTOR MUITO EXPERIENTE E QUE A MEDICAÇÃO DE ROTINA DA MINHA MÃE ERA MAIS DO QUE SUFICIENTE. EU INSISTI INÚMERAS VEZES DIZENDO E MOSTRANDO COMO ELA GEMIA, COMO A MEDICAÇÃO ROTINEIRA NÃO ESTAVA FAZENDO EFEITO E ELE ME INFORMOU TEXTUALMENTE: “…ELA ESTÁ GEMENDO PORQUE ESTÁ HÁ ALGUM TEMPO NO LEITO… “
 
– EU EXPLIQUEI E REPETI QUE NÃO ERA FATO! QUE A DOR ERA DO CÂNCER NO PULMÃO! E QUE O ONCOLOGISTA E O PNEUMOLOGISTA (CREDENCIADOS DA GEAP E EXCELENTES MÉDICOS) – TODOS DE COMUM ACORDO – HAVIAM ME INFORMADO QUE POSSÍVELMENTE MINHA MÃE JÁ DEVIA TER METÁSTASES NOS OSSOS E NO CÉREBRO, QUE ERA IRREVERSÍVEL E IRRELEVANTE SABER SE SIM OU NÃO. IMPORTANTE ERA DAR CARINHO, ATENÇÃO, CONFORTO E, ACIMA DE TUDO, IMPEDIR SOFRIMENTO, DOR. MESMO CONDENADA UMA PACIENTE MERECE TER SOBREVIDA COM DIGNIDADE E IR AO ÓBITO COM DIGNIDADE!
 
– O DOUTOR ELY VELOSO ME REPETIU QUE ERA MUITO EXPERIENTE (REALMENTE É VELHO) E QUE ANTES, DEVERIA HAVER UMA INVESTIGAÇÃO COM EXAMES ESPECÍFICOS QUE COMPROVASSEM A METÁSTASE OU NÃO.
 
– DURANTE TODA A FARSA A ENFERMEIRA DORMITAVA NO SOFÁ É O EXPERIENTE DOUTOR ELY CONVERSOU COMIGO SOBRE SUA “LONGA EXPERIÊNCIA”…. QUE FAMÍLIAS NÃO “ENTENDEM” OS PROCEDIMENTOS MÉDICOS, QUE ELE (VEJAM QUE ABSURDO!) MESMO JÁ SOFREU UM ANO DE PROCESSO IMPETRADO PELO CRM…. MAIS…. QUE DE OUTRA FEITA, UM FAMILIAR, VENDO O TRATAMENTO QUE DISPENSAVA À PACIENTE AMEAÇOU MATÁ-LO….. AH, FAMÍLIAS E FAMILIARES….
 
– DURANTE TODO ESSE TEMPO EU O OUVI E ENTREMEEI COM O PEDIDO DE QUE ELE AMENIZASSE A DOR DA MINHA MÃE (UMA SIMPLES PACIENTE) E ELE INSISTIU QUE OS GEMIDOS ERAM NORMAIS NUM PACIENTE ACAMADO, QUE A DOR ERA POR “ESTAR NA CAMA”……. POR FIM, NÃO HAVENDO VAGA NOS HOSPITAIS DE “PLANO DE SAÚDE”, ELE ME DISSE QUE NÃO HAVIA MAIS NADA A SER FEITO, QUE OS SINAIS VITAIS ESTAVAM PRESERVADOS, QUE NÃO ERA UMA EMERGÊNCIA E QUE EU, NO DIA SEGUINTE PROCURASSE A GEAP PARA PROVIDÊNCIAS CABÍVEIS DE INTERNAÇÃO. E, SEM NADA FAZER, ABANDONOU A PACIENTE (MINHA MÃE) E SE FOI COM SUA SONOLENTA ENFERMEIRA. (NÃO DEVERIA TER FICADO ATÉ QUE UMA SOLUÇÃO FOSSE ENCONTRADA???? NÃO!!!!! NÃO HAVIA RISCO DE MORTE EMINENTE !!!!!
 
– VINTE MINUTOS DEPOIS A PACIENTE “QUE ESTAVA BEM, COM SINAIS VITAIS ABSOLUTAMENTE DENTRO DA NORMALIDADE”, ENTROU EM SOFRIMENTO.
POR SORTE O MÉDICO DA CENTRAL ME INFORMOU QUE SÓ TINHA O NOSSO DOUTOR ELY DE PLANTÃO. EU EXPLIQUEI A SITUAÇÃO E O DR. DIOGO DA CENTRAL COMEÇOU A BUSCAR E, POR FIM ENCONTROU, OUTRA AMBULÂNCIA. A PACIENTE EVOLUI PARA SOFRIMENTO, SOFRIMENTO EXTREMO, ESTERTORES, OLHOS ABERTOS E PARADOS E FOI NESSE SOFRIMENTO QUE A PACIENTE DO “PLANO” FALECEU. O DR. DIOGO DA CENTRAL QUE, ESTE SIM, É UM PROFISSIONAL DIGNO DESSE NOME FICOU NO TELEFONE COMIGO… ORIENTANDO MASSAGENS CARDÍACAS, ORIENTANDO GIRAR A CABEÇA DA PACIENTE (QUE COMEÇOU A COLOCAR SANGUE E DEPOIS MUITO SANGUE PELA BOCA). O DR. DIOGO ME MANTEVE ATENTO, AVISOU A GRAVIDADE DO CASO À AMBULÂNCIA E O MÉDICO VEIO RÁPIDO E CIENTE DA GRAVIDADE DO CASO, DESSA VEZ UM PROFISSIONAL!
 
ME AFASTOU, ENTROU NO CIRCUITO, FEZ AS MASSAGENS POSSÍVEIS, MAS JÁ  CHEGOU AQUI COM A PACIENTE MORTA. O DR DIOGO DA CENTRAL E ESSE SEGUNDO MÉDICO TIVERAM UM PROCEDIMENTO PROFISSIONAL, DIGNO, CORRETO, EFICIENTE E PROFUNDAMENTE HUMANOS.
 
