Archive for the 'O resto é mar…' Category

Nossos processos

2001 e 2002 foram os anos em que eu mais produzi nos blogs. Parece que o negócio ainda estava começando por aqui e a vontade era grande. Depois a nossa vida vai se enquadrando e a gente vê quanta coisa já contou… E agora? Contar o quê? Os achaques da velhice? Os livros que estou lendo e os muitos que não consigo ler? Uma das coisas mais tristes de relatar é a perda da capacidade intelectual, a perda de assimilação do que se conhece, do que se lê. A confusão mental e a falta de memória sobre aquilo que se conhece ou o que se lê. Mas não é drama. Acontece mesmo. E aí vêm os remédios que, se por um lado melhoram algumas coisas, por outro acabam de destruir outras. Tudo passa a ser relativo…..a relatividade do conhecimento, do lazer, da capacidade de ter sentimentos, etc etc.

Começamos a padecer desses males que antes, bem antes, víamos como algo infindavelmente distante de nós. Eram os males dos “velhos” – dizíamos muitas veses sorrindo. Mas o tempo passa e aqui não vai um pensamendo depreciativo nem deprecivo. Nada disso. São as mudanças invernais que a vida vai nos mostrando e a nós submetendo, como um Sísifo. Essa vidinha que corre aplica suas regras a todos, indistintamente. Em 2010 produzo menos e, portanto, escrevo menos que em 2002. Coisas da vida.

Meus Caros Amigos

Eu sou pleno de felicidade por saber que tenho poucos, mas fiéis amigos. E amigo é aquela coisa única, não é verdade?

E por um tempo eu sumi. Não de propósito ou seguindo algum planejamento. Sempre disse que eu me construo e me desconstruo. Essa, me parece, é uma dessas fases.

Resolvi dar uma descida ao fundo do poço para ver como andavam as coisas por lá… no extremo do meu íntimo e, de certa forma, do meu inconsciente.

Passei um tempo grande sem ler também (não conseguia me concenttrar na leitura (agora estou relendo O MUNDO DE SOFIA).

Parece que encontrei tudo em ordem em mim mesmo e, ainda assim, resolvi por uma desconstrução e uma nova construção. Estou nesse processo. Minha saúde está boa. Minha mente está o que sempre foi: claudicante.

Mas está tudo bem.

Beijos

Infecções virtuais

Não, ainda não morri. Muito menos sumi. Tenho andado com coisas a resolver, atitudes a tomar e, principalmente, a idéias a colocar no lugar (nos cadernos manuscritos). Se estou dando um tempo aqui? Não é exatamente, mas não deixa de ser. Agradeço os e.mails dos meus três leitores que se preocupam. Não há nada de mais. Resta saber o tamanho da contaminação.

As coisas que escrevemos para nós – Virgínia Wolf

Não sei se Paul Auster escreve seus romances à mão, manuscritos. Creio que sim. Josué Montello faziea igual para não acordar a esposa de madrugada (Josué não dormia e por isso tem mais de 150 romances). Também não sei se li essa história do Paul Auster contada por um dos seus personagens ( que escrevia em papel quadriculado) – Afinal, Paul Auster é a maior mistério dos séculos XX e XXI.

Isso é apenas mais ou menos uma explicação da minha passagem breve por esse sítio. Ao longo da História, homens e mulheres fizeram suas narrativas manuscritas (em forma de diários e etc,) Conheci os blogs em 2000 ou 2001, apresentado por uma grande amiga. E resolvi fazer. Evidente que o conteúdo de cada post é igualmente manuscrito com um texto mais “politicamente incorreto” e MAIS VERDADEIRO colocando as coisas em seus devidos lugares. E criou-se o hábito de me responderem por e.mails e não na parte destinada a comentários. Por que? Porque há poucos anos descobri uma mulher baderneira que fez horrores (até mesmo espalhando na net que ela havia morrido). Não pretendo de maneira nenhuma ser crítico, agressivo ou mentiroso. Simplesmente quero deixar “a vida me levar”

Chatola

Não adianta, meu caro… Não discuto mais.. apesar do seu delirante “… não o demiti...” e o apatetado “…com sua inaptidão para o novo cargo que ele ocupava e à frente do qual cometeu tantos deslizes que foi afastado …” Novo cargo cara pálida? Que novo cargo? rs rs rs … 

Risível…. Mas muito, muito chatola. Mais uma vez, ponto final.

O fim da critividade ou os judas do século XXI

Escrevo invariavelmente quando o dia está clareando não exatamente porque minha cabeça “esteja melhor” nesse momento, mas porque olho pela janela o mistério da escuridão que pouco a pouco vai consumindo o ritual do amanhecer. Um rito de passagem. fico me imaginando numa nave espacial observando como o sol vai iluminando outras partes da terra e como os terráqueos chamam o fenômeno óbvio de “passagem de mais um dia”. Essa observação é canhestra de nascença exatamente porque trás em si o paradigma da ancestralidade, porque é regra geral (portanto, ordinária) e serve de parâmetro para os tolos julgamentos que a ignara gosta tanto de exercitar.

Se eu decido dormir quando o sol nasce e acordo quando a noite se aproxima, recebo a alcunha X ou Y. Como se fosse algo diferente, como se meu trabalho não valesse tanto, meu caráter,  como se minha vida inteira estivesse à mercê de um pecado capital. Não se tocam essas pessoas “normais”, (na verdade de má índole, ferinas, mal amadas e, principalmente, não resolvidas em sua sexualidade). Porque são exatamente esses que se percebem como “guardiões das coisas” e do exercício do bem e do mal. Normalmente são seres extremamente agressivos que hoje exercem algum posto de comando (mesmo que irrisório e passageiro), da mesma forma de um capitão-do-mato, um feitor de cento e cinquenta anos atrás. A diferença é que esses “profissionais” de hoje não percebem o que estão fazendo e, muito menos, porque são escolhidos para funções burocráticas e idiotas. Basta lembrar dos judeus que exerciam a guarda nos guetos à serviço dos nazistas e contra seus irmãos.

Mas é evidente que os nazistas de hoje estão muito mais preocupados em exercitar castigos do que em conhecerem minimamente a História.

Não, não estou ácido nem amargo, muito pelo contrário estou em paz, tranquilo comigo mesmo, aguardando que Terra gire mais não sei quantas vezes até que não sobre pedra sobre pedra de tudo o que está estabelecido, contra toda a caretice meio patética que rola por aí. E não é difícil perceber onde estão os juquinhas das boquinhas (com o seu, o meu…). Basta atentar para os produtos que recebemos.

Quem arrota caviar e come manjubinha

Ontem uma grande amiga passou a tarde comigo e conversamos sobre variados assuntos. É sempre um prazer estarmos juntos, dividirmos coisas boas e más, avaliarmos em conjunto as pessoas que nos cercam. Em algum momento, inconscientemente, eu falei de uma forma que denotou baixa estima. E ela, impávida:

Você vai esquecer todo o seu passado, todo o seu profissionalismo, tudo o que realizou porque chega aqui um estrangeiro e fiz que você não sabe fazer algo que, mais do que confirmado, você sabe? Esquece – continuou – que são passageiros, (que não sabem o que querem, não realizam nada e a prova está no ar) fazem boquinha nesse momento político e que cairão tão logo mude o governo? Quantos governos já passaram e você se manteve exatamente por sua competência?

Fiquei até meio sem graça e, de noite, na cama, hora de colocar os pensamentos em ordem, percebi que ela estava com a razão. Na verdade, onde eu produzo, ninguém produz mais do que eu, até porque não sabe o que quer, até porque é coberto de recalques. Não preciso fazer nada, na prática. Preciso deixar simplesmente o tempo passar.

