à propósito do personagem de um livro que li recentemente e comentei aqui, um homem que escrevia uma enciclopédia infinita, penso no ato de escrever nesse sítio. ora, é espantoso que eu venha aqui sempre, escreva meia dúzia de bobagens e, no dia seguinte, apresente-se a mim essa mesma página em branco virtual, como a pedir que eu escreva mais (ou não). escrever um blog ou esse tipo de coisa que ainda não foi estudada à sério mostra-se uma tarefa hercúlea, digo, sísifica. o escrevinhador de blogs perde a noção da tarefa a que se propôs. muito pior que Sísifo! páginas virtuais em branco sempre, eternamente, páginas que cobram, que denunciam uma certa vagabundagem nossa… páginas que mostram que não nos completamos, que somos frágeis e absolutamente incompletos, não plenos, que falamos e dizemos tantas coisas que não valem de nada porquê não têm começo, meio e fim! não existe ponto final…o ponto final foi abolido nessas novas tecnologias! ainda que um autor escreva um livro de duas mil páginas e o publique, esse texto continuará em seu HD e poderá ser continuado sempre, eternamente. podemos passar todos os nossos dias escrevendo aqui sem parar e continuaremos em eterna falta com quem nos lê, com quem se dispõe a tentar entender quem somos porque somos movimento, somos uma falsa passagem de tempo, um espelho que se posiciona à cada instante num lugar diferente… só isso… não conseguimos ser mais, eu, principalmente, não consigo concluir pensamentos, como não consigo terminar filmes nem dar por encerradas as minhas leituras… este espaço é a prova cabal da infinitude da vida… a vida é infinita, não é o amor, meu caro poeta… a vida é que é infinita enquanto dura.
e diante disso, o que sou eu? um pequeno deus que escreve reto num espaço sem linhas, um escravo metafísico condenado a escrever eternamente, a contar, a se explicar, a se desdizer, a voltar atrás ou saltar à frente desconsiderando regras elementares do cotidiano como um memorialista louco que se dispôs a revelar memórias e descobriu que elas não existem como tal, que memória é o ato de respirar e que só o término da respiração impedirá a geração de novos fatos, fatos medíocres, que seja, para serem contados. bom, já caí mesmo nessa areia movediça onde não há retorno possível… continuarei a reler A Caixa Preta de Amoz Oz, livro que comprei essa semana, esquecendo-me que outro exemplar descansava na minha estante lido nem há tanto tempo assim…
Disseram