A revolta do niilismo – O equívoco de Sartre: O inferno somos nós

O sorriso fácil pode mostrar o equívoco que provocamos no outro quando este pensa que estamos felizes ou tranqüilos. Nada mais errado. O sorriso fácil é mais uma das mil e uma máscaras que utilizamos no dia a dia para tornar possível nossa relação com o mundo. Esta relação se traduz numa enorme quantidade de signos que vamos usando (muitas vezes criando) de forma a buscar uma compreensão mínima do que esperamos uns dos outros. O que é outra mentira. Não esperamos nada uns dos outros, não esperamos nada de nenhuma pessoa e quando esperamos (muitas vezes) algo, trata-se de uma explosão emocional descontrolada onde busca-se o céu ou o inferno no próximo ( ver “O inferno são os outros” – Sartre).

Essa fragilidade ontológica em Jean-Paul traduz o limite do pensamento humano mesmo na área filosófica onde ainda conseguimos fazer vôos um pouco mais altos.  Não adianta a filosofia de per-si não havendo uma perceção bem mais “rasteira” que é a aplicação pura e simples de conclusões que contaram com recursos intelectauis que fogem à nós mortais.

Relações de trabalho, de companheirismo, coleguismo, amizade e amor são tão somente a representação de uma idealização inconsciente de uma espécie de mundo melhor (se me entendem), um mundo onde sofreríamos menor violência, agressividade e dor. Ou seja: uma fantasia, uma inverdade. Da mesma forma buscamos conforto espiritual numa série de crendices tolas que convencionamos chamar de religiões. A religião também é mais ou menos isso, mais ou menos uma forma de garantirmos algum apoio, alguma promessa metafísica que nos garanta o que não conquistarmos na existência terrena. Pois não temos nem garantias na existência terrena nem (muito menos!) na metafísica. Sartre se equivoca quando diz “O inferno são os outros”… deveria ter esperado mais e percebido que é mais correto afirmar sem medo de errar que “o inferno é a vida” o que podemos traduzir como “O inferno somos nós”.

 

1 Resposta to “A revolta do niilismo – O equívoco de Sartre: O inferno somos nós”


  1. 1 Jonas 25/05/2009 às 19:00

    … Continuo com Sartre, todavia.
    Quando ele diz que o inferno são os outros, está implicitamente a falar da nossa problemática relação com nós mesmos perante a alteridade sempre complexa e indecifrável à priori. E essa alteridade não se manifesta só no ‘outro’ – digamos assim – físico, mas no ‘outro’ também tempo, espaço, pensamento, vida; em suma: as agressividades normais a que o intelecto está sujeito.
    Nós mesmo, feitos outros de nós, como p.e. em Fernando Pessoa.
    Como dizia um amigo muito velho, a nossa vida é que é a verdadeira metafísica, constituída por sonhos, esperas, fé, esperanças, sonhos, virtualidades, medos: essa química imensa…
    E juntar nessa imensa química mais as imensas químicas de milhões de outros é que resulta complicado, na hora do encontro, do confronto, melhor dizendo. Ou seja, resulta sempre o inferno, sobretudo para aqueles que querem viver em autenticidade, mesmo no inferno…
    Nós apenas somos o inferno quando a Psiquiatria tem uma palavra a dizer sobre o nosso caso; fora disso, o inferno são os outros, como dizia o velhote!
    ;)
    Cariños,
    Jonas


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