If

Engraçado…. tava aqui lendo…. como tudo começou? Onde? Por que? Não sei mais… Depois vieram as intermináveis conversas…. depois uma certa “atração”… é esse o nome? Não tenho certeza…. Depois a paixão em comum:a literatura…. Mas é só isso? Não… o que é? Eu sei exatamente o que é (além de muitos gostos em comum), mas não sei descrever… não sei falar… Paquera? Não. Ciúme? Não. Aposta de quem desiste primeiro? Tenho primazia porque sou infinitamente mais velho, poderia ser seu pai (com certeza um libidinoso pai)… Mas também não é nada disso… Quanto mais escrevo, mais confundo e mais afasto a verdade. E qual é? Já disse, não sei dizer. Ontem? Não. Amanhã? Possivelmente não também. Um dia? Pode ser, mas não creio muito…

Por fim, o que é? E, novamente, por fim, me convenço de que tudo é examente porque não é…. é um delírio febril e inocente, uma expectativa em torno do sim e do não,de viver ou morrer…

Do tudo ou nada…. De acreditar, sentir e ter sem que nada disso, de fato, aconteça… de ser gêmeo siamês no descontrole, no desequilíbrio sutil de uma estranha leveza de não ser…

Vendo o sol raiar

Não tenho escrito, não é? Os motivos? Uma série. Em determinados momentos a gente deve se calar, amansar e olhar muito atentamente para o nosso interior. Algo como colocar um espelho em frente ao espírito. Gosto de ter olhares meus diferenciados sobre mim mesmo (até para não me abater com a visão dos outros). As leituras também estão em suspenso como a escrita. Todos deveríamos ter mais momentos de reflexão, de avaliação de tudo, de todos, todas as situações e, principalmente, de nós mesmos. Foi essa a conversa longa que tive com um amigo do peito no fim de uma madrugada que ameaçava chover.

Lá e cá

outros caminhos

Caminhar

Muitas e muitas vezes me pergunto porquê esse caminho e não o outro. Me pergunto coisas demais e as respostas, escorregadias, se esvaem entre meus dedos por mais que eu aperte a mão. A vida parece querer me mostrar, por caminhos transversos, que não entendo nada o que rola à minha volta. Parece mesmo. Parece ainda que minhas forças vão sendo minadas, dia a dia, hora a hora. Vejo uma série de olhares nos passantes, olhares onde boiam dúvidas, incertezas – como uma falta de ar. Claudicante, olho à frente e vejo somente o vazio. E me assusto. Muito.

Oceano Mar

K. me instiga a falar sobre o livro OCEANO MAR (do italiano Alessandro Barrico). Como não sou resenhista, não posso fazê-lo. Existem várias maneiras de interpretá-lo. Li de duas formas: como um poema em prosa e como um romance de suspense. Não consegui largá-lo desde a primeira linha. Existem livros, creio, que foram escritos para nós. Eu acredito nisso. Livros que acreditamos que apenas nós iremos percebê-los e não é verdade, claro. Este é um caso assim. Poucos personagens (todos míticos), uma estalagem gerenciada por uma menina de dez anos, um pintor que leva sua vida a pintar… o mar. Um professor que escreve uma obra sensacional, uma enciclopédia infinita, os tormentos em uma jangada, o ser humano em sua brutalidade e em seu afeto maiores, desses que não temos consciência. Não, menina, não sei o que dizer o livro. Realismo fantástico? De certa forma sim, de certa forma, não. Leia e conversaremos

Revisitando mais ao norte

Essa mulher ao norte que altera minha percepção do lado de cá, que invade meus sentidos conscientes e inconscientes, minha percepção e me empurra no despenhadeiro do desequilíbrio. Que me acorda no meio da madrugada, que acalanta as tantas voltas que dou na cama em torno de mim mesmo como se pudesse fugir do meu próprio corpo, que ela machuca por não fazer, que provoca por prazer (mútuo), que toca e se afasta que sussurra e emudece para depois voltar a dizer as coisas da ‘Canção do Amor demais’ como se fosse a própria Elizeth. Penso de longe em Amaralina e imagino o Abaeté hoje, já. Mas o redudo é o visor de uma câmera… essa maneira de ver o mundo enquadrado do meu ponto de vista que, por ser único, mostra coisas, insinua outras tantas que não consigo explicar, prisioneiro que sou de mim mesmo, das percepções inimagináveis da visão recortada e libidinosa que mora em mim.

Revista Brasil

No próximo domingo, dia 29 estréia o programa Revista Brasil às 17 h. Tem sido uma produção muito difícil de ser levada adiante por ser um produto complexo de conteúdo e estética. A equipe tem trabalhado muito e ainda percebemos falhas aqui e ali. Trata-se de um programa de pura criação, exercício intelectual e estético. Um programa praticamente feito na hora da montagem, da finalização. Ainda existem muitas coisas a serem aparadas, não creio que já esteja totalmente pronto e idealizado, a não ser na minha cabeça e do Ricardo Soares, supervisor do programa. Entretanto, com muito trabalho e imaginação, creio que chegaremos lá em breve.

Marlboro Azul

Como num aviso ancestral, o dia hoje nasceu com tons mais avermelhados do que de costume. Sinal? De quê? Bem verdade que não estou com muita paciência, tenho andado meio de saco cheio. Algumas pessoas ficam esperando que você pisque um olho e te abocanham e a idéia de viver minimamente feliz sem piscar me soa estranha e desagradável. Portanto, deixo esses assuntos para lá porque sou mesmo um sobrevivente da Coréia e não serão peidinhos rastaqüeras que conseguirão me desequilibrar.

O que tenho de bom é que nesse fim de semana terminei a leitura de “O Despenhadeiro” de Fernando Vallejo e me aventurei em iniciar “A gente se acostuma com o fim do mundo” de Martin Page apesar de uma crítica não muito favorável de K. De toda sorte, parece-me um livrinho leve e agradável e seu (anti?) herói passa por situações semelhantes às minhas. Ainda é muito cedo para falar.

Diante disso, desse cursor irritante que se recusa a parar de piscar, penso na máquina de escrever e da folha em branco que me cobrava antigamente, mas não havia o maldito cursor. Resta-me apenas mais uma caneca (das grandes) de café preto e uma infinidade de cigarros Marlboro Azul. Azul ou cinza deve ser igualmente a tonalidade dos meus pulmões carcomidos. Observo o dia azul, mas preservo muitas trovoadas sob a luz fria e branca dos escritórios, das reuniões vãs, das pessoas que lutam sem entenderem, da tola disputa de poder.

Volto ao meu livro como Sartre voltou a Colomba naquele bar na França deixando a garçonete sem saber se a sua taça estava meio cheia ou meio vazia de vinho doce. Nesse momento meu espírito voa longe, para uma certa juventude emocional que insisto em não perder para não cair no esgoto das pessoas vis. Essas crises de tosse alertam apenas que estou fumando, fumando muito, além do razoável e que o sofrimento, os estertores podem estar vindo à galope.

Observo então a vida sob novo ângulo, deixando de lado idiossincrasias, batalhas e personagens literários. Estou nu naquele sofá diante de um analista que se esforçar para salvar minha alma carregada, pesada, sufocada por tantos senões. Isso que chamam vida, eu chamo purgatório. Não há nenhuma depressão, nada patológico e sim, como já disse aqui, o que existe é alguma coisa filosófica como a mão (verme) descrita em A Náusea de Sartre. Percebo que meu desentendimento não é exatamente comigo, como parece, mas com o mundo a as situações escrotas desse mundo. Como num jogo de tênis quando dou uma raquetada numa bola normal e recebo – da raquetada do outro – uma bola de gosma. E assim termino não sabendo se quem sofre é meu cérebro ou o meu estômago – com essa quase eterna vontade de vomitar. Ou ainda se é tristeza pura por todos os outros mendigos esfarrapados que se arrastam em roupas caras e corredores assépticos. Não sei a verdade. Se soubesse tentaria mudá-la, sei apenas que existe um descompasso e eu entre uma determinada forma de vida.

Pequeno Príncipe

A preocupação com as coisas que não acontecem, na maioria das vezes, é maior do que com as que, de fato, acontecem. Porque não acontecer é tiro n’água, é expetiva vã, frustração não pelo erro, mas pela impossibilidade de se-lo. Singrar mares, ainda que seja um mar de lama é o que nos dispomos, somos marcados à ferro e fogo desde o nascimento. Cada homem é um barquinho de papel desse que os meninos deixam no escorrer nas águas junto ao meio fio que correm soberbas nos dias de chuva. Barquinhos que dão em esgotos, que desmbocam em rios, que chegam ao mar. Mar que despenca no espaço nas bordas da plana Terra. Sim, eu acho muito mais interessante acreditar numa Terra plana que, vez por outra, deixe seus mares ultrapassarem os limites e derramarem-se no espaço. Prefiro ainda a simplicidade dos planetinhas de O Pequeno Príncipe.