– COMO É ÓBVIO JÁ ESTOU TOMANDO AS MEDIDAS LEGAIS EM RELAÇÃO À GEAP ENQUANTO PLANO E AO DOUTOR ELY EM PARTICULAR JUNTO AO CRM.
– COMO PROFISSIONAL DE MÍDIA, COMO CIDADÃO ULTRAJADO E VILIPENDIADO ESTOU TOMANDO AS MEDIDAS NECESSÁRIAS PARA A AMPLA DIVULGAÇÃO DESSES FATOS EM TODOS OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO PARA ALERTAR A POPULAÇÃO O QUE ACONTECE COM PROFISSIONAIS TERCEIRIZADOS COMO, CREIO, DEVA SER O CASO DO NOSSO ‘EXPERIENTE DOUTOR ELY VELOSO”
 
DEFINITIVAMENTE UMA LÁSTIMA QUE DEVEMOS, TODOS OS CIDADÃOS, LUTAR PARA EXTERMINAR DO CONVÍVIO DE TANTOS OUTROS BONS PROFISSIONAIS. GANHARÁ A POPULAÇÃO, O CRM E QUEM SABE OS “PLANOS DE SAÚDE”
 
 
GERALDO LUIS IGLESIAS
(FILHO DA PACIENTE)

O crime dos planos de “saúde”

É um absurdo o que os planos de saúde fazem com os sócios que os sustentam! A pessoa paga anos e anos (na maioria das vezes usando muito pouco ou nada). No final da vida, uma senhora de 81 descobre um câncer. O médico prescreve a quimioterapia que poderá salvá-la (pouco provável), mas que dará um mínimo de qualidade na sobrevida. Tratando de um medicamento de alto custo, o plano de “saúde” não autoriza o tratamento e, questionado cria um inferno kafkaniano onde os parentes são jogados para lá e para cá, de setor em setor, de estado em estado. As explicações são as mais absurdas (“o código X não bateu” – “a culpa é da clínica” – “precisamos analisar com calma”) e outras quinhentas boçalidades. Enquanto isso a paciente piora de forma galopante perdendo peso, sofrendo dores atrozes e o familiar fica desesperado, correndo atrás do seu direito, a pessoa perde a cabeça, não se concentra mais em nada, acaba prejudicando o trabalho, acaba fazendo e dizendo coisas que não devia.

Tudo vai se tornando um círculo vicioso, uma coisa puxa a outra que puxa a outra. Sofre o familiar – impotente, mas sofre muito mais a paciente que além das dores (e muitos outros efeitos colaterais) fica observando a morte se aproximar a passos largos.

É um absurdo, um crime!

a falta de um professor

vários romances tratam das fases terminais. lembro de um filme que um escritor (Sean Connery), condenado, passa todos os ensinamentos para seu aluno. este, tem loucura por esse professor/escritor que, percebendo que está definitivamente terminal, estimula o jovem a escrever um romance. o professor é um erudito renomado, sem avisar, escreve o prefácio para a obra do aluno, não avisa e some durante um mês. ao fim desse tempo o aluno recebe o prefácio do mestre junto com o anúncio do seu falecimento. o rapaz entra em desespero (sequer sabia que o mestre estava doente – ele vivia apenas bebendo!). o filme não é sentimentalóide nem babaca. o professor esculhambou o aluno enquanto pôde, fez todas as críticas possíveis para que o jovem escrevesse direito. repito: ele some. ninguém vê, ninguém sofre, ninguém tem pena de ninguém.

outras obras, como o último romance de Philip Roth mostram detalhadamente os últimos dias de seu personagem predileto, seu alter-ego. detalha todos os sofrimentos e angústias, dores, dúvidas.

Pergunto-me qual a maneira correta de agir. O que se faz nessas horas? Minha tendência, contrária à do doente, é me esconder. me embriagar (muito e sempre) e me esconder. covardia? talvez. e o que é a covardia? quem pode dizer? o julgamento eu mesmo faço e sou o promotor, jamais o advogado de defesa! nuvens negras em frente à minha janela… nuvens nigérrimas.

Ainda Inês

“O que me interessa é a diferença. Interessa-me a voz das margens, a poesia dos rebeldes, dos bêbados, dos discriminados, tipos que não encontram quem os ouça e que têm a verdadeira experiência dos abismos!”

Inês Pedrosa

O medo como representação

Sigo fielmente as indicações de K. sobre livros (menos os clássicos porque já li a maioria e não ando com saco. Acho que agora é a vez dela…(rs). Ela diz que Ricardo é o mentor literário dela e, já que ele se nega a ser o meu (rs – transtorno de homofobia…rs), transferi esse conceito de guru para ela.

Isso para contar

que estou começando a ler “Nas tuas mãos” de Inês Pedrosa e, pelas primeiras trinta páginas, parece-me uma obra de arte, um exercício literário desses que todos nós deveríamos fazer sem nos preocuparmos em que ano ou século o livro foi escrito. Desses livros que a gente vai lendo com vagar, prestando atenção a nuances que a autora vai mostrando e escondendo, dando a perceber e não dando outras vezes. Em alguns momentos, em meio à leitura, percebo que “tinha alguma coisa ali atrás”, no meio da página passada e não me dei conta. E volto lá para constatar que sim, havia uma ou mais frases dessas que nos tiram o ar, nos emocionam, nos fazem repensar toda a vida. Principalmente (se algo pode ser ‘principalmente’) o Diário de Jennifer – é nele que estou e já acho quase impossível um relato mais chocante e impressionante. Os mistérios das nossas almas, dos nossos gostares, das nossas opções. Quantas opções temos cada um de nós e não as praticamos porque estão apagadas, completamente apagadas no fundo do nosso cérebro, uma inconsciência terrível que impossibilita a plenitude de viver.

A força das mulheres é tão maior e mais profunda que a dos homens que compará-las é covardia.

Assim vou passando meu tempo enquanto chove tanto lá fora e sinto-me tão, mas tão só, como se fosse o único vivente desse mundo. O pânico (que falei abaixo) senta-se ao meu lado e fica tamborilando o teclado junto comigo, coloca o braço sobre meu ombro como se fôssemos já, inseparáveis. E justamente, ao lado desse pânico

vou reaprendendo a viver

vou percebendo que tudo o que mais considerei até o momento não era de fato o mais importante. Porque o momento é o agora e a forma como o futuro começa a levantar as cortinas para mim, muito suavemente, de forma a que eu vá tomando ciência, que vá percebendo pouco a pouco e a me ensinar principalmente que, ao contrário do que eu sempre acreditei e gritei, EXISTE futuro. Sim. E esse futuro é sempre pior do que o presente, as coisas podem melhorar sim, mas podem piorar igualmente… não… em tudo e por tudo, as coisas pioram sempre.

“RENEGO A PRIORIDADE DE IMAGINAR QUE ALGUMA COISA ESTEJA PREPARADA PARA LOGO APÓS AQUELA ESQUINA” E AGORA RENDO-ME À IGNORÂNCIA QUE TAL PENSAMENTO POSSA ESBOÇAR.

Então o que faço em meio à borrasca, em meio à chuva que açoita e ao meu espírito QUE vira um nada, não um “oceano de cachaça” como cantou meu amigo Geraldinho Carneiro, mas um respingo, uma pequena poça de uísque de quinta misturado com anti-depressivos e outras drogas baratas, drogas que não drogam, que fazem não um grande efeito, mas cócegas nas grandes angústias. Sim, essas grandes angústias conseguem te jogar no chão, cara, ainda que ao lado possa existir uma angústia mil vezes maior (e se não sinto, posso entender, mas não percebo). Somos egoístas? Não sei, não creio que seja uma avaliação muito correta como a querer que apenas as pessoas mais desgraçadas do mundo, em todos os sentidos, tenham algum direito a sofrer. Volto à “NAS TUAS MÃOS”. volto a torcer de K. me apareça, volto a torcer para que os sábados não terminem porque eles, minhas gripes e as chuvas são o álibi que uso tão à vontade nesse meu mundo de mentiras, de escamoteações constantes, de fugas atrapalhadas, de tremores durante o entrecortado sono.

