Archive for the 'miscelânias mis' Category

retalho

Não ouso com uma barata. Não quero pessoas-baratas nem baratas-pessoas. “A Metamorfose” me causa engulhos, a possibiliade de…

O banheiro é o lugar onde o sangue mais mais aparece. Cinema. Menstruação nunca se inicia no banheiro. Somente tiros e facadas, somente personagens escondidos embaixo da banheira antiga ou ainda imagens que aparecem no espelho enquanto ela se observa. Grito. Fade com trasição de 20 frames. Tudo fica óbvio porque mulheres muito brancas tem visíveis veias roxas – como uma flor que nunca lembro o nome – (acho que uma é hortência). Me parece que suspense no cinema prega mais sustos do que na literatura. E concluímos cedo que o cinema usa planos fechados das ‘vítimas’ exatamente para não percebermos quem está escondido, de tocaia. E  na hora: susto. Claro que a trilha sonora é fundamental (e livros não têm trilhas sonoras). Mas não adianta: o livro é sempre melhor.

O livro mexe com nosso consciente e com o inconsciente, com a dor e a necessidade premente como se ‘fora do tempo’: o livro está ali.  Os escrevinhadores são seres desalmados que não se penalizam de nada nem ninguém e colocam para fora, no papel, todos os surtos, todos os estados catatônicos, toda a sujeira da mente exposta à crianças de quarenta anos.

O escrevinhador é um deus que joga dados conosco o tempo todo e jamais deixa de vencer, jamais se abala (com todos os seus dentes cariados e feios, seu mau hálito, suas badalhocas). Galopo no cavalo negro em busca de albergues, de pousadas vagabundas de beira de estrada e o céu pode ser vermelho.

O mundo parou?

O problema é sobre o que falar quando, definitivamente, os assuntos estão mortos. Não existem mais. O que existe agora é a observação de alguma coisa que passa desapercebida aos olhares voltados para as coisas importantes. Porque de importante mesmo não acontece nada de novo, acontece uma releitura do que foi, do que ocorreu, do que nos chamou atenção no passado. Falar de livros? De pessoas? Nascimentos e mortes? Basta ler os editorialistas dos grandes jornais e revistas. Falam do que foi, fazem novas leituras do óbvio, de tudo o que digerimos há meses ou anos atrás. E se em torno não acontece nada começamos a “inventar” coisas, abandonamos a crônica e entramos numa zona perigosa do que seria criação literária (e não é) ou de uma forma de delírio, ainda que um delírio frágil, desses que não assustam, que fazem ensaiarmos um sorriso educado. O que existe de produção nessas áreas é nada porque o mundo parou. Curioso é que a maioria das pessoas não percebe essa “parada do mundo” e fala disso ou daquilo como se fosse novidade. São as mesmas guerras, as mesmas quebradeiras de bolsas, os mesmos óbitos, os mesmos livros os mesmos casamentos e descasamentos entre famosos, os mesmos programas de televisão (cada vez mais pasteurizados), os mesmos filmes (refeitos agora utilizando recursos de computação gráfica). Porque já relatamos todos os encontros estranhos que tivemos na vida, os mesmos malucos, os arranjos novos para canções velhas. Os blogs por exemplo, se repetem à exaustão – cada um deles batendo na mesma tecla que escolheram (principalmente este aqui). E os comentários nesses blogs (este não é), repetem observações, elogios, parabenizações que já vimos antes, que um dia até nos interessaram. Não aconteceu nada de novo desde “2001, uma odisséia no espaço”. Toda a produção posterior é repaginada. O Brasil comemora a edição em português de dois livrinho de Cotázar da década de 60. E poesia moderna é Fernando Pessoa. Nada contra autores nem fatos do passado, tudo à favor porque é graças a eles que estamos onde estamos (ainda que estejamos no nada). E é fato que o Sol vai se apagando e a Terra girando com menos velocidade.

A revolta do niilismo – O equívoco de Sartre: O inferno somos nós

O sorriso fácil pode mostrar o equívoco que provocamos no outro quando este pensa que estamos felizes ou tranqüilos. Nada mais errado. O sorriso fácil é mais uma das mil e uma máscaras que utilizamos no dia a dia para tornar possível nossa relação com o mundo. Esta relação se traduz numa enorme quantidade de signos que vamos usando (muitas vezes criando) de forma a buscar uma compreensão mínima do que esperamos uns dos outros. O que é outra mentira. Não esperamos nada uns dos outros, não esperamos nada de nenhuma pessoa e quando esperamos (muitas vezes) algo, trata-se de uma explosão emocional descontrolada onde busca-se o céu ou o inferno no próximo ( ver “O inferno são os outros” – Sartre).

