Arquivo para junho \29\-03:00 2008

De novo….Roth

Sai mais um romance de Philip Roth, “O Fantasma sai de Cena”. É muito difícil falar de Roth porque ele é o melhor autor americano moderno e seus livros surpreendem e se superam sempre. Um Flaubert da nossa era. Um Dostoiévsky mais contido… Mas dessa vez Roth vai longe demais: seu alter ego Nathan Zuckerman, um escritor judeu (como Roth) está velho… está impotente e com incontinência urinária desde que retirou a próstata com câncer… E esse homem que estava escondido há onze anos no campo retorna à cidade por uma motivação tola e encontra uma sociedade que ele praticamente esquecera. E encontra escritores jovens e impetuosos como ele fora, encontra uma mulher por quem se apaixona (apesar da impotência)…. Enfim, certamente no final do livro (que ainda não cheguei) ele morrerá… e com ele morrerá uma parte de Roth. Vale à pena

Poetas do mundo

O contato se estabelece. Inventa-se outra forma…. e outra… e outra… Desconstruindo sempre. Ampliando e minimizando. Minimalista. Obscura forma de desejo. Vontades irracionais… certa confusão mental entre o que é romance e o que é História. Não se faz História. Nem ela tem tanto valor prático. Filosofia é mais prático do que realidade. Poesia, mais ainda! Poesia é vida imaginária e doce. Não atentamos para a força da poesia-vida. Do que foi e será. E será sempre. Mais e diferente. Afinal, o que somos uns dos outros?

Revista Brasil

No próximo domingo, dia 29 estréia o programa Revista Brasil às 17 h. Tem sido uma produção muito difícil de ser levada adiante por ser um produto complexo de conteúdo e estética. A equipe tem trabalhado muito e ainda percebemos falhas aqui e ali. Trata-se de um programa de pura criação, exercício intelectual e estético. Um programa praticamente feito na hora da montagem, da finalização. Ainda existem muitas coisas a serem aparadas, não creio que já esteja totalmente pronto e idealizado, a não ser na minha cabeça e do Ricardo Soares, supervisor do programa. Entretanto, com muito trabalho e imaginação, creio que chegaremos lá em breve.

Fuentes

Carlos Fuentes, no seu “Em 68” traça uma excelente visão daquele ano em Paris, Praga e México (México é o melhor). A visão latina de um movimento prioritariamente europeu ajuda a compreender como, ainda distante da globalização esse movimento tornou-se universal pela necessidade – à partir da consciência dos estudantes – de rever conceitos, de melhorar padrões de vida, de perceber o mundo de forma mais humana. À partir de um tipo de “guerrilha do amor” foi lançada a pedra fundamental para um mundo democrático, que, se ainda não alcançamos, é por incapacidade nossa e não dos jovens que lutaram para isso.

Tosse

A tosse é uma espécie de descarrego involuntário da alma. Tossimos para não nos envenenarmos, para não nos contaminarmos, para afastar a morte. Tossimos ainda como forma de xingamento a todos os chatos que circulam à nossa volta (e como tem gente chata!), como xingamento à todos os corpos estranhos que nos invadem (não só micróbios, mas, principalmente, pessoas). Tossimos para adiar a morte por um dia ou dois, para reafirmar cansaço existencial e saco cheio diário. Por fim, tossimos como forma de reinvenção e reconstrução.

Resistência

Um movimento inteiro deixado de lado. Essa a realidade que me dói, constrange diante do inevitável passar desse tempo de nuvens carregadas, dessa impossibilidade frugal, enfrentamento e tentativa de destruição ao quiosque coberto de palha seca numa ilha paradisíaca. Por outra, uma certa visão do mal, do desastre que não se anunciou, da mudança radical tomada emprestada de uma visão deformada e deformante da filosofia barata. Aparente fim de jogo, aparente tentativa de desmobilizar o que é, o que construímos em tão poucas gerações… Sou esses pensamentos insanos que tomam corações e mentes frente às nuvens negras que prenunciam um tipo de morte não anunciada.

Caminho por ruas conhecidas, eu mesmo com uma visão desconhecida, de estranhamento diante de um certo lamaçal orgânico que destruí já na minha juventude e agora reaparece como um fantasma que se pretende assustador, mas é apenas uma pálida tentativa de retornar ao anteriormente restabelecido que todos nós, ainda muito jovens, atiramos na lixeira da História.

O que se busca então é a retomada das conquistas e a manutenção do lixo nos aterros. O que buscamos é a revolta diante de tantos políticos corruptos, da polícia corrupta e assassina, da fome, da falta da Educação e da Saúde para esse povo pobre e sofrido. Somos o que restou da guerra suja, somos a Resistência última, a tentativa matuta de reinventar um passado de lutas já inventadas. Deveríamos ser as sentinelas atentas contra tudo o que de execrável insiste em reaparecer, retomar. Somos a semente da mostarda, o filho pródigo que se recusa a crescer numa sociedade fútil e vagabunda.