Fuga

Fiquei me questionando se eu escrevo tanto sobre a doença da minha mãe para angariar peninha dos outros, pra levar tapinhas nos ombros e ouvir palavras doces e carinhosas. Por um tempo achei que, mesmo inconscientemente, era isso. E acredito até que isso não é de todo condenável, que as pessoas se fragilizam mesmo em alguns momentos e precisam de um ou vários ombros. Eu mesmo sei que vou precisar do ombro do meu gato, quando a coisa estiver consumada e eu estiver deitado na cama olhando o teto e sem coragem para mexer um músculo.

Mas existem coisas e coisas e a cabeça da gente não pára

Então fiquei pensando que pode não ser exatamente isso, pode ser que quanto mais eu fale nesse assunto, quando mais eu comente a dor (minha e dela), quanto mais isso estiver exposto, cru… nu… na veia… enfim que essa coisa vá exorcizando uma parte do medo, uma parte da saudade antecipada, uma parte do sofrimento incontido e, principalmente, do pânico. porque essa é a palavra correta para definir a morte anunciada: PÂNICO. Então, sim, é verdade que ando em pânico – que bebidas e calmantes praticamente não fazem efeito algum, – que eu me distraio ora vendo TV, ora trabalhando, ora lendo ou escrevendo, mas meu pensamento escorrega, escapa da prisão que eu pretendo mantê-lo e tudo volta desesperadamente e esqueço o que estou fazendo, o que decidi, o que li, o que trabalhei. Tudo passa a uma condição muito inferior, passa a uma condição de ‘SUB’, como se nada das coisas da vida vivida pudesse estar no centro do pensamento, na angústia desesperada (como se o desespero resolvesse alguma coisa). Então eu digo. Não. Não a nenhuma opção, a nenhuma explicação mais psicógica ou filosófica. Trata-se exclusivamente do bom e velho pânico. PÂNICO por tudo o que virá, por todas as lágrimas, dores físicas, falta de ar… incapacidade generalizada que é o que acontece. De verdade. A verdade, irmão, é dura, muito dura. É claro que todos nós na vida, num momento ou em outro, passamos pelas mesmas coisas e que, o que para nós parece o mais terrível, terrivelmente diferenciado, não é. Não. Todos passam pela mesma situação e todos acham que sua dor pode ser a maior.

É isso: exercício para conviver com o pânico mais absoluto.

Sendo assim, já sei que escreverei dezenas de cadernos, milhares de posts, e.mails, cartas manuscritas e, possivelmente, não enviadas e tudo para nada. Tudo para meu consumo próprio que é o alívio do sentimento que trago – de certa forma egoísta – o pânico. É quando você não consegue mais racionalizar nada, tudo está de ponta cabeça no seu espírito e você confunde essa inversão com o mundo e acha que o mundo anda plantando bananeira, acha que as pessoas te apontam o dedo acusador. Melhor: as pessoas, não. Deus. Um deus em que você não acredita, nunca acreditou e jamais vai acreditar… pois esse deus se materializa unicamente para acusar e depois volta à sua condição de nada.

Enfim, nada é nada. Na fuga, busco exorcizar tudo o que vai em mim. E sem nenhuma garantia de sucesso.

TRATAMENTO AO CÂNCER TERMINAL A GEAPE NEGA TRATAMENTO POR QUIMIOTERAPIA!

HÁ POUCOS DIAS CONTEI AQUI QUE MINHA MÃE, COM 81 ANOS, ESTÁ COM CÂNCER NO PULMÃO – NÃO OPERÁVEL DEVIDO À SUA IDADE. – O MÉDICO PROVIDENCIOU UMA SERÉRIE DE QUIMIOTERAPIAS PARA TENTAR SALVÁ-LA OU MINIMIZAR SEU SOFRIMENTO.

PARA MINHA SURPRESA, SOUBE HOJE DO SEGUINTE: O PLANO DE SAÚDE A QUE ELA É SUBMETIDA (COMO FUNCIONÁRIA PÚBLICA APOSENTADA), A GEAPE, PAGOU TODOS OS EXAMES PARA A CONSTATAÇÃO DO CÂNCER OU NÃO. POR FIM, ELE FOI CONSTATADO, O MÉDICO PRESCREVEU A QUIMIOTERAPIA E – SUPRESA! – A GEAPE NÃO AUTORIZOU!

Miar como meu Gato

Lendo Oceano Mar (já bem no finalzinho), indicação dela (que sempre indica o que há de melhor). Realmente um livro como poucos. Lembra-me um pouco Elias Canetti, mas não é bem isso, é de uma outra forma. Os livros voltam a se avolumar aguardando leitura. Tem os Ensaios Reunidos do genial Samuel Rawet e outras cositas más. Insisto em que o tempo é curto, não tenho como fazer todas as coisas que desejo mais as que necessito. Existe em mim uma pressa, um desassossego daqueles que estão com a morte decretada como se todos nós não estívessemos. A morte deixa de ser essa coisa longínqua em que não pensamos mais. Reflexo, com certeza da idade (muito embora conheça gente de oitenta anos que não pensa nisso). Ou então é de mim mesmo, talvez falta de assunto para pensar… sempre desejei pensar como a boneca Emília ou como Peter Pan, mas, castigado pelo ateísmo, isso me foi negado. Fico então especulando sobre isso e aquilo, sobre o porquê de algumas coisas que, mesmo explicadas, parecem-me inexplicáveis. Especular é uma forma de burrice, não tenho a menor dúvida. Uma pessoa que não tem nenhum sintoma de ignorância não especula sobre nada, faz apenas assertivas disso, daquilo e daquilo outro (ainda que não sejam totalmente verdadeiras – que não sejam comprovadas cientificamente). Mas é o que ocorre. Pode ser de passar muitas horas calado (ainda não aprendi a miar como meu gato), esse silêncio que me invade e eu adoro pode trazer em seu bojo determinadas neuroses (a mais) que eu ainda não possua, pode tornar-me uma pessoa com referências equivocadas ou, mais provável, sem nenhuma referência. Não sei ao certo. Sei apenas que o tempo passa, as coisas acontecem muito vagarosamente e vou me perdendo em pântanos jurássicos, desses que eu nunca imaginei encontrar. Lembra-me uma carta do Tarot pela qual sempre tive simpatia e admiração. O Tarot não deixa de ser meu refúgio mítico porque inventei uma teoria sobre o baralho (que não é baralho, é livro) e um certo discípulo de Freud. Igualmente descobri que Freud foi completamente descartado e vencido pelos cientistas, pelos Químicos de hoje em dia. E assim, de história em história vou pulando como quem pula de pedra em pedra para não enconstar na corredeira de lavas incandecentes que passam por aí.