Essa fragilidade ontológica em Jean-Paul traduz o limite do pensamento humano mesmo na área filosófica onde ainda conseguimos fazer vôos um pouco mais altos.  Não adianta a filosofia de per-si não havendo uma perceção bem mais “rasteira” que é a aplicação pura e simples de conclusões que contaram com recursos intelectauis que fogem à nós mortais.

Relações de trabalho, de companheirismo, coleguismo, amizade e amor são tão somente a representação de uma idealização inconsciente de uma espécie de mundo melhor (se me entendem), um mundo onde sofreríamos menor violência, agressividade e dor. Ou seja: uma fantasia, uma inverdade. Da mesma forma buscamos conforto espiritual numa série de crendices tolas que convencionamos chamar de religiões. A religião também é mais ou menos isso, mais ou menos uma forma de garantirmos algum apoio, alguma promessa metafísica que nos garanta o que não conquistarmos na existência terrena. Pois não temos nem garantias na existência terrena nem (muito menos!) na metafísica. Sartre se equivoca quando diz “O inferno são os outros”… deveria ter esperado mais e percebido que é mais correto afirmar sem medo de errar que “o inferno é a vida” o que podemos traduzir como “O inferno somos nós”.

 

Miscelânia

Um passante na 20° Bienal do Livro em São Paulo, um gaúcho meio doido (com enormes óculos amarelos, mais parecendo uma mosca doida) diz umas coisas que podem ter algum fundo de verdade. Ele diz que a internet é uma possiblidade da gente errar e aprender e refazer nossos textos nos sites. Que não nos “encastelamos” como escritores e ponto final. Que  tudo está sempre em discussão. Não…. eu creio que não concordo com ele. Se, por um lado, concordo que um texto possa estar sempre ‘em discussão’, discordo que um autor (bom ou medíocre) não possa se distanciar de sua obra e seus leitores. Eu não tenho nada publicado, portanto, não tenho nenhuma autoridade (nem talento) para falar. Mas se, hipoteticamente, eu colocasse um ponto final num texto que fosse publicado e entregue ao leitor, acredito que o lógico seria que ele gostasse ou não, concordasse ou não, me amasse ou me odiasse. Impossível imaginar um mundo de autores em que não podem jamais colocar um ponto final… que tenham de estar eternamente em discussão com leitores efêmeros. Verdade (antes que gritem) que leitores não são efêmeros num sentido mais simplista. O que digo é mais óbvio: pessoas necessitam terminar o que fazem, precisam dizer: “Olha, galera, era isso o que eu tinha a dizer“. De outra forma vira assembleísmo, escapa a qualquer resquício de arte. Porque qualquer tipo de arte tem que ser conclusiva. A arte não conclusiva é a que está em processo e, estando ‘em processo’ não pode ainda ser questionada e, se for, deixa de ser arte. Tudo do lado do avesso.