Sob o Céu

A manhã de sol, o simples fato de acordar cedo e saborear o café bem quente proporcionam a sensação de que a vida se renova, de que as possibilidades de experimentar um pouco mais de todas as coisas trazem tranqüilidade ao espírito – mesmo ciente de que as coisas não são fáceis. Ou melhor: a vida, em si, é fácil, difícil é lidar com o material humano. Por outro lado, percebo todas as possibilidades de surpreendentes encontros com pessoas incríveis, dessas que a gente não imagina encontrar e que, muitas vezes, estão bem ali, embaixo de nosso nariz. Aproximar-se de pessoas interessantes é uma das coisas que mais prezo, que mais me acrescentam nesse mundo. E, no final das contas, elas são imensa maioria.

Quando posso, para relaxar do trabalho, busco a leitura e não posso deixar de me surpreender com “Um Livro de Fuga” de Edgar Telles Ribeiro. Não falo mais para não atrapalhar o prazer de quem se dispuser a ler.

Outro livro importante é “Acervo do Maldizer” (assim mesmo) de Wanderley Guilherme dos Santos, verdadeira aula de onde podem andar nossos pensamentos mais recônditos. São livros que se lêem em uma sentada só, breves e profundos, desses que nos deixam muito tempo depois pensando, repensando e comparando histórias com histórias da nossa própria vida.

Já repeti inúmeras vezes que uma das minhas grandes angústias existenciais é ter consciência de que não terei tempo de ler tudo o que gostaria. O que fazemos é ir lendo, pé ante pé, o que conseguimos (não só porque conseguimos dinheiro para comprar esses livros, mas, principalmente, tempo para ler) – porque ler não deixa de ser um ofício, ainda que seja um prazer.

A solução é buscar equilíbrio entre armadilhas que pessoas plantam à nossa frente com o prazer de conviver com pessoas do bem e reconfortar-se com personagens vários. E deixar o céu azul transbordar-se em si mesmo.

Dos feriados loucos

São dias em que não nos ensinam se devemos ser bacanas ou mal comportados. Esperam uma atitude, sei que esperam. Todo mundo espera uma atitude do outro, bem ali ao lado. Mas a mídia é quem dita qual o comportamento que devemos assumir diariamente. Eu assumo vários e sou pouco influenciado pela mídia porque a conheço por dentro e não acredito nela. Sou o que inventa as histórias para outros e para mim mesmo. Muitas vezes sei que as coisas não vão dar certo, não vão “pegar” porque não foram bem feitas. Sim, coisas devem ser bem feitas, todas as coisas. E, principalmente, explico aos meninos, todas as coisas são “feitas” em algum momento, nada é grátis, nada acontece, nem a chuva. Então somos todos grafiteiros, somos todos bad boys, somos todos o lado esquerdo de deus, a fúria, a ira, o desequilíbrio universal. Sim, sim, eu sou um desequilíbrio universal e sem mim haveriam mais chances para outros como sem outros haveriam mais chances para mim. Estamos todos numa canoa furada, tentando inventar coisas que já foram inventadas desde sempre e sempre. E por que insistimos? Porque não suportamos a existência como ela se apresenta, pálida, sombra fugidia do que seria uma ópera rock, por exemplo. E nem sempre estamos preparados para as óperas como nem sempre estamos preparados para levar socos no estômago de autores que viram tudo de cabeça pra baixo e nos ensinam que não é nada disso que achávamos que era, que tudo é mais, é outra coisa, é desequilíbrio (do nosso ponto de vista) porque desequilíbrio de verdade não existe – como não existe equilíbrio – como não existem regras que esperamos encontrar respeitadas no mendigo da esquina ou na dama da sociedade. Não, é tudo empulhação – eles nos dizem e nós, como cachorrinhos amestrados, dizemos: sim, sim, sim

Sem festa no arraiá

Jornais falam da epidemia da dengue, dos “tribunais” de execução nos morros e do dossiê de D. Dilma. Esses assuntos são recorrentes há mais de quinze dias. Não se fala em mais nada e, muito menos, resolvem-se essas questões. O Brasil é mais ou menos assim: sem solução. Não adianta nem a denúncia da imprensa, não adianta nada! É triste viver num lugar assim, nessa desordem, balbúrdia, irresponsabilidade. O povo é bovino, não vai para as ruas, não cria situações de fato. O tempo da passeata dos cem mil acabou, não volta mais. Simplesmente todo mundo acovardado, quieto em casa, sussurrando em botequins. Quer dizer, falar dessas coisas aqui, igualmente resultará em NADA!

Os dias de chuva são mais ou menos depressivos (ou deprimentes, como queiram) e, por outro lado estimulam o exercício pródigo da leitura e da escrita. E como os jornais são repetição da repetição restam os livros que nos trazem situações novas, empolgantes e emocionantes. Mais do que o cinema, a internet e a televisão, o livro ainda é o modo ideal de ocupação não formal (como carregar pedras, por exemplo). E repito que ainda estou muito atrasado em minhas leituras (finalizando agora “A elegância do ouriço” – indicação perfeita da mais que perfeita K.) Claro que isso não diminui minha angústia porque a pilha de livros à espera continua ali, olhando-me de soslaio. E repito que existem épocas em que damos uma certa emburrecida sim. Existem fases de desinteresse pelos livros, uma preguiça ancestral, atávica, uma distração que impossibilita avançar duas páginas… Ainda mais quando você olha seu saldo bancário negativo (rs). Estive assim e passou (o saldo continua igual). Voltando ao livro, muito interessante a passagem da menina que tenta fingir que é esquizofrênica. De certa maneira, acho que todo mundo é ou gostaria de ser um pouquinho esquizofrênico (mas não temos esse diagnóstico e isso frustra).

O resultado é que nos entregamos à Filosofia e ao estudo da Estética. Porque ambas as matérias são primas da loucura, dessa loucura básica que precisamos conquistar. Uma pessoa sem um mínimo de loucura nem chega a poder se classificar como pessoa. Temos todos a necessidade de falar e fazer coisas diferentes, nem que seja um pouquinho por dia. Quem não consegue, quem se impõe uma rotina draconiana embarca num processo regressivo até virar um macaco. Por isso vejo tantos macacos pelas ruas e todos eles chamam a atenção não por serem macacos, mas por serem macacos aloprados (palavra da moda). No momento, talvez eu seja um aloprado que ainda não chegou a macaco.

Se eu busco a fantasia? Sim, quem não busca? Como viver sem fantasia? Viver a vida à seco é nada, é não viver, é tornar-se o espermatozóide que não chegou lá. Até porque a fantasia é muito mais real do que algumas ‘realidades’ impostas e aceitas por um grupo. A realidade nada mais é do que um tipo de fantasia criada em cartório, com firma reconhecida. Eles dizem: “isso é a realidade” e colocam um carimbo. Ora, que bobagem: realidade e fantasia se entrelaçam e bailam juntas na geléia geral do dia a dia profano. Esperar alguma coisa muito diferente disso é esperar o que chamam de milagre e aí começa aquela história toda novamente sobre quem faz e quem é beneficiário dos milagres (e porquê). E como não espero milagre algum prefiro promover a grande festa, a grande bacanal, a urdidura do salto no escuro não me interessando se estou na senzala ou não.

Profano

Existe uma dívida existencial com o profano, existe uma pendenga eterna entre bem e mal que deus não dá conta. Nem vários deuses. Isso vem da vida sobre a Terra. Claro que não resolverei isso agora. O que me vem à cabeça é Sérgio Brito, Fábio Sabag, Napoleão Moniz Freire e Zilka Sallaberry (minha tia amada acima de tudo e todos) interpretando Fim de Jogo, de Beckett. Já busquei Druídas, Deusas da Terra e milhares de pirilampos mágicos que vagueiam na noite dos homens. Nenhuma resposta. Todas as respostas estão em mim e isso me dá uma tremenda desconfiança de toda a raça humana. Se Blade Runner não me dá resposta satisfatória, procuro (sem resultado) Mário de Andrade e Oswald de Andrade. Nada. Silêncio cavernoso. Dou zero para Kerouac e afins. Nesse momento percebemos que estamos irremediavelmente sozinhos, entendemos melhor quando Cazuza nos disse que “meus heróis morreram de over dose”. Vemos amigos disputando espaços, pura carniça. Gente mentindo, enganando, sendo enganada, acusando, sendo acusada, boatos rolando, uma selva com feras salivando. Cara! Estou fora disso! Que rei sou eu? Não sou rei e tenho majestade, tenho história e só me interessa contar minha história (ou escutar alguma história). O resto é o restolho, não me interessa em nada, mesmo as decepções recentes. Porque decepção faz parte da vida vivida, não é susto pra ninguém. Realmente não me assusto. Tenho pessoas que me são sublimes como minha Kastor e isso me basta…. e muito. O que me salva do mármore do inferno são pessoas como ela que me revitalizam, me empurram pra frente, me dão prazer de viver. Prazer de viver. Repito: prazer de viver a vida vivida. Sou um abençoado nem sei mais por quem, mas estou em pé, vergando eventualmente com o vento e voltando à majestade do abacateiro. Talvez eu seja um abacateiro sem abacates, mas não se sabe o dia de amanhã. Hoje estou vivo.