Sétimo Selo

Algumas dúvidas me assolam imediatamente após a última linha do último livro de Roth. São as mesmas dúvidas de sempre, embaladas com a qualidade de um bom texto literário. É um existencialismo despojado de filosofia e transformado subitamente em arte maior, em narrativa vivenciada na imaginação do autor maior quando seu alter ego envelhece com as agruras de quem retirou uma próstata cancerosa e reencontra amigos todos eles muito doentes ou mortos. Como se estivesse num outro mundo, como se todos os caminhos indicassem que ele, igualmente, deveria “sair de cena”. E, à medida que avançamos o romance, avançamos em idade, no dissabor da velhice e toda a sua desgraceira que nos aguarda sempre em cada esquina. Esquinas que não podemos evitar, espaços-tempo que não deixam atalhos ou encruzilhadas. Olhamos fixamente em frente e nossas pernas têm um caminhar autônomo que foge e ri da nossa tentativa de parar. Seguimos como quem segue preso a trilhos de uma montanha russa controlada por um deus sacana, velho, feio e doente, prisioneiro de uma psicose que ele mesmo criou. O homem segue embalado não mais por cantigas de ninar, mas pelo som indescritível soprado com hálito podre pelas bruxas ancestrais como que fugidas do Sétimo Selo com toda a sua peste e pestilência. O homem continua escorregando, buscando agarrar-se a alguma coisa que o salve, que diminua a velocidade da queda e percebe que não há nada em volta. Pessoas são apenas fantasmas que riem impregnados por suas condições do que “não são”, passaporte para a salvação de suas almas que nos deixam escorregar sem pena, olhando nossos olhos arregalados de pavor. O mundo é um pavor, é fruto de todos os pavores de nossas mentes que não tiveram oportunidade de optar desde o início do tempo.

A projeção de um fim escorregadio, falso

Tenho a impressão de que esse é meu último fim de semana em casa. Nos outros estarei trabalhando, me desesperando, chorando pelos cantos como um bebê chato. Bebês são chatos. Homens são chatos em sua eterna burrice. Muitas vezes sinto-me obrigado a falar com pessoas que não me conhecem, que não conhecem o que eu conheço e conhecem coisas que não conheço. Essa divisão mal versada de gostos e conhecimentos afasta mais do que aproxima. Por engano ou inocência, achei que na velhice encontraria algum tipo de paz, algo como um porto seguro (o que não quer dizer necessariamente uma mulher), algo que me fizesse diminuir o número de pílulas, de garrafas de uísque ou seja lá que cabeçadas vou dando por aí. Não aconteceu, nada mudou e isso me preocupa porque, se nada muda realmente, continuo com o amargor na boca, com a ansiedade, a pressão no peito. Pessoas passam e eu, com jeito para não parecer mais maluco do que sou, afasto-as, digo que estou no meio de uma tarefa inadiável mesmo sabendo que é mentira. Quando mentimos para nós mesmos essa idéia de mentira se minimiza porque não estamos sendo maquiavélicos, não estamos aprontando para o outros… Não? Claro sim! Quando mentimos para nós mesmos institucionalizamos a mentira, banalizamo-as, fazemos dela uma verdade num universo de ponta cabeça. Não tenho esperanças de escapar dessa roda viva, não tenho esperanças de que nada se altere até porque não sei como eu me sairia num mundo diferentes, diverso desse que abomino. Os filósofos, por sua vez, me parecem muito fracos, frágeis, inocentes. Os medicamentos são sempre muito fracos e deus, coitado, precisa ser inventado e reinventado por cabecinhas tolas. Entrego-me a um sono (induzido), busco vivenciar os personagens que leio, começo a perder a esperança em me desconstruir sempre porque a argamassa é a mesma.

O que é o MST?

Além da anarquia generalizada, alguém sabe dizer que o MST pretende realmente (súcia chefiada pelo Stédile)?

Sonhos ou delírios

Às vezes sinto vontade de falar da minha família. Minha mãe, meus filhos, minhas tias (que me deixaram órfão), meu irmão e mais  outros, mais distantes. Não consigo, entretanto. Alguma coisa aconteceu, em algum momento que me desgarrei de todos e eu mesmo, sozinho, passei a ser minha família, com a convivência de Artur, meu gato. Já procurei entender o que aconteceu nesse período e não consegui. Nem porquê aconteceu. Com certeza não foi minha família que me abandonou, fui eu que a abandonei. E por quê? Não sei. Talvez preservá-los de perceberem os caminhos que escolhi para mim (resposta cômoda? Sim.) Talvez ainda tenha entendido que, mutante e ermitão por opção, devo seguir meu caminho sem dividir com quem me conheceu no passado – no que me transformei no presente. Talvez, nenhuma das opções acima. Certamente alguma coisa mais profunda (quem sabe, inconsciente?) Famílias encontram-se mais freqüentemente em datas especiais. Nem isso eu faço. Muito poucas coisas eu sei porquê faço. Talvez eu seja um alienado, talvez um mutante, talvez um sobrevivente (não no sentido glamouroso que a palavra se tornou recentemente). Não sei ao certo. O que tenho de certo sou eu e uma possível UTI. Não, nenhum drama, apenas as perspectivas que se encerram em mim diante de uma idade que se encaminha para “avançada”. Já contei aqui que durmo abraçado com meu gato. Já contei que, eventualmente, me deixo levar a ambientes (um tanto sórdidos) onde só existem bebidas, fumaças e alguém cantando na madrugada músicas que gosto e outras que detesto. Com certeza, uma vida errante. E não sei exatamente o que seria uma vida não errante fora o aludido convencional que abandonei. Melhor, não abandonei, a idéia é viva. Não realizo, simplesmente, o convencional. Talvez eu esteja procurando alguma coisa nova como o rouxinol que canta ao alvorecer e me confunda por não estar na alvorada vida. Talvez me perca entre sentimentos diferenciados e, por que não dizer, difusos, intransponíveis. Certamente não estou tratando a realidade de maneira amadora. Não! O que existe é a necessidade – não dita – de uma compreensão impossível. Muitas vezes me encontro no limiar do impossível, da retórica canhestra, do sonho escorregadio, da expectativa vã. São todas encruzilhadas, são todas relativas a uma certa fragmentação de um eu que nunca foi de fato. Percebo que é uma ilusão acreditar que falo toda a verdade na medida em que não a conheço completamente, numa ambiência em que verdades e sonhos e delírios se misturam de forma evidentemente não coerente.