Menos um grande ator

Morre André Valli, um grande ator brasileiro (talvez pouco conhecido pelos mais jovens).

Trabalhei com André pela primeira vez no início dos anos setenta, na segunda novela do horário das seis (A Primeira foi Helena, protagonizada de forma belíssima pela atriz Lúcia Alves). A segunda novela foi “O Noviço” onde Pedro Paulo Rangel intepretava o papel título e Andre Vali era o superior do convento.

São, todas essas mortes que vêm ocorrendo, enormes perdas para nossa arte  no teatro, cinema e televisão.

A projeção de um fim escorregadio, falso

Tenho a impressão de que esse é meu último fim de semana em casa. Nos outros estarei trabalhando, me desesperando, chorando pelos cantos como um bebê chato. Bebês são chatos. Homens são chatos em sua eterna burrice. Muitas vezes sinto-me obrigado a falar com pessoas que não me conhecem, que não conhecem o que eu conheço e conhecem coisas que não conheço. Essa divisão mal versada de gostos e conhecimentos afasta mais do que aproxima. Por engano ou inocência, achei que na velhice encontraria algum tipo de paz, algo como um porto seguro (o que não quer dizer necessariamente uma mulher), algo que me fizesse diminuir o número de pílulas, de garrafas de uísque ou seja lá que cabeçadas vou dando por aí. Não aconteceu, nada mudou e isso me preocupa porque, se nada muda realmente, continuo com o amargor na boca, com a ansiedade, a pressão no peito. Pessoas passam e eu, com jeito para não parecer mais maluco do que sou, afasto-as, digo que estou no meio de uma tarefa inadiável mesmo sabendo que é mentira. Quando mentimos para nós mesmos essa idéia de mentira se minimiza porque não estamos sendo maquiavélicos, não estamos aprontando para o outros… Não? Claro sim! Quando mentimos para nós mesmos institucionalizamos a mentira, banalizamo-as, fazemos dela uma verdade num universo de ponta cabeça. Não tenho esperanças de escapar dessa roda viva, não tenho esperanças de que nada se altere até porque não sei como eu me sairia num mundo diferentes, diverso desse que abomino. Os filósofos, por sua vez, me parecem muito fracos, frágeis, inocentes. Os medicamentos são sempre muito fracos e deus, coitado, precisa ser inventado e reinventado por cabecinhas tolas. Entrego-me a um sono (induzido), busco vivenciar os personagens que leio, começo a perder a esperança em me desconstruir sempre porque a argamassa é a mesma.

A falta de ar de cada dia

Existe uma determinada parte da existência que é tola, chatinha, cheia de reveses e essas coisas todas que trazemos de um ontem que deveríamos ter aprendido a deixar para trás definitivamente. Somos todos responsáveis, de certa forma, pela gosma que trazemos atrás de nós, como a nos lembrar do que aconteceu numa determinada época, uma época que já deveria ter caído no buraco negro da noite do tempo.

Porque se andamos carregando sempre o desequilíbrio do que se foi, continuamos presos num espaço-tempo que não é, que não admite a possibilidade do que chamamos futuro tornar-se presente e, apesar de todas as nossas impressões, a vida implacável, dona de um tempo todo próprio, diferente que conhecemos, vai passando, vai nos deixando suspensos no ar ou na falta de ar.

O que é o MST?

Além da anarquia generalizada, alguém sabe dizer que o MST pretende realmente (súcia chefiada pelo Stédile)?

O Fim do Rio de Janeiro

Sou espectador de um circo de horrores na cidade do Rio. Grupos armados, bandidos, arrastões, milícias tão perigosas quanto facínoras. Há um enorme desgoverno, uma enorme desconsideração com a população carioca bem como os turistas que buscam por aqui alguma paz. Há risco de sair à rua de dia ou de noite, de entrar em bancos, de tudo. Balas perdidas zunem ao nosso redor a qualquer hora, em qualquer bairro. Um descalabro. Uma vergonha o Rio de Janeiro com seu povo camarada, sua gente amena 

Marlboro Azul

Como num aviso ancestral, o dia hoje nasceu com tons mais avermelhados do que de costume. Sinal? De quê? Bem verdade que não estou com muita paciência, tenho andado meio de saco cheio. Algumas pessoas ficam esperando que você pisque um olho e te abocanham e a idéia de viver minimamente feliz sem piscar me soa estranha e desagradável. Portanto, deixo esses assuntos para lá porque sou mesmo um sobrevivente da Coréia e não serão peidinhos rastaqüeras que conseguirão me desequilibrar.