Relógio ou como apagar Clarisse

em cada noite insone, à cada sonífero que não faz efeito, trago em mim uma preocupação, uma dose de medo, uma certeza de que me imobiliza como inseto nos antigos papéis pega-moscas (que nunca mais vi). olhar para o teto e criar histórias, como prega o último romance de auster também não chega a me solucionar a angústia porque um autor – por mais tenaz em seu ofício – dificilmente imagina a dispersão do escuro, do relógio que insiste em não caminhar. os relógios funcionam sempre contra nossas expectativas, acelerados quando não desejamos e lentos quando precisamos. sempre achei o relógio uma máquina do mal. o relógio, se prestarmos atenção, ocasiona guerras, mortes, depressões, suicídios. toda a sorte de desgraças que nos chegam vêm sempre através do caminhar de um relógio. no mínimo, ele nos aprisiona. no mínimo, nos domina. o relógio tem um parentesco muito próximo com o espelho, essa outra criação baseada no reflexo das águas que, em nenhuma hipótese é portadora de notícias boas. igualmente, o espelho decepciona, contradiz, irrita, é portador da má notícia inclemente do passar do tempo em nós. já pensei – em tempos remotos – em mardar construir para mim um relógio que andasse para trás, mas percebi à tempo que ele seria igualmente desagradável: ou não funcionaria (em contraponto com os bilhões de relógios existentes) ou me levaria uma uma situação uterina, ao período do meu big-bang pessoal – e nunca é bom arriscarmos um renascimento… renascer é começar de novo sem ter as garantias do que já nos ocorre hoje e sempre a vida pode ser mais madrasta do que é. prefiro olhar esse espelho (que é mais ferrugem do que outra coisa), perceber que todos os pelos do meu corpo nascem cada vez mais brancos, que as rugas se acentuam, que o céu não é mais tão azul como era há quarenta e cinco anos atrás. prefiro ainda, desdenhar relógios, banais como toda a inventividade humana que pensou antes na guerra e na caça do que no seu próprio bem estar. A surpresa final de Brick* talvez nem seja mais tão surpreendentemente assim quando nos permitimos observar a variedade de opões dos livros. acho tolo e ignorante (e rataqüëra) quando observo pessoas agarrando-se a um só autor como Clarisse Lispector, por exemplo. Já vi, em vários momentos, Clarisse servir de porto seguro para quem não vai à página 3 de outros tantos autores que têm tantas histórias para contar… Clarisse vira referência, apanágio e escapatória… símbolo e avatar aos que não se aventuram em mares mais profundos. porque tem isso, né? as pessoas se agarram num bom autor, num autor palatável e pronto. Clarisse não desvendaria o segredo de Brick antes da última página. não ousaria tanto. evidente que não estou desdenhando a genialidade de Clarisse, estou falando de outra coisa, trato da…. bom, deixa prá lá. o cerne dessa minha questão nesse momento é a independência matreira e ilógica dos relógios – que foram criados como a energia nuclear – onde acreditava-se que poderia ajudar o mundo e deu no que deu. talvez um homem no escuro possa se dar ao luxo de fazer um relógio andar para trás.

Dúvidas

Ainda estou incapacitado de falar mais dos livros que estou lendo. Tenho feito uma anotação aqui e outra ali, na maioria das vezes em cadernos esparsos que vão me aparecendo (e, muitas vezes, vou perdendo). Continuo muito envolvido na realização do programa Revista Brasil (exibido pela TV Brasil aos domingos às 17 h) além de outras atividades profissionais. Então é pra dizer que não estou aqui e que estou aqui – desequilíbrio mental de nascença – que me faz ser múltiplo nem tanto externa, mas interiormente. Imagino que meu corpo abrigue vários espíritos e, cada um deles, tenha projetos, desejos, metas. Mas o que proporciona a realização é esse corpo uno, o que me deixa sempre em dívida com os outros e, muito principalmente, comigo mesmo. O que eu não tenho certeza é se sou apenas um ou vários (como surgiu há pouco essa dúvida entre leitores e a própria K. do Incompletudes). Ela vem sonhando muito que não é ela mesma que, na verdade, sou eu como sonha também que eu não existo, sou uma brincadeira dela com os outros e com ela mesma porque esse processo esquizofrênico – possibilidade de várias pesonalidades – nem sempre é uma doença psiquiátrica, muitas vezes é um desvio filosófico. E como sempre repito aqui que sou um personagem de mim (como todos somos), existem vácuos de tempo ou buracos negros inconscientes que aconselham a que nos afastemos de vez em quando dos personagens da literatura (muito embora eu ache que eu não sou eu, eu sou uma idéia de um escritor), que eu mesmo sou literatura e não gente.

Bom, eu ia falar o porquê não estou comentando muito os livros que estou lendo. Mas como, pra explicar isso, acabo desconfiando que eu próprio sou um livro, a coisa toda muda de figura. (continua)