Padre gaiato

No prédio em frente, preso por cordas, um operário vai descendo rente à parede. Só de me imaginar naquela situação fico suando frio. Mais de dez andares! O que faz uma pessoa escolher profissões assim? Eu sei, a necessidade, a fome. Certamente não é escolha dele (como a do padre gaiato de viajar pendurado em balões de festa de aniversário). Esse homem aqui está pendurado numa corda. Desce numa espécie de rapel, com os pés apoiados nas paredes externas do edifício. D-u-v-i-d-o que ela tenha participado de qualquer curso ou orientação profissional pra fazer isso. Esses homens – pobres homens – são movidos exclusivamente pela fome e pela noção absoluta de cidadania (ou virariam bandidos). Fico olhando e me perguntando: quanto ganham para fazer o que fazem? Afinal, não passam de operários. Gente sem rosto, sem voz, sem direitos… E se ele se machucar? Como será tratado num hospital público? E se ele morrer? Quem paga o enterro, quem sustenta a família (certamente numerosa por falta de educação sexual e geral)? Enfim, pobres homens arriscando a vida e a saúde diariamente no limite do tolerável para levarem, de madrugada, pão para dentro de casa. Enquanto isso, aquele imbecil daquele padre fica fazendo gracinha. Morreu? Certamente… Com certeza – de maneira inibida – era um suicida. Mas eu me interesso muito mais pela vida dos operários do que a vida desse padre.

Não, não é uma questão de desumanidade. É não gostar de bater palmas pra maluco dançar. 

Atenção

Todos sabem que a mais terrível arma das ditaduras são os meios de comunicação. Países em que o governo controla jornais, rádios e televisões são ditaduras sem sombra de dúvida. Sem imprensa livre não há democracia, estamos cansados, todos, de saber. Mas como a sociedade reage? Como se posicionam os intelectuais de cada região ameaçada? Que atitudes a classe média toma? E os outros meios de comunicação? Como se dirigem ao povo? Os que têm o poder da escrita e da publicação, da divulgação de idéias… o que fazem? Até mesmo um blog fomenta idéias! O que todos nós estamos fazendo com o poder de divulgação de opiniões que as novas (nem tão novas) tecnologias nos oferecem? 

Velhos equilibristas

Tempos silenciosos. Tempos em que não nos comunicamos, preferimos não dizer, não questionar nem afirmar. E já não sei se esse tempo é bom ou ruim. Mas há silêncio, sem dúvida. Estamos demasiadamente envolvidos conosco, observando nossos pensamentos (sempre escusos). Porque, na verdade, existem outros eus, uma outra personalidade que habita meu corpo, o seu, o dela. E conversamos – e damos ouvidos – a essa outra personalidade. Virgínia Wolf escutou tantas e tantas vozes que preferiu o fundo do rio. Nós não escutamos vozes. Nós criamos vozes, personagens que somos de nós mesmos e que se rebelam provocando nossas discussões internas e, portanto, nossos silêncios externos. Não existe esse homem só que Camus pretendeu. Existe o homem como grupo. Interno e externo. Existe sim a possibilidade da paixão devoradora ou do ócio emocional. Uma ponte arcaica de madeiras e cipós que atravessamos pé ante pé, atentos a que o desequilíbrio pode ser fatal. Gal Fatal. Buscamos horizontes além das nuvens não porque necessitemos sonhar, mas, antes, porque AQUI não basta. Não me basta esse aqui, nem aquele ali. Preciso (precisamos) de mais, de muito mais, de mochila nas costas da alma para viagens longas, para terras e pessoas desconhecidas. Nossos passos são de anos-luz. Nossa curiosidade não finda com o ponto último do romance. Seria simplista demais. Ontem vi um homem velho e, aparentemente, embriagado equilibrando-se no meio da rua à noite, numa encruzilhada com os carros passando à sua volta, passando pertinho e fiquei ali olhando, sem conseguir me mexer, esperando um carro atingir mortalmente o velho. Por que não fui salvá-lo? Por quê? Mas a vida independe de mim e o homem chegou à calçada salvo como um justo, mais salvo do que eu. Vi um velho em perigo, pronto para morrer e fiquei paralisado. E ele me mostrou que, sim, a vida independe das minhas ações e talvez hoje ele esteja novamente cambaleando numa encruzilhada e vá morrer apenas quando chegar à calçada, morrer de morte morrida, dessas sem história para contar, sem colorido vermelho. Na verdade estamos todos nas encruzilhadas da vida e da morte, estamos todos nos equilibrando em qualquer coisa, todos sendo observados, todos definitivamente sós.

Orelha de livro e dengue

Dias chuvosos, pessoas de caminhar apressado com guarda chuvas ou não. Pessoas que olham para os lados ao pressentir qualquer coisa, seja a presença de um estranho – possível assaltante – seja a percepção de um mosquito – certidão de óbito. Sei que essa vida, esse tipo de vida “seria” normal nas grandes cidades, mas não tanto quanto no Rio de Janeiro. Os jornais e seus especialistas e conteudistas dizem que o Rio não é a cidade mais violenta do Brasil. Realmente não sei se é verdade, mas tenho certeza de que é violenta o bastante para deixar as pessoas apavoradas. Na minha esquina existe uma antiga e simpática loja de doces (onde sempre fui com meu filho comprar ‘balas boneco’). Pois o dono, um senhor aparentemente saudável morreu esta semana de dengue. Como podem tantas pessoas morrerem de dengue?! As populações de outras cidades estavam tranqüilas, entendendo que a dengue era um mal do Rio (e é), mas o descaso nojento das autoridades responsáveis (??? ah ah ah) propiciou o inevitável: a doença está começando a espalhar-se pelo país. Dia desses me falaram uma bobagem qualquer à respeito do livro “A Peste” de Camus. Nada a ver. Camus escreveu um crônica política, metáfora do tempo que ele vivenciava e dos movimentos políticos que fervilhavam. O Rio tem uma epidemia de uma doença chinfrim, terceiro-mundista, compatível com a inércia e o desrespeito babalaô de autoridades (autoridades? ah ah ah). Tudo (ou quase tudo) me irrita nesse país: tanto o descaso de políticos safados quanto as opiniões tolinhas de “erudidos” de ‘orelhas de livros’ ou do Google.

Extermínio Permitido

A situação na China e Tibet é insustentável. Americanos com seu poderoso exército deveriam estar lá numa missão de paz antes que chineses exterminem tibetanos, mas claro, o presidente preocupa-se apenas com o Iraque e não quer mexer na parceria com a China e seus produtos baratos. E onde estão todas as ONGs de Direitos Humanos e tal (só servem para abraçar árvores e lagoas? Para recuperar corpos de revoluções passadas?) Que mundo, que gente sórdida!

OBS: SAIU ROMANCE INÉDITO DE PAULO FRANCIS!

A guerra

Muitas vezes é preciso criar uma situação onde se instale um momento político crítico para chegarmos ao que poderia ter sido conseguido da forma mais tranqüila possível. Nem sempre “soluções pacíficas” ou tentativas de solução dão certo. A guerra e, principalmente, a arte da guerra deve estar presente em cada pessoa que luta por um lugar ao sol, que luta para realizar alguma coisa. Sem essa espécie de guerra cria-se uma pasmaceira absoluta onde, definitivamente, nada acontece. Isso é prejuízo em todos os sentidos para todas as pessoas, para todo o grupo humano, tanto para realizadores como para receptores. Verdade que, forçando um viés claudicante, já se pode dizer que a internet fomenta a discussão. Infelizmente é muito pouco. É necessária a guerra presencial onde as pessoas se expõem e, invariavelmente, caem as máscaras.