O que tenho de bom é que nesse fim de semana terminei a leitura de “O Despenhadeiro” de Fernando Vallejo e me aventurei em iniciar “A gente se acostuma com o fim do mundo” de Martin Page apesar de uma crítica não muito favorável de K. De toda sorte, parece-me um livrinho leve e agradável e seu (anti?) herói passa por situações semelhantes às minhas. Ainda é muito cedo para falar.

Diante disso, desse cursor irritante que se recusa a parar de piscar, penso na máquina de escrever e da folha em branco que me cobrava antigamente, mas não havia o maldito cursor. Resta-me apenas mais uma caneca (das grandes) de café preto e uma infinidade de cigarros Marlboro Azul. Azul ou cinza deve ser igualmente a tonalidade dos meus pulmões carcomidos. Observo o dia azul, mas preservo muitas trovoadas sob a luz fria e branca dos escritórios, das reuniões vãs, das pessoas que lutam sem entenderem, da tola disputa de poder.

Volto ao meu livro como Sartre voltou a Colomba naquele bar na França deixando a garçonete sem saber se a sua taça estava meio cheia ou meio vazia de vinho doce. Nesse momento meu espírito voa longe, para uma certa juventude emocional que insisto em não perder para não cair no esgoto das pessoas vis. Essas crises de tosse alertam apenas que estou fumando, fumando muito, além do razoável e que o sofrimento, os estertores podem estar vindo à galope.

Observo então a vida sob novo ângulo, deixando de lado idiossincrasias, batalhas e personagens literários. Estou nu naquele sofá diante de um analista que se esforçar para salvar minha alma carregada, pesada, sufocada por tantos senões. Isso que chamam vida, eu chamo purgatório. Não há nenhuma depressão, nada patológico e sim, como já disse aqui, o que existe é alguma coisa filosófica como a mão (verme) descrita em A Náusea de Sartre. Percebo que meu desentendimento não é exatamente comigo, como parece, mas com o mundo a as situações escrotas desse mundo. Como num jogo de tênis quando dou uma raquetada numa bola normal e recebo – da raquetada do outro – uma bola de gosma. E assim termino não sabendo se quem sofre é meu cérebro ou o meu estômago – com essa quase eterna vontade de vomitar. Ou ainda se é tristeza pura por todos os outros mendigos esfarrapados que se arrastam em roupas caras e corredores assépticos. Não sei a verdade. Se soubesse tentaria mudá-la, sei apenas que existe um descompasso e eu entre uma determinada forma de vida.

Ainda não morri

A falta de tempo não tem me permitido voltar aqui com a freqüência que fazia antes. Recebo e.mails dos meus três leitores “cobrando” minha ausência e só posso pedir desculpas. A preparação de um produto áudio-visual que pretendo seja diferente do comum me encarcera dentro de uma ilha de edição, além de outros mil e poucos probleminhas que me aparecem diariamente e tento administrar (já que não administro, nem nunca consegui administrar minha própria vida). Mas acredito que tudo isso seja um processo passageiro, que em algum momento, as coisas entrem nos trilhos e me sobre algum tempo para mim mesmo. Hoje o que há é pouco tempo para comer, quase nenhum para dormir ( até porque minha cabeça não pára mesmo na cama) e todas essas coisas da vida. Vai melhorar. Acredito e torço para que melhore, para que eu conseguiga voltar em breve a me desconstruir diariamente nesse espaço aqui. Mas a vida é cheia de momentos com pequenas e enormes armadilhas. Perseguir ética e estética que serão analisadas por milhões de pessoas também me empurra em direção a um despenhadeiro existencial e de trabalho braçal. Diga-se: 90% desse trabalho braçal e 10% – ou um pouco mais (destruindo a regra dos 100%) – fazem de mim hoje eu dia um não-eu, um ser estranho, marciano talvez, que vagueia entre fitas com gravação de imagens, textos e 850 pessoas perguntando um milhão de coisas, como seu eu, por acaso soubesse. Mas vai passar (ou melhorar)


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"A descoberta do Prozac criou um universo de eunucos felizes"

"É-nos impossível saber com segurança se Deus existe ou não existe. Por isso, só nos resta apostar. Se apostarmos que Deus não existe e ele existir, adeus vida eterna, Alô, danação! Se apostarmos que Deus existe e ele não existir, não faz a menor diferença, ficamos num zero a zero metafísico" Albert Camus

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""Deve-se ler pouco e reler muito. Há uns poucos livros totais, três ou quatro, que nos salvam ou que nos perdem. É preciso relê-los, sempre e sempre, com obtusa pertinácia. E, no entanto, o leitor se desgasta, se esvai, em milhares de livros mais áridos do que três desertos."
Nelson Rodrigues

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