Aventura da Televisão

A expectativa exagerada pode alterar o julgamento de uma obra. Ou seja: não se faz uma obra-prima todos os dias. A difícil tarefa de compor uma grade de programação diária num veículo veloz como a televisão expõe-nos à toda a sorte de agruras, de pequenos fracassos, de um sentimento constante de auto-crítica. Acho que é necessário ter em mente que televisão não é teatro nem cinema, em que os tempos são outros, que a exigência de metas cumpridas é completamente distinda de outros veículos. De uma certa forma, faz-se cinema na televisão (no sentido do audiovisual) sem as prerrogativas autorais, sem a pré produção do produto cinematográfico. Televisão é informação, provocação, é mexer com o indivíduo tornando-o parte ativa do processo e o produtor tem muito pouco tempo para elaborar tudo isso e agregar qualidade. Mas não se pode realizar nada sem qualidade e esse é o desafio de quem se aventura nesse meio.

Torcer contra não

Noites insones. Red Bull na veia (direita). Um caldeirão em ebulição, estou próximo a isso e, ao mesmo tempo tranqüilo. Ainda encontro tempo (imaginem!) para ler Oswald de Andrade e Beckett. Sim, reconheço que faço tudo isso aos pedaços, meio esquizofrenicamente. (Só não sei quem não tem um lado esquizofrênico!). Hoje, na rua descobri que tinha vestido a camisa do lado do avesso e só fui consertar esse lance muitas horas depois. As pessoas à minha voltam andam desesperadas, andam jogando contra, torcendo para que novos projetos e idéias não se realizem. Não consigo entender porquê a resistência ao novo (não, não votei no Lula, mas a maioria do povo votou!). Sinto-me impedido de parar num barzinho e tomar um chope relaxante porque a turma do contra me cerca. Então, adoto a posição de não parar mais em nenhum lugar perto dos “negativistas”. Mas é claro que eu posso estar entrando numa canoa furada, é claro que estou sendo avaliado, mas estou avaliando também. A diferença entre isso é que eu não sou traíra, eu aposto numa proposta e vou fundo, pago pra ver (ainda que no fim eu seja queimado). A Tv Pública, TV Brasil, foi aprovada no Senado. Fato. Hoje, mais do que nunca, morreu definitivamente a TVE. Esse detalhe pra mim é absolutamente irrelevante porque não vivo de siglas nem de passado, quero propostas novas, quero desafios grandes (ainda que eu não consiga realizar). Gosto do desafio, gosto da confiança que pessoas que, praticamente sem me conhecer, depositam em mim. Pode mudar amanhã? Claro que pode! Tudo pode mudar amanhã, inclusive o fato de estar vivo. Só não agüento estar num bar onde as viúvas insistem em resistir às novas propostas e macabramente torcem pelo fracasso. Tô fora!

Restolho

Mas eu sempre tenho surpresas…. Gente que jurava que era minha amiga, de repente, não responde nem às minhas mensagens do MSN… Nem por isso deixarei de confiar sempre nos meus amigos… o resto… é o resto…

Miscelânias novamente (talvez eternamente)

Dia desses me perguntaram por que “Pós Sobretudo de Lona”, se eu era outro depois de “um outro” Sobretudo de Lona. NÃO. Sou eu mesmo. Creio que o Sobretudo nasceu em 2000 ou 2001, não tenho certeza. Quando não estava trabalhando, eu vagava pelas madrugadas urbanas (ou não) com uma enorme motocicleta negra. Nesse período vi e vivi muitas coisas. Procurei narrar tudo ou quase tudo. O tempo passou e mudou. Eu fui envelhecendo e, igualmente, mudando. Experimentei fazer uns outros blogs com nomes diversos (alguns estão ativos) e, apesar de me reescrever e me redesenhar acabei percebendo que algumas coisas ficam, são atávicas e não deixei o espírito do Sobretudo. Por isso, sete anos depois (uma vida!) percebi que, se por um lado eu não era mais aquele, por outro, era. Então eu sou um pós eu. E como o tempo (e a vida) mudam mais rapidamente agora, quem sabe uma hora eu não serei o Pós-Pós Sobretudo? Não sei e não quero nem pensar nisso por enquanto. Bom, aí está a resposta – espero que tenha sido clara.

Por outro lado, sei que não tenho escrito legal, que as coisas vêm meio como desabafo, de forma não linear e as pessoas não entendem muito o que estou ou do que estou falando. SEI DISSO. Talvez uma hora eu tenha tempo de contar essas histórias que estou vivenciando de forma compreensível. Talvez também não tenha esse tempo. Dia desses um amigo comentou neste espaço que os textos de K são fluidos, dão para ler enquanto os meus são densos e exigem muita concentração do leitor. Sinceramente não creio que seja isso, simplesmente Kastor escreve melhor do que eu. Quando sento aqui e escrevo, não tenho a capacidade de narrar, de ser linear, de ser uma leitura agradável. Minha cabeça pula de um lado para o outro, os pensamentos e sentimentos se misturam, os espíritos guerreiam e a vida – como já disse – não é uma só… Ainda talvez o embasamento filosófico (se existe algum) se embaralhe porque eu me embaralho comigo, tenho, muitas vezes, a impressão de que sou um monstro com um corpo e várias cabeças que, evidentemente, não se entendem. Lógico. Juro que tento ordenar as coisas, mas confesso minha incapacidade (quem sabe, momentânea). Igualmente ocorre com minhas incursões na literatura e, quando me dou contra, estou lendo quatro livros ao mesmo tempo e seus conteúdos também me invadem já misturados. Não tenho pastas nem gavetas na alma, tudo me cai num enorme saco de gatos ou num poço sem fim (que eu perceba). Coisas da vida, coisas de quem, irracionalmente, inventou de ter, simultaneamente, muitas vidas, muitos eus. Portanto, meus amigos não devem se preocupar com o conteúdo, devo ser leitura breve e barata. Almanaque vagabundo de farmácia de cidade do interior (para quem ainda lembra que existiam esses almanaques).

Ainda não contei, mas adoro livros policiais, de mistérios e etc. Adoro literatura barata, quando não tenho que prestar muita atenção nem me concentrar demais. Adoro igualmente não fazer nada, olhar para tetos e paredes e deixar que as coisas me venham e, se não vierem, que eu possa inventar uma história qualquer, uma coisa rascunhada em guardanapo de bar enquanto tomo uma cerveja. Adoro saber que meus amigos e queridos estão bem e aos meus inimigos, as batatas. Me satisfaço igualmente jogando conversa fora no MSN ou revendo aquelas séries antigas como Os Monstros e tal. Sabe? Já repeti que sou espartano, que adoro miojo, que me interessam os azulejos do chão da minha casa, que observo as janelas do hotel em frente e fico pensando no que estará acontecendo naqueles apartamentos, que pessoas estarão por trás das cortinas, porquê se hospedaram ali e tal. Sorrio das pessoas não saberem o que sou, quem sou nem como tudo levou à esse personagem de si mesmo (que muda constantemente) que vos fala.