A bendita Terceira Idade

Dia desses João Ubaldo escreveu um excelente crônica falando do envelhecer, dessas promessas tolas de nos fazem com a tal Terceira Idade, Real Idade, etc. Depois de Ubaldo não há nada mais a ser dito. Mas, como o tempo não corre somente para ele, vejo-me aqui ouvindo as gargalhadas do tempo, sua ironia prevalecendo apesar do meu desdém. Sim, fico um pouco mais velho. Pensei em mentir sobre minha idade, mas é impossível: as marcas em meu rosto e corpo (mal tratado) me denunciam. Algumas pessoas me perguntam o que eu queria receber de presente e à todas respondi que almejava uma bengala. Ninguém deu. E, como neurótico ansioso que sou, fui lá e comprei uma bengalinha bacana, tipo a do Bat Masterson (sei, sei, vocês nem imaginam de quem se trata). Mas realmente não posso me queixar. Todos os meus amigos têm sido muito carinhosos comigo. Isso me basta e me satisfaz. Claro que eu vislumbro a velha, envolta em panos negros carregando a foice nessa fila de gente que se aproxima. Não me assusto. Desdenho. Vou pagar a alguém para entrar na fila sempre antes da foice, vou adiar o quanto puder. Quando não der mais tenho certeza que vou me tornar um santo, um anjo vestido de branco e sentado sobre nuvens de algodão à direita de Deus Pai Todo Poderoso (ahahahah). Viu? Isso já é resultado das “benesses” da Real Idade. No mais… o quê? Nada. Nem a cervejinha para refrescar chega a ser uma novidade (segundo alguns (muitos litros de uísque hahaha). Taí. Pois isso realmente me frustra: você chega na Terceira Idade, esse monumento maravilhoso que os jovens olham de longe e nem pussuir as tais várias garrafas de uísque para esvaziar -quer dizer: velho e pobre! rsrs. Claro que sempre tem aquela alma que te responde: mas com saúde, meu filho!! Saúde?? Convido qualquer um a visitar minha farmacinha particular. Tomo remédio para tudo e, principalmente me precavenho muito negando-me a fazer qualquer exame. Não quero saber como vão minhas “taxas” de nada! Ignorância, dirá um apressadinho de plantão. Sim, prefiro ser um ignorante feliz do que um terminal infeliz!

Tudo começou quando percebi que as pessoas me chamavam de senhor e de seu Geraldo. Caramba, isso sim é duro! O cara se aproxima e pergunta: Quantas câmeras o senhor vai usar nessa cena, seu Geraldo? Minha vontade e de jogar a câmera em cima do desgraçado. Chego no meu barraco e o porteiro diz: ‘Boa noite, seu Geraldo’. Eu murmuro alguma coisa e saio correndo. Por fim, olho-me no espelho (contrário a Dorian Gray) e vejo aquele velho de barba branca, de olhar cansado, tossindo e tudo o mais. É verdade – penso comigo – tenho mesmo que aceitar essa história de “seu isso” e “seu aquilo”. Corro para o mar como as águas de março. Meu Caetano Veloso não tem barriga, mas os cabelos grisalhos não escondem sua idade. Vinícius. As últimas aparições de Vinícios são meu consolo: velho e barrigudo como eu (só que ele tinha talento e eu não! rs). “A gente mal nasce, começa a morrer” – dizia ele. Eu sei, eu sei, eu sei. Bom, agora é hora de receber as visitas ( que se resumem à minha velha mãe).

Assim não dá

Imprecisão. Este é o sentimento. Falta de mim mesmo, de me reconhecer naquilo. Sinto impessoalidade, desarmonia interior e exterior. Fluxo às avessas, pororocas constantes. Cheiro de mofo. Eu sei que as pessoas provocam isso, por isso me afasto desse convívio humano. Não percebem o que eu falo sobre a Estética. Não conhecem a mim, minhas propostas. As pessoas mais próximas de mim estão em desacordo comigo. Todas as pessoas estão à beira de um ataque nervos (eu já tive o meu). O que eu vejo é um monte de gente desesperada, um monte de gente gritando, um monte de gente querendo abandonar o barco, apontando dedos acusadores para mim. Talvez tenham razão, talvez não. Para que se compreenda o todo é necessária uma parceria absoluta, as pessoas não podem estar descontentes. Não sou eu o bicho papão, eu sou o que deseja colocar para frente, deseja harmonia. Claro que trabalho sob estresse, mas todo mundo tem que me acompanhar. Todo mundo tem que se conter. Defeito ou não, a verdade é que me inviabilizo no meio do desespero, da discórdia, da histeria coletiva. FHC usava uma expressão perfeita: “Assim não dá”!

Me perdi de mim – mas com tesão

Dia longo, poucas palavras. Sinto-me estranhamente esvaziado. Respondo a 300 perguntas em média por dia. Nem de um terço eu tenho certeza (e quem disse que eu tenho certeza de alguma coisa?) Dia a dia eu descubro que não tenho certeza de nada, que ninguém tem, que a vida é uma inspiração sem a garantia da expiração ou vice e versa. E no final eu faço o quê? Não sei, não sei e não sei. E quer saber? Nem quero saber. Sei que não existe o sempre nem o nunca, sei que a vida me leva e pessoas pontuais me gostam ou acreditam. Outras tantas desgostam e desacreditam. Normal.Um dia pretendi ser Super-Homem, dia de quase 50 anos atrás. Agora quero ser super flit… brasileiro… essa coisa jeka atávica que o Francis falava, essa coisa Macunaíma (detesto Macunaíma). Esse jeito babalaô que ora me encanta e ora me desespera de ódio. Rita Lee cantou “Sou amor da cabeça aos pés”. Cantei com ela. Talvez hoje nem cante tanto, mas queria ser, queria deixar alguma coisa que olhassem e falassem: ‘gozado, olha o que esse maluco fez… devia ser internado num manicômio’. Mas nem isso.. Quem fez isso foi o Raul Seixas. Então tá, eu imito ele naquilo que me pretendo, que tenho a ousadia de dizer que mais ou menos sei fazer. Sei? Sei nada! Eu já disse que não sei nada e não é brincadeira, eu gosto só de experimentar, de ver o que pode dar de uma coisinha que eu penso, imagino (nunca consegui realizar exatamente o que gostaria, mas quem conseguiu ?) Enfim, vou fazendo, experimentando, dando minhas cabeçadas – que não são absolutamente poucas – me amparando aqui e ali como cego em tiroteio. Mas com tesão.

Poe

Não ouso falar da minha morte nem do corvo que pousará solitário na lápide (se houver uma). Penso mais na quantidade de aves negras que voam alto sempre numa espécie de círculo ameaçador aos viventes. Sou um desses viventes que aparece eventualmente em farrapos nesse lixões que se alimentam do lixão social. De certa forma Poe mostrou isso sem ser explícito (e aí a sua grande arte). Beckett idem e centenas de milhares de anônimos que não publicaram, foram atores dessa sexta macabra que a vida às vezes insinua.