Miar como meu Gato

Lendo Oceano Mar (já bem no finalzinho), indicação dela (que sempre indica o que há de melhor). Realmente um livro como poucos. Lembra-me um pouco Elias Canetti, mas não é bem isso, é de uma outra forma. Os livros voltam a se avolumar aguardando leitura. Tem os Ensaios Reunidos do genial Samuel Rawet e outras cositas más. Insisto em que o tempo é curto, não tenho como fazer todas as coisas que desejo mais as que necessito. Existe em mim uma pressa, um desassossego daqueles que estão com a morte decretada como se todos nós não estívessemos. A morte deixa de ser essa coisa longínqua em que não pensamos mais. Reflexo, com certeza da idade (muito embora conheça gente de oitenta anos que não pensa nisso). Ou então é de mim mesmo, talvez falta de assunto para pensar… sempre desejei pensar como a boneca Emília ou como Peter Pan, mas, castigado pelo ateísmo, isso me foi negado. Fico então especulando sobre isso e aquilo, sobre o porquê de algumas coisas que, mesmo explicadas, parecem-me inexplicáveis. Especular é uma forma de burrice, não tenho a menor dúvida. Uma pessoa que não tem nenhum sintoma de ignorância não especula sobre nada, faz apenas assertivas disso, daquilo e daquilo outro (ainda que não sejam totalmente verdadeiras – que não sejam comprovadas cientificamente). Mas é o que ocorre. Pode ser de passar muitas horas calado (ainda não aprendi a miar como meu gato), esse silêncio que me invade e eu adoro pode trazer em seu bojo determinadas neuroses (a mais) que eu ainda não possua, pode tornar-me uma pessoa com referências equivocadas ou, mais provável, sem nenhuma referência. Não sei ao certo. Sei apenas que o tempo passa, as coisas acontecem muito vagarosamente e vou me perdendo em pântanos jurássicos, desses que eu nunca imaginei encontrar. Lembra-me uma carta do Tarot pela qual sempre tive simpatia e admiração. O Tarot não deixa de ser meu refúgio mítico porque inventei uma teoria sobre o baralho (que não é baralho, é livro) e um certo discípulo de Freud. Igualmente descobri que Freud foi completamente descartado e vencido pelos cientistas, pelos Químicos de hoje em dia. E assim, de história em história vou pulando como quem pula de pedra em pedra para não enconstar na corredeira de lavas incandecentes que passam por aí.

Porque pessoas escrevem ou Por que pessoas escrevem?

Determinados dias, diminuo minha leitura de livros e dedico-me aos blogs. Muitos são interessantes e outros tantos, chatérrimos. Minha opinião. Tem gente que deve adorar os que acho chatos e vice e versa. Não tem padrão. O que tem é um monte de gente escrevendo quase diariamente (ou mais um uma vez ao dia) aquilo que está pensando ou aquilo que gostaria estar pensando. Tanto faz. Fala-se muito, teoriza-se sobre pessoas que simplesmente estão disponibilizando emoções (ou a falta de).

Quero estar bem distante dessa turma, dessa gente que fica filosofando sobre o porquê pessoas gostam de contar coisas, de escrever por necessidade ou simplesmente por escrever. Esses detalhes não me interessam em nada. E nem deveriam interessar a ninguém. O blog, assim como a literatura e outras manifestações, não deveria se prestar a análises acadêmicas, devíamos apenas saboreá-los ou os deixarmos de lado. Não interessa a análise que fazem do que escrevo. Escrevo por escrever, simplesmente. Escrevo em blog, em blocos, em cadernos (muitos)… enfim, gosto de contar o que estou vivenciando e sentindo (ainda que muitas vezes não seja politicamente correto). Nada disso me interessa. Se soubesse, talvez em desenhasse ao invés de escrever… ou preferisse fazer uma sopa, sei lá. Ou dormir, quem sabe? Tudo o que é colocado aqui tem uma importância enorme e, ao mesmo tempo, não tem importância nenhuma! Não sou um escritor, sou um escrevinhador. Em momento nenhum busco cadência nas palavras, nas frases. Em momento nenhum acho que há qualquer erudição por aqui (nem por ali). O que existe de fato (em mim e nas pessoas que escrevem) é um “transbordamento” de emoções, de impressões colhidas nas coisas do dia a dia. Nada mais do que isso. Simples assim.


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"A descoberta do Prozac criou um universo de eunucos felizes"

"É-nos impossível saber com segurança se Deus existe ou não existe. Por isso, só nos resta apostar. Se apostarmos que Deus não existe e ele existir, adeus vida eterna, Alô, danação! Se apostarmos que Deus existe e ele não existir, não faz a menor diferença, ficamos num zero a zero metafísico" Albert Camus

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""Deve-se ler pouco e reler muito. Há uns poucos livros totais, três ou quatro, que nos salvam ou que nos perdem. É preciso relê-los, sempre e sempre, com obtusa pertinácia. E, no entanto, o leitor se desgasta, se esvai, em milhares de livros mais áridos do que três desertos."
Nelson Rodrigues

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