Queria saber escrever sonetos – isso me frustra um pouco, mas faz parte do jogo de sonhos versus realizações. Acho que é isso…

As dificuldades na criação de uma televisão

Num determinado momento, fui obrigado a redesenhar meus projetos pessoais em função da demanda na televisão. Normal. Só me incomoda o clima tenso, mais nada. Está claro que a TV Pública veio para ficar, o que eu acho bom, mas faltam ajustes sobre o que sobrou da extinta TVE (que, no momento ficou como prestadora de serviços para a TV Pública). Imagino que o nascimento de uma TV provoque naturalmente uma certa confusão, pessoas com idéias novas, propostas diferentes e tal. Falta normatizar, criar uma grade de programação que o público entenda e se acostume. Falta à extinta TVE a percepção do seu novo papel, de prestador de serviços. Principalmente, para que os resultados fiquem corretos em forma, conteúdo e estética… que haja harmonia. Isso não há, é um momento de tormenta, confuso onde os papéis não estão claros ou se estão, não estão sendo percebidos. É necessário que a medida provisória que cria essa TV Pública seja imediatamente aprovada no Senado para que tudo se organize, para que exista verba para produzir e, finalmente para que se definam claramente os papéis de cada um. Definitivamente. No momento há muita tensão, muita resistência (como se estivessem sendo invadidos) de um lado e não entendimento do outro, achando, por engano, que o material humano estava “acomodado”. Realmente não estava. Ou seja: nem uma coisa nem outra. Apenas seguia-se uma grade prévia porque, repito, para se conseguir qualidade em todos os sentidos, é necessário que se entenda perfeitamente o que está sendo feito bem como o público precisa saber o que vai assistir, quando e onde.

Mas acredito que esse processo mais tormentoso seja passageiro e normal pela novidade. O que não se deve perder de vista é que as coisas não podem ficar muito tempo na expectativa da novidade, é necessário um desenvolvimento claro, uma proposta ainda que plural, mas firme e centrada porque só aí desenvolve-se a qualidade pretendida por todos. Por mim, pelo menos. O próprio ritmo do veículo televisão é completamente diferente – mais rápido – do que o do cinema, teatro, literatura e artes plásticas porém tem igual ou MAIS responsabilidade com o conteúdo e a estética.

As conhecidas besteiras repetitivas de Almost – o pior homem do mundo

Nos seus comentários em MEU blog o Almost insiste em dizer que eu “deixo muitas garrafas vazias”. Beber muito ou pouco é problema de foro íntimo de cada um. Não creio que eu beba muito, apenas socialmente, mas se eu quisesse viver embriagado ninguém tem nada com isso. De toda forma não tem problema porque os blogueiros já conhecem bem o Almost e sabem que ele agride, inventa, MENTE sobre as pessoas, achando que está fazendo gracinha. Por isso, ele se intitula “O pior homem do mundo”.  Pelo menos, usando lá a droga que me for imputada por calúnia, pretendo apenas não ser o ‘pior homem do mundo’. E é triste eu perder meu tempo escrevendo essa bobagem. Ponto final.

Viver o sobrenatural

Acredito que o mundo tenha extremidades, bordas, que à partir de um ponto, caia-se num nada. Ou, se já provaram que o mundo não é assim, imagino que a vida seja. As bordas da vida evidentemente são o nascimento e a morte. E acreditando nisso, reconheço que acredito no sobrenatural. Eu estava conversando sobre essas coisas com uma mulher recém conhecida e ela estranhou, lembrando-me que sou ateu. As pessoas fazem uma confusão nada. O sobrenatural não tem a ver com Deus nem o Diabo, tem a ver com o que não é natural. Um local pode não ter gravidade e ter oxigênio.

Particularmente acredito numa outra história, na possibilidade de todas as situações serem criações extremamente cerebrais, o que, de certa maneira, dá no mesmo da metafísica porque nós não nascemos para fora (como uma pipoca). Nascemos para dentro com assistir a um filme da pipoca estourando ao contrário (“desestourando”). Quando era o nada, era pipoca, quando fecundou, virou milho. Somos, portanto, milho e não pipoca. Isso é muito importante em nosso desenvolvimento para entendermos que a vida está toda dentro do nosso cérebro e não fora. Somos nós que fazemos as situações, coisas e pessoas, à partir da nossa cognição e criatividade. Para uma pessoa desprovida de cérebro não existe vida. Então vida é cérebro. Essa teoria não é só minha. Ontem pela manhã recebi a visita de um conhecido de muitos e muitos anos, um velho com longa barba e roupas bastante surradas. Ele foi meu professor de tarot e me fez engatinhar na cabala (que até hoje estudo, mas morrerei sem entendê-la completamente). E falávamos de universos paralelos, da sua possibilidade real de existência. Mas é claro que é possível porque a imaginação não tem limites. Os homens não têm limites. Se houvesse algum limite, Borges não poderia ter existido. Se eu leio Borges e compreendo perfeitamente todo aquele universo é porque o aceito (ainda que como obra literária). Se aceito, concordo com suas propostas. Calvino é outra exemplo e Elias Canetti mais um. Se tudo é aceitável, tudo se desfaz no ar e tudo se une em outro ponto, muito além da lógica comezinha do homem tolo. Sim, é uma tolice não perceber a criatividade de cada um. Certo, os burros não têm criatividade, mas aí estão em outra categoria, na dos burros. Estou falando de gente que pensa, que aceita o que vê, que discute as questões um pouquinho mais à fundo.

Esse meu mestre ficou um pouco, tomou uma cerveja me falou de um autor que eu deveria ler (anotei num papel e agora não acho) e partiu em paz. Na conversa posterior com minha conhecida nem citei a visita para não complicar ainda mais. A internet, por exemplo, é uma criação literária, ela em si, não existe. Se não for escrita por seus autores, tudo deixa de existir (Não falo de blogues, falo da internet inteira). E mesmo assim, a net é um dos menos criativos mundos paralelos. Os outros meios, os mágicos, são muito mais interessantes e, para entrar, não necessitamos de nenhum suporte físico. (continua)

Praga Eu

Eventualmente me dizem que crio problemas e inimizades pelas coisas que escrevo e tal. Não tenho certeza se é assim verdade, mas tenho certeza de que digo apenas as coisas em que acredito, as coisas que não me convencem, etc. Grito sim contra falcatruas, peço um pouco mais de ética e imploro para que os insatisfeitos não me respondam, que me ignorem porque eu sou apenas uma opinião, sou apenas uma possibilidade de avaliação (que, a meu ver, está correta), mas respeito quem discorda, quem cospe em tudo o que eu digo. Simplesmente sou a praga que não esperavam, mas morro facilmente com penicilina.

“Gente é pra brilhar, não pra morrer de fome” (C.V.)

As pessoas têm uma visão equivocada sobre o comportamento do outro e do seu próprio. A impressão é que sempre espera-se uma resposta ou uma maneira de se comportar diante da vida… padronizada. Não é. Mesmo pessoas que ‘aparentemente’ são bastante parecidas, no fundo não são, no fundo são outra história, cada uma delas com um mundo diferente, uma resposta diferente às coisas que se apresentam. E por que deveria ser iguais? Qual seria a vantagem? O que realmente necessitamos é de brilhar, de exuberância. Esse texto – repetitivo – se faz necessário como explicação aos que não entendem nada. O que nós precisamos é sentir a alma.

Que reis somos nós?

Não se trata, como pensa a maioria, de encontrar a pessoa ideal. Não. O que deve importar verdadeiramente é encontrar a situação ideal. O estado em que nos sentimos mais completos, mais plenos. Claro que haverá a dor, o sofrimento, mas tudo isso fará parte de um contexto outro, de uma maneira extremamente compreensível para nós. Existem duas maneiras de encarar a adversidade: com fé, onde pedimos, oramos para que a situação melhore ou com entendimento, onde podemos racionalizar o que está acontecendo, podemos nos situar e avaliar nossas melhores possibilidades.

Eu, pelo menos, vejo assim e como prefiro encarar e ver o que faço, não rezo. Não sei avaliar com certeza se perco ou ganho mais, sei apenas que as coisas são assim. De vez em quando me cravam de perguntas se isso e aquilo, se não sou mais infeliz por isso ou aquilo e eu, sinceramente, não sei responder. Não sei tanto da vida e, muito menos, de mim. Mas não faço questão de saber demasiadamente sobre minhas emoções porque isso seria um estado crítico permanente – que também não acho legal. Claro que todo mundo erra e vai continuar errando. O erro é atávico no homem e, muitas vezes, até prazeiroso. Sou apenas mais um e só não aceito mesmo são as deformações de caráter. Se nos aparece uma pessoa ideal numa situação ideal, maravilha, sorte grande! Caso contrário, vale a situação mais confortável. Sem dúvida.

Ritmo

As coisas podem assumir a hipótese (que antes pareceria absurda) do deslocamento no tempo e no espaço. Quando isso acontece, o mundo desmorona sem percebermos bem o porquê. O melhor é estar alheio aos movimentos de idas e vindas do mundo porque existe uma diferença de ritmo no que somos e no que vivemos. Não há explicação. E eu ainda prefiro o ritmo tradicional. Eu sou tradicional.