Praga Eu

Eventualmente me dizem que crio problemas e inimizades pelas coisas que escrevo e tal. Não tenho certeza se é assim verdade, mas tenho certeza de que digo apenas as coisas em que acredito, as coisas que não me convencem, etc. Grito sim contra falcatruas, peço um pouco mais de ética e imploro para que os insatisfeitos não me respondam, que me ignorem porque eu sou apenas uma opinião, sou apenas uma possibilidade de avaliação (que, a meu ver, está correta), mas respeito quem discorda, quem cospe em tudo o que eu digo. Simplesmente sou a praga que não esperavam, mas morro facilmente com penicilina.

Bastidores escusos

Mistério….. Por que Afrodite não publica mais nada e tem um banner (sem link) do Terapia da Palavra? O que acontece com as pessoas após dobradinhas e sociedades mal explicadas? Por que não vem todo mundo e coloca as coisas às claras como fez a Meg quando “morreu”? Existem então bastidores mal resolvidos nos blogues? Será isso? Ou inocência e culpa? Por que não dizer que foi um equívoco? Por que os “alunos” que adoraram tanto não se manifestam? Quem ganha? Quem perde? Porque me contam escondidinho sua renda mensal para me mostrar que não necessitam golpear os incautos? Vou participar da próxima oficina e publicar aqui o “material de trabalho” oferecido, pode ser?

Meus heróis morreram de over dose

Certo, muitas pessoas se aproximam e muitas pessoas se afastam. Não sei realmente se eu queria que fosse assim ou não. Acho simplesmente que são movimentos da vida, movimentos pendulares que, muitas vezes, não nos damos conta. E a pessoa que se afasta sem que você esperasse que se afastasse? Bom, essa pessoa tem opções a serem analisadas. Ou ela não entendeu nada do que você disse (o eterno problema de cognição), o que é bem frustrante, ou ela não é a pessoa que você imaginava que era. Eu não posso agora começar a achar que todo mundo é burro, não é verdade? Então eu prefiro um movimento inverso, prefiro achar que o burro sou eu que acreditei em algumas palavras (campesinas). Ok, o burro da história sou eu. Mas…. espera! Se o burro, reconhecidamente, sou eu, a pessoa (que não é birra) é esperta. Espertalhona. E o que é um espertalhão? Um nada. Um burro de salto alto. Ou seja, a mulher que ameaçou ser burra e eu concluí que não era, que o burro era eu, terminou tomando o caminho inverso e sendo burra ao cubo. Sou um burro e ela é burra-burra-burra. Mas esse também é um raciocínio burro (de achar que, no fim das contas, todo mundo é burro). Não. Não pode ser. E agora? Como avaliar quem é, pelo menos, pouco burro? Creio que Unamuno, com outras palavras, trata disso. Mas eu não lembro detalhes e não quero pesquisar agora porque estou envolvido com Sylvia Plath. Não estou muito envolvido, mas estou porque fico avaliando esse temperamento de mulheres suicidas e começo a achar que TODAS as mulheres são suicidas em potencial (!) (o que, reconheço, é um pensamento insano e suicida). Porque Clarice Lispector, por exemplo, que é meio “musinha” e tal era bacana e não se suicidou, mas, em contrapartida não foi a fundo em nada. Sim, vamos ser francos, Clarice é muito legal, genial que seja, mas não foi fundo nem em Água Viva. Não adianta me crucificar por dizer isso, essa crucificação seria tolinha, meio cabocla. Você pode ser maravilhoso sem pisar em terreno minado e ser maravilhoso (ou nem tão maravilhoso assim) pisando em terreno minado. E eu estou falando de pisar em terrenos minados porque só essa atitude nos coloca no limbo e quem não se arrisca ao limbo não vive, não é, trata-se de uma expectativa, de uma proposta de. Mais nada. Então quando uma pessoa se afasta de mim após dizer tudo o que disse… me manda a seguinte mensagem: ‘ok, rapaz, não gostei do que você disse e não sou mulher de pisar em terreno minado nem de ir ao limbo, sou jekinha, sou do interior, portanto não continuo nesse jogo seu’. E continua: ‘Eu banco a muherona enquanto eu domino a parada, enquanto eu dou as cartas, mas não aceito ser uma participante, não quero me arriscar a perder, a me perder e a perder o estigma que eu criei e as outras mulheres acreditaram que era verdadeiro”. Se é assim, eu entendo. Fico meio assim com essa história, mas fazer o quê? No máximo, tomar um suco de laranja.

E por que toda essa choradeira? Por nada nem é choradeira. Apenas observo pessoas que dizem que são isso e aquilo, mas encolhem-se diante da primeira adversidade cultural (Lembrando que a vida imita a arte e por isso toda essa história começou). Fazer o quê? Eu até poderia lamentar, mas não lamento não. Não lamento em absoluto porque vejo claramente quem é quem e, como não sou esperto, vou descobrindo, pouco a pouco, qual é a de cada um e entendo melhor porque Cazuza disse que seus heróis morreram de over dose. Eu morro de over dose das verdades tristes que vou descobrindo dia a dia. Não me aquieto, entretanto. Sinto vontade de expor mais, de rasgar mais a minha carne para que no fim sobre algo ou alguém. Ou não.

Do Barão

“Um pouquinho de fumaça e os répteis logo se agitam assustados” Barão Von Straussem

Preciso me explicar, sô

Não, não e não. Eu não quero acusar ninguém, falar mal de ninguém ou, muito menos, provocar alguém. Tem um tipo de pessoa na Terra que não precisa ser provocada, ela é a provocação ambulante sobre duas perninhas. E, sinceramente, não me chamam a atenção, não valem o meu tempo (a meu ver, valiosíssimo). O que acontece é outra coisa muito diferente. Eu acho que um blog (mesmo aquele que só publica receita de torta) não deixa de ter um toque artístico do seu dono. Queira ou não queira, o blogueiro é um artista (que pode ser bom ou ruim, simpático ou antipático, bom ou mau caráter). Muito bem. Como eu já repeti antes, quem tem um blog, publica, ou seja, é público. Sendo público, está sujeito a críticas boas ou más. Da mesma forma que escrevo sobre os livros que estou lendo e os filmes que estou vendo, escrevo sobre os blogues (o que não quer dizer que eu esteja certo, certo? Eu posso achar uma coisa e o Maracanã inteiro achar o inverso).

