Muitas vezes me pergunto que caminho estou realmente trilhando. Tenho várias respostas pra isso, mas não me satisfazem, não estou de acordo com um determinado ineditismo que sinto em meu espírito, uma coisa nova, dessas que a gente vai sentindo quando chega numa cidade desconhecida. Li em algum lugar sobre o prazer de chegar a uma cidade desconhecida. Eu não sinto nada disso, prazer algum. Prefito mil vezes saber que se eu andar um pouco vou ver os Arcos da Lapa e se andar mais ainda verei o parque do Flamengo com sua água poluída sim, mas de uma beleza incomensurável no conjunto da obra. E o que vale é o conjunto da obra.
Faço a mesma pergunta a mim mesmo: eu sou o que sou nas coisas pequenas, nos atos e atitudes cotodianos ou sou um conjunto de obra, ou seja, só posso me analisar e me perceber como um todo, um conjunto de fios invisíveis que se trançam, mas têm lógica e redundam no produto EU, essa coisa tão indivisível, tão complexa que não só, muito amiúde, os outros não entendem como eu, ao me observar no espelho para fazer a barba, também não entendo?
Mas as coias me incomodam, me grilam, me deixam com raiva como agora que saiu o último livro do Philip Roth e a crítica mete o pau. Eu vou comprar e ler e sei que vou gostar porque, ao lado de John Updick e Saul Bellow, Roth é o melhor escritor americano do momento. Não entendo muito como Roth ainda não ganhou o Nobel de Literatura (deve ser cheio de jogadas e interesses, essa história de Nobel – pronuncia-se Nobél com agudo no E). Então essa critica me irrita. Pode até ser que o livro não seja o melhor dele, mas crítico brasileiro é muito chinfrim, é incapaz de escrever uma linha e fica metendo o pau nos outros, mesmo em pesos-pesados como Roth (José Castelo não está nessa lista, é um excelente crítico). Eu só sei que essa história é boba, chata e não se sustenta.
Aliás, essa história de sustentação é engraçada porque ela me disse que eu escrevo minhas paranóias e preparo toda a sustentação, a argumentação para elas. Fiquei pensando nisso um pouco e concluí que ela tem razão. Eu falo as coisas e faço a tese que poderá sustentar o que eu digo. Deve ser, com certeza, insegurança minha. Imagino que aconteça o seguinte na minha cabeça: se eu não estou dizendo o óbvio, dizendo sim alguma coisa que vai de encontro ao estabelecido, essa coisa vai ser qüestionada e tal e então já faço logo minha defesa, a sustentação do que eu disse. Deve ser isso. Resta saber se eu estou dizendo coisas minimamente coerentes ou não. Eu até acho que não, que não são coerentes, mas que podem ser idéias diferentes.
Ter idéias diferentes não é pecado, não é para ‘aparecer’, é simplesmente, deixar a cabeça voar, deixar outros pensamentos entrarem, ou propostas que vão de encontro ao já estabelecido, que mexem com a cabeça de gente, nos fazem pensar e tal. Mesmo que seja uma bobagem. Me perguntaram se eu não canso de ficar pensando em coisas diferentes, ‘remando contra a maré’. Não, não canso. Me canso é de ficar assistindo tudo na galeria, como se eu estivesse no mundo à passeio. Não estou. Verdade.
Não quero também ser diferente nem polêmico, não é isso, eu quero poder pensar, entender as coisas como elas se dão e como as pessoas chegam a conclusões que viram ‘cláusulas pétreas’, tipo é porque é. Eu não acho. Não acredito em nada que tenha a explicação do ‘é por que é’. Essa resposta sempre me deixa ansioso em estudar aquela história e pensar à partir de um ponto contrário a ela. E se não fosse assim, se fosse o contrário? Daí vou pensando (e muitas vezes me convencendo) e acabo eu sozinho com aquela argumentação toda, com aquela ‘nova verdade’ no meu colo, como se fosse uma bomba prestes a explodir. O que eu faço? Jogo a bomba longe, em direção a todas as pessoas de forma a que elas também tenham que pensar. Pode ser isso. Pode não ser.
Disseram que é uma simples mania minha. É possível, não nego. Posso ser uma pessoa meio do contra e atribuo isso a uma série imensa de experiências que tive ao longo da vida, experiência agradabilíssimas e experiências terríveis, daquelas que dá vontade da gente saltar do mundo. Acho que sou feito de todas essas partes, de todas essas possibilidades. Eu hoje tenho certeza de que não sou um monolito sólido como o do filme 2001. Não. Sou maleável e blá. Briguento muitas vezes, mas sempre pronto a voltar atrás no que eu disse, repensar as coisas e, se for o caso, pedir desculpas (que raramente são aceitas, mas aí já é uma outra história).
De vez em quando sinto necessidade de fazer uma auto-crítica e explicar mais ou menos como as coisas se dão em mim, porquê chego a determinadas conclusões e porquê é desesperador ter sempre gente do contra, gente esperando eu falar pra criticar
Disseram