Divinatório & Cia.

Existe uma teoria (meio estranha) que até Jung experimentou. Bom, todo mundo sabe que o Tarô é um livro, uma espécie de enciclopédia onde estão todas as coisas. Isso quer dizer que o meu baralho de tarô contém todas as possibilidades mundanas e metafísicas. Mas como isso pode se dar com um ateu? Bom, a explicação mais comum é que existe uma interpretação (humana) da disposição que as cartas saíram e que, psicologicamente, projetamos nas imagens expostas tudo aquilo o que não vemos no dia a dia quando estamos distraídos. Então, frente às cartas, as coisas ‘aparecem’ de uma maneira que para um crente seria matéria sobrenatural, mas não é. Apenas interpretamos símbolos e fazemos uma comparação da simbologia com os momentos da nossa vida. O Tarô seria um sonho induzido que, na verdade, não me garante que as coisas que estou ‘vendo’ sejam realmente verdadeiras. Não. São projeções minhas e interpretação de símbolos. E, sem dúvida, existe um universo simbólico que, muitas vezes, não damos atenção. Jogar tarô com uma vela acesa não tem nenhum significado sobrenatural, a vela não ‘chamará’ nenhum espírito (rs), mas a simbologia do fogo, da vela, aguça minha percepção interpretativa da mesma forma que falamos baixo instintivamente ao entrarmos numa igreja. Isso é uma entre milhões de teorias, eu mesmo não garanto nem tenho certeza de nada. O que acontece na minha relação (antiga) com o tarô é que, jogado para mim mesmo ou para outra pessoa, percebo coisas que estão realmente acontecendo ou que acontecerão (não por magia, mas porque minhas atitudes presentes podem influenciar o que vem pela frente). Creio que uma questão de sensibilidade e interesse por símbolos é o que dá mesmo resultado. Nada de anormal nem metafísico. Assim – pelo menos eu – consigo me relacionar com as cartas (livro) do Tarô. Pode ser um delírio que, aparentemente, dá resultado? Pode. Pode ser uma relação quase onírica quando conseguimos interpretar corretamente um sonho… Mas como fazer as pessoas entenderem essa ambigüidade na experiência ou em mim? Difícil. É preciso estar predisposto a entender, confiar nas minhas crenças e descrenças. Na minha capacidade de viajar da realidade crua ao imaginário e voltar, nos símbolos que trago em mim e na minha visão de coisas. Estou falando de mim, mas isso vale, igualmente, para qualquer pessoa. Na verdade não me interesso em provar nada a ninguém (nem a mim mesmo)… só me interesso em ir fazendo as coisas, ir experimentando e relatando. Não existe nada em mim que não esteja relatado em algum ponto (porque isso sim é imortalidade). Se eu queria ser imortal? Mas é claro que sim, por que não? Melhor ser alguma coisa do que ser nada. Claro que existe uma outra visão, a de que nada é nada (que eu uso eventualmente) e que do ponto de vista cósmico, é irrelevante ser mortal ou imortal. Para a estrela Vega, por exemplo, o que interessa se existe ou não vida na Terra e se essa vida é mortal ou imortal? Não interessa nada. Portanto, quando falamos essas nossas coisinhas aqui, estamos falando amparados num determinado ponto de vista estreito e não de uma forma geral. Geral é muito (rs). Como “sempre” é tempo demais. Mas sim, eu tenho, jogo e gosto de Tarô.

Contador de Histórias

Eu tenho um compromisso comigo de dizer as coisas que estou pensando e vendo. Às vezes passa uma hora do fato ocorrido, às vezes passam oito meses, não importa. Um dia aquilo me vem e eu escrevo, conto a historinha. Normalmente antes de escrever faço pesquisas de campo para saber como e porquê aquilo ocorreu. Em outros casos, observo o comportamento das pessoas. Acho bom todo mundo saber as coisas que eu sei. Mas tenho um defeito: não discuto muito o que eu disse. Não porque eu não tenha uma boa argumentação, mas porque, contrariado, percebendo que desejam me iludir mais, aí sim eu pego pesado. E ninguém merece que eu pegue pesado à toa, não é verdade? Às pessoas que têm me escrito perguntando o quê e quem, eu tenho respondido a verdade, a história e o endereço dos personagens, mas não publico.

Deus não joga dados. Conto as coisas e pronto. Estou dando uma chance das pessoas saberem e pesquisarem por elas mesmas. Por mim, vou tratar de assuntos mais interessantes agora. Não vou rebater as lendinhas tolas, não desejo incomodar ninguém. Sou apenas um contador de fatos. O resto é mar…

(um rápido parêntesis)

Recebi ontem dois e.mais que tratam mais seriamente as coisas que tenho falado aqui. O resto, são xingamentos, ironias e essa coisa mais comum do homem deseducado. Mas essas duas cartas me pareceram bastante firmes e honestas, preocupadas (igualmente a mim) com o destino do que fazemos por aqui. Aliás, dia desses uma amiga verdadeira, firme e não daquelas que um dia está simpática e outro dia, antipática, um dia está mais amiga e outro dia, menos amiga. Pois me dizia essa amiga verdadeira que faz aqui apenas cultura e informação. Ela não está caçando pessoas nem fazendo chacrinhas. Gasta muito dinheiro na sua formação erudita e, como resultado disso, escreve algumas coisas aqui. E a coisa (aproveito para responder aos dois simpáticos senhores que me escreveram ontem)é a seguinte: ora, a cultura custa caríssima, é, infelizmente (não sei se infelizmente) para uma casta da população. Quantas pessoas podem gastar 300,00 – 400 reais mensalmente só em livros? Muito poucas. Então, esses espaços são sérios mesmo que não agradem, o que é natural. Eu penso que meu espaço é sério, é resultado de uma elaboração filosófica substantiva, baseado na pesquisa e no estudo. Claro que isso não garante que seja agradável, que seja simpático, que dê vontade de voltar. Claro que não. Muita gente vem uma vez aqui e não volta nunca mais porque acha tudo isso aqui muito chato, ou muito pedante ou muito sem ter nada a ver etc. e acredito sinceramente que todos esses sentimentos são justos, genuínos e que as pessoas fazem muito bem em não voltar. A transmissão de dados de internet é paga mensalmente quer eu escreva, quer não e esse espaço não é patrocinado. Portanto, pouco se me dá se as pessoas gostam vêm ou não. Eu gosto de comentar experiências minhas, leitura de livros, filmes e coisas assim. Todas coisas que eu paguei para conhecer. Algumas coisas me agradaram e outras não agradaram. Igualmente, quando eu falo de coisas aqui eu posso agradar ou não agradar e está certíssimo quem detesta o que escrevo e quem gosta. Nunca imaginei que ia escrever para ser mal aceito ou bem aceito por todos. Até porque a unanimidade é burra. O que eu digo aqui realmente é sincero, é o que estou achando, minha impressão de qualquer coisa naquele momento. Claro que posso mudar de idéia depois (só não volto atrás em questões de caráter). Então, de certa maneira, o que está aqui sou eu…..com as qualidades (se é que possuo alguma) e com todos os meus muitos defeitos. O que eu falo, falo sinceramente. É verdade que minhas posições não são politicamente corretas assim como é verdade que sou implacável com os que, vez por outra, se dizem coleguinhas. No fundo quero ter um número menor (ou nenhum) de coleguinhas, mas apenas de amigos. Se me decepciono? Muitíssimo. Se perco o sono por causa disso? Absolutamente não. Já repeti inúmeras vezes que as coisas mais sérias, mais importantes em mim e na minha visão e convivência com os outros não foi, ou melhor, nunca foi publicada aqui: Tudo é devidamente descrito nos meus diários (que são, evidentemente, particulares).

Através desse espaço aqui conheci gente muito legal que prezo há mais de dez anos. Igualmente conheci aproveitadores e sacripantas. Fofoqueiros. Pessoas de humor variável (para mim um defeito e tanto porque não sou psiquiatra). Enfim, como é normal numa sociedade, conheci todo o tipo de gente. Com certeza, para muitos, eu devo ser burro, chato, bandido…. Normal. É naturalíssimo que achem tudo isso de mim. Afinal, se eu publico, estou tornando meu pensamento público, não é verdade? Dado, portanto, à críticas externas. Normal. E é essa a história, o resto são toscas redondilhas, percepções não cognitivas. Tudo isso foi um parêntesis em função da correspondência recebida. São minhas respostas. Todo o resto são escolhas pessoais e, por isso mesmo, mais do que respeitáveis das pessoas.