Deixa eu explicar melhor: o blog é jurássico e tem uma geração que não conheceu nada disso, que tá começando agora e não consegue diferenciar o que são raposas do que não são. Então eu digo: Gente, existem blogues jurássicos, com dez anos de idade e, como é próprio da raça humana, gente picareta que se utilizou e utiliza o blog para pegadinhas e golpelhos. Nem todo blog que tem uma escrita aparentemente “simpática” é legal. Tem gente do mal, como na vida real. O que essas pessoas conseguem? Muito pouco, como muito pouco conseguem na vida real. Mas estão ali, atentas, bote sempre pronto, visão de tigre selvagem. E que mal essas pessoas podem nos fazer? Praticamente nenhum porque qualquer um mais esperto ou previamente avisado não se deixará levar. Segundo, porque essas pessoas são juquinhas, caboclinhas, burrinhas, menorezinhas, muito “inhas” de maneira genérica. O que fazem? Trocam visitas ou telefonemas, usam o MSN e, acredito eu, fazem macumba, a prática menor do ocultismo. Uma pessoa que bate num tambor, pra mim, não é séria. Uma pessoa que passa uma noite de bom sono no MSN falando mal da outra, igualmente é vulgaróide. Uma pessoa que tem um blog vulgar, enfim, é vulgaróide ao cubo.

E eu? Eu não me agüento e falo desses blogues (o que não impede que os autores do mesmo escrevam e provem que o bestalhão sou eu.) – Eu já fui tantas vezes chamado de betalhão pelos caboclinhos nativos que fiquei meio vacinado no país da Febre Amarela eh eh.

E por que eu digo tudo isso? Porque de vez em quando eu dou uns nomes a bois na net e os mais novos não entendem, acham que é maluquice: não é. Estou recebendo inúmeros e.mails que tratam da arapuca armada há pouco tempo por senhoras de idade, senhoras que se casam sem parar e outras que sassaricam em sites de relacionamentos buscando um homem e etc. (aceitam mulheres também)… Voltando: recebo cartas de gente que participou e agora se dá conta da besteira e gente que não conheceu e quer se prevenir para o futuro. Acho que um ser humano na net não é diferente da vida real. Ele não pode se chocar com as pessoas, com os golpistas, ele tem que estar preparado como se estivesse andando na rua, em meio a tiroteio ou ouvindo uma historinha jeka de provinciano (perigosíssimos – provinciano é ladino – manda outro ler aqui pra não deixar o IP). Vou aguardar um tiquinho as manifestações de defesa (sei que não virão, que se farão de mortas como a mestra, a Fada) e em breve, volto ao tema, nominando melhor as coisas.

R 110,00 por mês ?!

As viradas necessárias

Não vejo por aqui nada de se interessante para se ler. Busco, então, livros de estranhos, de malditos, de gente distante de mim, que sabe mexer com a minha cabeça. Não me interessam frases parcimoniosamente escritas com palavras escolhidas que se pretendem mostrar alguma erudição. Quero ler e escrever pensamentos, inquietações e loucuras ditas e gritadas com todas as letras para que não restem dúvidas do que está sendo berrado pelos insanos malditos, os poetas loucos. Nada mais me interessa no momento. Quero me alimentar do que meu pares têm a dizer, quero, juntamente, poetar a poesia mais ilógica, a fonte mais improvável. Busco somente um pós Kerouac! Sim, aqui é cheio de erros de digitação, erros de português, erros de toda a sorte porque escrevo dormindo ou escrevo sem pensar ou vomito pensamentos que são exclusivamente meus porque passei para o lado de lá e não me pretendo concorrer a nada. Agrada-me demais a diminuição paulatina e constante de leitores, os comentários raros, a correspondência rala porque eu não estou mesmo produzindo nada, estou golfando a bile que o mundo me enfiou goela abaixo. Não releio o que escrevi, não estou preocupado com os outros, dei um grande salto em busca de mim mesmo ainda que eu não tenha nenhuma serventia, que eu não traga nada mais de apreciável, de inteligente, de bem informado. Me agrada muito mais escrever longas cartas às pessoas que estão sacando o que estou dizendo, cartas particulares, cartas onde eu possa revelar minha inquietude sem medo de ser chamado a atenção. Não sou uma livraria, sou uma papelaria velha com folhas amareladas e carcomidas por traças, baratas e o diabo que o carregue. Vou rompendo com tudo o que possa parecer certinho, limpinho, direitinho. Prefiro, antes, roubar e embriagar-me de rum nesse meu barco que faz água por todos os cantos e não me incomoda em nada, apenas faz meu coração saltar esses saltos que prenunciam um tipo de fim. Infinito-me com Sylvia Plath, Ana Cristina Cesar, Artaud e tantos outros que guardaram a razão no sotão de suas almas e disseram verdadeiramente o que seus espíritos clamavam na noite de negror absoluto a que estamos todos presos. Oswald e Mário de Andrade me parecem umas bestas e Clarice Lispector me soa muito bem comportada. Eu busco quem me diga verdades do mundo como Lima Barreto e jamais um pulha idiota como Machado de Assis. Todos nós, fingidos ou não, somos retirantes e sobreviventes de um sonho que, verdadeiramente acabou. Acabou em mim, não quero sonhar porque os pesadelos trazem a verdadeira persona do que somos e a verdadeira ambiência da vida que já está me parecendo longa demais.

Leitões, ameaças de cidades do interior e professores com chapéus de cangaceiro

No ano em que “comemora-se (argh!)” a chegada da família real portuguesa ao Brasil, eu, com um certo estupor (não absoluto porque nada mais me espanta), vou constatando que determinados espaços prezam muito mais as reuniões feitas ali, a troca de fofocas, etc. do que propriamente o texto que dá origem a comentários. Esse fenômeno novo é muito interessante antropologicamente porque ele inverte a proposta original dos blogues e mostra que na internet os valores podem mudar radicalmente. Encontro de tudo: donos de espaço fazendo toscas e veladas amecinhas (“Qdo eu sou bom, eu sou ótimo… Mas qdo eu sou mau, sou melhor ainda.”), ditos professores (doublés de cangaceiros?) universitários confessando que adoram “chacrinhas” (termo que eu introduzi após ingerir quatro garrafas de uísque) e mais trinta e tantas sandices. Mas eu entendo o sumiço de ‘ditos’ amigos, a mudança de lado. É o amor, essa coisa linda. Claro que um ser apaixonado desespera-se ao perceber que o nome do seu amado foi descoberto e que espalha-se como rastilho de pólvora na internet (muito embora eu não compreenda porque deveria esse nome ser segredo). De qualquer forma estou aqui apenas tratando de um fenômeno antropológico da net porque tenho muito medo de ameaças, muito medo mesmo. Tanto medo quanto o de professores da…. Bahia (Terra de Nosso Senhor do Bonfim) Bom fim?


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"A descoberta do Prozac criou um universo de eunucos felizes"

"É-nos impossível saber com segurança se Deus existe ou não existe. Por isso, só nos resta apostar. Se apostarmos que Deus não existe e ele existir, adeus vida eterna, Alô, danação! Se apostarmos que Deus existe e ele não existir, não faz a menor diferença, ficamos num zero a zero metafísico" Albert Camus

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""Deve-se ler pouco e reler muito. Há uns poucos livros totais, três ou quatro, que nos salvam ou que nos perdem. É preciso relê-los, sempre e sempre, com obtusa pertinácia. E, no entanto, o leitor se desgasta, se esvai, em milhares de livros mais áridos do que três desertos."
Nelson Rodrigues

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