Discordando de Pessoa

Leio sobre a Razão assim, com R maiúsculo. Creio que todos os autores escreveram lá suas linhas sobre esse conceito abstrato/concreto da razão. E fico perguntando-me se não há uma forte tendência a um certo ‘intelectualismo’ ou ‘intelectualidade’ da palavra. Razão, razão, RaZãO… Por que o homem de escol é seduzido por essa palavra? Por que a preocupação em ter razão nesse outro sentido também em todo o tempo? Quantas pessoas conhecemos que não são dotadas de Razão (ou razão)? E por que seríamos nós especiais para dizer e avaliar o outro nesse sentido? Não seria a Razão uma Verdade disfarçada (que cada um possui a sua?) Por que eu deveria ter razão? Quem me garante que, muitas vezes é o outro que está coberto de razão enquanto eu duvido e questiono? Na verdade estou distante da Razão, sempre estive e, mesmo velho, não faço questão da razão ao meu lado. E se acontece algo pior? Se, ao transgredir, não estarei aí sim, aproximando-me da Razão?

Realmente não sei. Escrevo isso como crítica a Fernando Pessoa e seus textos sobre o “PROVINCIANO”. Por que ele deve ter razão? Não vejo como. Entendo que provinciano é um tipo de homem, com um tipo de visão do mundo e não, necessariamente, o português. Por que não o francês? O Italiano? O alemão? O que Pessoa descreve como essa característica do homem provinciano português encontra-se no homem de qualquer nacionalidade. Ainda que genial, Pessoa, toma-se de certas antipatias e implicâncias e fica ali, repetindo-se e tentando provar o improvável (ele é assim na sua prosa, não na sua poesia). Pelo menos eu encontro esse modo ‘provinciano’ em gentes de todo o planeta e não em especial nos portugueses. Tem alguém mais provinciano do que o Bush?

O Brasil é um país inteiro provinciano, inclusive suas grandes cidades (o Rio de Janeiro não é tanto). Eu sou provinciano quando me deixo levar por implicâncias ou sentimentos difusos. Provinciano é o espermatozóide que, ao fecundar, não se cuida. Ontem, eu observei na mesa ao lado uma mulher de cabelos, unhas, blusa, relógio, sandálias e celular (!) vermelhos. Ao tempo de minha observação quem era mais provinciano? Ela em querer combinar tudo ou eu em reparar em seu modo de se apresentar? Poderia ser somente ela, mas, ao chamar minha atenção para uma bobagem, igualei-me. Isso aconteceu aqui no Rio de janeiro, Brasil e não em Portugal, Sr. Pessoa! Não confundir um provinciano com um homem sem escol. Não misturar as paixões! De certa forma, provinciano é, essencialmente, quem não tem liberdade plena.

Entrelinhas óbvias

Existe uma expectativa subjacente ao que escrevemos por aqui (ou ali). Considero normal ainda mais quando já é sabido que não escrevo de uma forma muito “clássica” (tatibitati). Eu digo o que penso (e em quem eu penso) de forma a que as pessoas entendam ainda que não esteja escrito literalmente o que estou pensando/sentindo. Acho que um leitor só é capaz quando consegue ler entrelinhas. Nunca, em momento nenhum, NADA está escrito nas linhas. Não ler entrelinhas, portanto, é não ler, é juntar letrinhas sem saber o que pode fazer com elas. Sinceramente eu subestimo essa categoria de ‘leitores’. Ora, a gente tem uma coisa para dizer, uma coisa séria e importante (para nós) e fazemos um texto. Como o outro tem ou teria o direito de não entender tudo, até o que não está escrito? Não escrevo para muitos e não conheço nenhum autor mediano que o faça. As coisinhas que escrevo têm nome e endereço. São ditas para uma pessoa específica ou uma coisa bastante clara. Não escrevo por escrever, para preencher espaço ou qualquer outra coisa. Escrevo para dizer a alguém algo que estou pensando, que estou sentindo ou até mesmo que sinto necessidade. Evidentemente que nem tudo o que escrevo tem uma boa recepção ou sequer acontece o que pretendi. Não. E acho muito normal que as pessoas não sintam as mesmas coisas que eu, tenham as mesmas vontades ou estejam receptivas. Cada um sente uma coisa, pensa uma coisa e vai fazendo da sua vida o que bem entende, não é? Eu posso escrever eternamente sobre uma coisa e morrer aos cem anos sem vê-la concretizada. Sou, como de resto, demasiadamente humano. E possuo (em excesso) os defeitos dos humanos. Como não pode ser coincidência os bons autores que leio escrevem suas coisas e deixam uma parte para ser ‘percebida’, ‘entedida’. Ler não é um ato mecânico, é totalmente cerebral, cognitivo. Falo isso tudo apenas por um ou mais posts que li. Está tudo entendido, tudo resgistrado, tudo percebido. Agora, o que eu faço? Nada. Não sou um ‘passageiro da agonia’, mas sou um passageiro. Faço questão de investir tudo na minha viagem, minha viagem é surreal desde o início dos tempos. Aliás, o surrealimo me agrada mais do que uma posição aparentemente mais ‘comportada’ (porque realmente não sou). Meu período de mudanças talvez tenha passado (embora eu acredite que, de certa maneira, vamos efetuando mudanças enquanto estamos vivos). E pra quê escrevi tudo isso? Pra nada.

Dos blogs

Recebo uma amável carta de um leitor desse espacinho aqui. Ele diz gostar muito e tal, que vem sempre, lê diariamente e me pergunta como é essa história de publicar. Bom, eu não sei para as outras pessoas, falo exclusivamente por mim e respondo que é uma relação muito sofrida. Quando se escreve um livro, ele ganha vida própria é bem aceito ou não e pronto, o escritor fica preservado. Aqui a coisa é bem diferente: é mais ou menos como escrever uma longa novela onde  Ibope, patrocinadores, etc. estão sempre lendo e opinando. Não é que eu não goste da interatividade: gosto. Mas, verdade seja dita, o que rola não é exatamente essa interatividade que imaginamos, o que rola é uma observação atenta que termina num certo controle. E isso acontece de várias maneiras: tenho uma amiga que, nos seus 20 aninhos, é uma gracinha, que eu gosto muito, muito, mas se faço um comentário no blog dela entro para um rol de comentaristas que não têm nada a ver comigo, com pessoas insanas. Não há divisão, não há bom senso de uma maneira mais complexa, o que existe é o cuidado para um não agredir o outro. Ora, isso é uma bobagem porque ninguém em sã consciência vai perder seu rico tempinho para ficar aqui agredindo os outros. Escrevemos tão simplesmente o que nos vem na alma naquele momento, sensação que pode se alterar no espaço de uma hora ou menos. O que acaba acontecendo é que as pessoas começam a escolher palavras, opiniões, começam a escrever com medo de estarem atingindo alguém. Quando você compra um livro – seja qual for – você escolhe o tema e o autor. Mais ou menos sabe o que está levando. Quando você escreve e lê um blog – e comenta – não sabe o que acontecerá em seguida (como já me aconteceu ao ser violentamente assediado por matronas ou agredido por forasteiros que não conheço). É como fazer uma palestra para uma platéia eclética, não escolhida. Então, de certa forma, escrever um blog é mais complicado do que escrever um livro porque você anda no fio na lâmina, está sempre no limbo. Foi por isso que eu resolvi há tempos voltar minha escrita para meus diários manuscritos e deixar nesse espaço coisas de menor importância.

Claro que eu poderia encerrar o sítio e sumir do mapa, mas também não acho essa uma atitude legal. Apesar dos problemas acredito que sou mais útil por aqui, dialogando, aprendendo, acusando quando for o caso. As pessoas não irão mudar, bem sei, mas quem lê sabe o que estou achando, como estou me sentindo. Ninguém escreve mais sobre blogs do que eu. Ninguém. E confesso que eu também gostaria muitíssimo de não escrever. Por outro lado, creio que existem assuntos mais ou menos delicados que devem ser debatidos, que a gente deve sim colocar a mão na ferida e gritar: Olha, gostei! Olha, não gostei! – Ser voz isolada não me incomoda em nada. Sou mesmo, de uma maneira geral, mesmo fora daqui. Não sei porquê, algo me atrai para uma certa polêmica, estou invariavelmente no centro dela. Aqui não chega a haver polêmica, eu apenas vou rascunhando minhas opiniões sobre a utilização do meio e as pessoas vão concordando ou, na maioria das vezes, me dando porrada. Mas creio que tenho uma casca meio grossa além de uma paciência e pendor para compreender, talvez fruto da minha idade avançada. Ou, talvez, não seja nada disso, talvez eu fala desse espaço minha janela, minha tribuna para o mundo (2 ou 3 pessoas rsrs)

O que eu sou?

Dentro do limite máximo, eu pretendo ser livre. Pretendo fazer e dizer todas as coisas que penso e escolher aqueles que serão meus amigos e os que serão meus inimigos. Não quero tampouco, ficar de meias palavras e justificativas que não justificam nada. Quero ir fundo em todas as coisas e, muito justamente, pagar o preço de cada uma delas. Insisto em andar pela rua chutando latas ou pedrinhas, bebendo a quantidade de álcool ou tomando os tranqüilizantes sintéticos que achar necessários, falar da minha vida para os amigos e para os profissionais treinados em ouvir. Quero dizer que estou bem mesmo quando o dia se passa em solidão porque me ocupo das mais variadas maneiras, quero dizer que fico deprimido de uma hora para a outra e isso é muito ruim e os medicamentos não funcionam. Dizer que, na maioria das vezes estou alegre e com a cabeça fervilhando de planos mirabolantes (embora eu tenha consciência de que uns são viáveis e outros não). Quero ainda amar mesmo que seja à distância porque a vida é assim ou, talvez, eu a tenha encaminhado assim, não importa. Quero fazer juras de amor eternas ao meu fiel escudeiro, meu gato Artur que está presente e solidário nas boas e nas más horas. Quero dizer que a internet me encanta o que não me impede de vomitar de verdade lendo determinadas narrativas. Dizer que meu saldo nessa sociedade em rede é pra lá de bom, que o número de amigos que conquistei é infinitamente maior que o número de inimigos (que nem são inimigos, são apenas umas bestas, uns jekas). Dizer que gosto de ser lido não pelos possíveis holofotes que acaso me iluminem (estão mais para lamparinas), mas, antes, por conseguir dividir o que me vai com o maior número de pessoas e, dessas, aceitar as críticas construtivas (porque eu, como todo mundo, sou muito carente de críticas). Mas não é só. Pretendo ler e ver fotografias, assistir vídeos e tudo o mais que me possa ser proporcionado, embora às vezes  bata um desespero por não ter tempo para tudo. Reafirmar em mim a frase de P.F. de que se eu não conheço é porque não existe porque eu conheço tudo. E se não conheço tudo, me dêem um momentinho porque eu vou logo ali e vou conhecer. Por fim, deixar um legado de amor às pessoas porque como cantou Rita Lee há 500 anos atrás “Eu sou amor da cabeça aos pés”. Faço um adendo. Não sou apenas amor, tenho minha parcela (grande) de raiva também. O mais não é nada porque, sabemos, palavras o vento leva, mesmo as grafadas, as digitadas e as indigitadas. Sigo em frente sem lenço e com documento, falando, gritando, esperneando, ouvindo, chorando, me emocionando, vomitando e sentindo ódio. Sou apenas um homem.

O que eu realmente quis dizer

Eu ia deletar o post abaixo porque escrevi unicamente para duas mulheres e, sem querer, generalizei causando um mais do que justo mal estar e permitindo uma interpretação errada. Mas não vou deletar para não perder os comentários. Assim, reescrevo o pensamento com mais tranqüilidade e menos açodamento:

calma – calma – calma – calma

“Tenho 52 anos de idade. Já me chamam de ‘senhor’ em todos os lugares. A velhice bate, sorrateira, à minha porta e eu a deixo entrar e tomar todos os cômodos. Se me perguntassem se eu gostaria de voltar aos 30 anos, seria categórico: não. A vida tem seu tempo e eu, ‘confesso que vivi’. Entretanto, nos últimos doze meses tive umas experiências insólitas que me deixaram meio assim. Conheci duas mulheres, uma beirando os 50 e a outra com 50. Mulheres carentes, solitárias e, pasmem, desesperadas. Mulheres de relacionamentos desfeitos e, temerosas com o avanço da idade, pularam no meu pescoço, entendendo que eu seria um ‘par’ ideal. Não sou e fiz ver às duas, com educação, que não seria ideal, que meu momento é de estar só, de estar voltado antes de tudo para mim. Normal, não é? Pois as duas (uma meio cultinha e outra analfabeta) se desesperaram e, diante da minha negativa, foram profundamente agressivas. Tomaram ódio por mim e passaram às ofensas. Um dia dou o nome das duas. Mas isso não vem ao caso agora. O que eu penso é que, quando vamos passando dos 45 anos não devemos nos desesperar, que podemos estar no melhor momento de nossas vidas. Que a história  das rugas e, eventualmente, da morrinha só se instalam mesmo na terceira idade, lá pelos 80 anos. E tem mais: isso não é uma característica de mulheres. Homens, igualmente, ao verem a idade se aproximando desesperam-se e buscam um certo elixir da juventude procurando ninfetas. E tudo isso para quê? Medo, pavor, de quê? Acho que todos os momentos da nossa vida, todas as idades podem ser boas e prazerosas, cada uma delas com suas características.

Portanto, amigas, acalmem-se. Se eu não fui um bom partido  outros virão. Evitem apenas o desvio de caráter pois esse não é aceito nem numa menina de 14 anos. 

Movimento circular

Procuro um ponto de equilíbrio entre eu e os outros, entre eu e a vida. Não estou disposto a fazer as vontades idiotas do mundo como não estou, igualmente, disposto a impor algo meu que não seja coerência. Para isso ser levado à cabo com uma certa justiça talvez fosse necessária a presença de um árbitro ( e nesses casos as pessoas apelam para deus, santos, anjos, etc). Quando chega um novo ano, quando o calendário fica novamente cheio de datas, ainda que esses números, esses “dias” não representem nada mais do que uma contagem, a prática não diz assim, a prática diz que teremos de passar novamente por coisas como carnaval, aniversário e outras tantas. E, se você se rebela contra isso, se você pretende se negar a participar desse movimento circular e chato… bom, na verdade é você que está se colocando à margem do mundo. Não que estar à margem do mundo seja necessariamente um problema até porque os marginais são muitos mais interessantes, têm muito mais a acrescentar do que os que não são. E é preciso ficar atento quando tratamos disso porque muita gente faz “um tipo marginal” meio que pra impressionar e não estou tratando disso, estou falando simplesmente de esferas, de círculos.


Depois que minha amiga que é Física me convenceu que o universo é curvo, percebi que realmente estou preso, que o sistema solar faz voltas e retorna ao pondo de partida (assim como um navio parte, dá a volta à Terra e retorna ao ponto de partida). E o que é isso? Cárcere! Estamos irremediavelmente presos e, justamente, por estarmos presos é que se faz necessário um ‘contra’ movimento da nossa parte, um motim criado dentro da existência para minimizar o movimento e circular e permitir que tenhamos ações mais substantivas. É um assunto que não cabe em apenas um texto, que é preciso ser amadurecido, que precisa ser revisto como revemos atores algumas vezes na interpretação de um papel para que percebamos a sintonia fina dele com o personagem. E é necessário também um certo recolhimento. (continua)


Ela…

Ela...

Trocas

e-mail



Mini blog



"A descoberta do Prozac criou um universo de eunucos felizes"

"É-nos impossível saber com segurança se Deus existe ou não existe. Por isso, só nos resta apostar. Se apostarmos que Deus não existe e ele existir, adeus vida eterna, Alô, danação! Se apostarmos que Deus existe e ele não existir, não faz a menor diferença, ficamos num zero a zero metafísico" Albert Camus

Visite:
wwwgeraldoiglesias.blogspot.com

""Deve-se ler pouco e reler muito. Há uns poucos livros totais, três ou quatro, que nos salvam ou que nos perdem. É preciso relê-los, sempre e sempre, com obtusa pertinácia. E, no entanto, o leitor se desgasta, se esvai, em milhares de livros mais áridos do que três desertos."
Nelson Rodrigues

Do que se gosta?

  • Nenhum

Tempo…

maio 2024
S T Q Q S S D
 12345
6789101112
13141516171819
20212223242526
2728293031